Olá, esse blog foi aposentado e as novidades estão todas em: http://giancarlorufatto.tumblr.com

:)

duas coisas

Coisa 1: o Tumblr do meu disco "cancioneiro". Ali é possível ouvir o disco e todos os outros projetos que eu já coloquei os dedos - além de fotos, textos, etc. o endereço é http://giancarlorufatto.tumblr.com, só clicar na imagem abaixo.


coisa 2: O deezer incluiu "Cancioneiro" entre as indicações semanais do site de streaming. estou ali junto da Ariana Grande (!) e da Lurdez da Luz. O legal disso é que leva o disco pra fora da esfera indie que eu passeio. 





Giancarlo Rufatto – Cancioneiro (2014)

 Giancarlo Rufatto - Cancioneiro (2014)
clique na capa para baixar o álbum gratuitamente 


O paranaense Giancarlo Rufatto começou gravar suas canções há mais ou menos 10 anos. Após um disco e um EP gravados sob o codinome “Lo-fi Dreams”, aventurou-se por bandas de Curitiba que não deram muito certo (Móbiles) e bandas que deram certo demais (Hotel Avenida), mas que duraram pouco. Entre 2008 e 2012, Giancarlo lançou três álbuns (“14 canções”, “Machismo”, “a vida secreta das referências”), alguns Eps que se situavam dentro do folk lo-fi e uma dezena de singles com versões improváveis que iam de Roxette à Roberta Miranda. Em 2012, o cantor participou do tributo “Jeito Felindie”, projeto de artistas independentes em homenagem à banda de pagode Raça Negra que teve grande sucesso de público. Em 2014, Rufatto lança “cancioneiro”, seu 4º álbum.




Sobre o álbum

Quando comecei reunir canções para este disco escolhi as que tivessem personagens de carne e osso e, se possível, arranjos um pouco mais decentes do que nos discos que já gravei. A maioria das letras destas músicas foram rascunhadas nos últimos cinco anos. Algumas histórias vieram de coisas que via no caminho do trabalho e viravam frases soltas no Twitter antes de irem para as canções.
No começo de 2013 minha filha tinha acabado de nascer e a melhor coisa a se fazer era pisar no freio só um pouquinho e respirar. Creio que isso aconteça a todos os sujeitos que se tornam pais (ou pelo menos com aqueles que romanceiam a própria vida) e caem numa espiral de lembranças da própria infância, talvez atrás de referências sobre como é ser pai. Enfim, só voltei pensar em escrever um novo disco no natal, quando decidimos mudar de cidade, dar um “até logo” à Curitiba e um olá à São Bernardo e São Paulo.

Entre o natal e o ano novo surgiram as primeiras canções vindas das sessões da nostalgia - “Enseada” e “Alfredo”, divulgadas no começo de 2014 e que deram um norte pra este álbum. Resgatei três canções que não combinaram com trabalhos anteriores. “Ele”, do Ep lançado pelo site Scream&Yell numa brincadeira com Record store day; “dance, dance, dance”, uma canção “tipo bruce springsteen” que ficou na gaveta por uns bons 5 anos e “luzes da páscoa”, escrita em 2010 que havia ficado de fora do álbum “Machismo” e acabou integrando o set list dos shows da finada Hotel Avenida.


Após todos esses anos brincando de ser um artista prolixo fez bem ficar um tempo sem tocar violão. Este álbum é totalmente influenciado pela experiência de gravar enquanto um bebê dorme no quarto ao lado, você acaba procurando usar o máximo de instrumentos que possam ser gravados no “mute”. Moral da historia: o principal instrumento de trabalho foi um Ipad, Todos os teclados e ruídos saíram dele o que modificou a sonoridade deste disco, me mandou pra longe do folk. O legal de ser um “artista solo” que ninguém conhece é que você não precisa ser fiel à um estilo. O lado ruim é que não dá pra usar uma camiseta com o seu nome escrito nela.


Minha única duvida sobre este álbum era sobre como chamar este novo registro, “Cancioneiro” ou “Gospel”? Se você está ouvindo este disco talvez saiba que um dos meus trabalhos anteriores se chama “Machismo” e então, morria de medo de ser mal compreendido por chamar um disco de “gospel” e cair num nicho que costuma não entender piadas. Mas eu queria que este trabalho tivesse uma sombra religiosa, mas no sentido esperançoso da coisa. Então, não é por acaso que este disco com uma canção dizendo que o mundo não é bom e fecha com outra dizendo que mesmo assim é preciso ser.


Links de download:


http://giancarlorufatto.tumblr.com

http://giancarlorufatto.blogspot.com
https://soundcloud.com/giancarlorufatto
https://www.facebook.com/avidasecretadasreferencias
https://onerpm.com.br/#/Giancarlorufatto
http://twitter.com/rufatto


Também disponível nas plataformas de música em streaming.


 Cancioneiro - Encarte virtual
encarte virtual

novo disco quase chegando

Agora já dá pra ouvir meus discos no Rdio, no Deezer e logo logo no spotify. A partir de terça, 26, o álbum cancioneiro estará disponível nas sites de streaming.
o Endereço no Rdio: https://www.rdio.com/artist/Giancarlo_Rufatto/
no Deezer: http://www.deezer.com/artist/6138276
e há também o site mais ou menos oficial pra downloads e tal: http://giancarlorufatto.tumblr.com


10 canções sobre a vida de Jeff Buckley

Escrevi este texto para o Mondobacana há milhões de anos (2007, 2008, por ai) e ressuscitei para este dia.

Em maio de 2007, completou-se uma década que Jeff Buckley saía para nadar no Rio Mississipi – quando começaria a gravar o segundo álbum oficial da carreira, que se chamaria My Sweetheart The Drunk - e nunca mais voltaria. Desde então, o culto só tem crescido alimentado por discos póstumos. Há poucas semanas foi lançada (lá fora, apenas)So Real: Songs From Jeff Buckley, uma compilação com o que de melhor ele gravou enquanto vivia. A lista abaixo não é das melhores canções ou das mais importantes. Essas dez canções sequer são de autoria dele, mas dizem muito sobre quem era o cantor Jeff Buckley, dono de uma pequena obra, mas na qual cada canção guarda uma historia e fala por si. 
10) “I Never Asked To Be Your Mountain”
Jeff sempre evitou falar de Tim Buckley com intimidade, raramente se referia a ele como pai. Chegou a dizer em uma entrevista que não conseguia tecer opinião sobre alguém que conheceu em uma semana na vida. Como reflexo do distanciamento, Jeff nunca gravou nada de seu pai oficialmente. No inicio da carreira musical quando ainda era o guitarrista de uma banda obscura, evitava cantar para fugir das comparações obvias. Foi assim até aceitar interpretar essa canção em um show-tributo a Tim. Foi a partir dessa canção que jeff começou a pensar em se lançar como cantor. Vale lembrar que Tim Buckley morreu com 29 anos de idade, de overdose; Jeff aos 30, afogado [sem qualquer vestígio de drogas ou outras substâncias na corrente sanguínea, embora no dia anterior fora diagnosticado com transtorno bipolar de humor]. 
9) "Je N'en Connais Pas Le Fin”
É difícil imaginar disco mais perdido no mundo do que Live At Sin-é, de 1993. Um pequeno EP de quatro faixas, duas delas covers, foi lançado no final do ano, logo após Jeff ser contratado pela grande gravadora Columbia (hoje Sony BMG). Jeff sempre teve mais afinidade com divas do jazz do que com astros do rock. Em 1994, com Kurt Cobain se matando e o tacho do grunge sendo raspado, Jeff Buckley gravavaGrace (produzido por Andy Wallace, o cara que mixou Nevermind), seu único álbum de carreira. "Je N'en Connais Pas Le Fin” é uma daquelas canções que Edith Piaf eternizou. 
8) “Beneath The Southern Cross”
Patti Smith estava há mais de 15 anos sem gravar. Praticamente desde que encontrou o amor nos braços de Fred “Sonic” Smith, lendário guitarrista, do MC5 não precisou de mais nada para expressar seu amor. Mas em 1994, com a morte de Fred (e logo após de um irmão dela), no ano seguinte Patti voltava a gravar. O álbum Gone Again foi lançado em 1996 e traz Jeff Buckley fazendo vozes, tocando guitarras e instrumentos indianos. Jeff viria morrer no ano seguinte, 1997. 
7) “Song To The Siren”
Uma canção obscura de Tim Buckley. Uma das mais belas gravações do Cocteau Twins e do This Mortal Coil. É uma das poucas canções de Tim que Jeff tocou pelos pubs, talvez mais pelo relacionamento que tinha com Liz Fraser, ex-vocalista do Cocteau, do que pela ligação paterna. Além de “Song To The Siren” e “Once I Was”, covers de “Sefronia” e “Sing A Song For You” estão entre as canções de Tim que é possível encontrar pela internet. 
6) “All Flowers In Time Bend Towards The Sun”
Os relacionamentos de Jeff Buckley sempre foram especulados pelos fãs após sua morte. De concreto mesmo, apenas Rebecca Moore e Liz Fraser. Com Liz ele gravou “All Flowers...”, que até hoje não sei se foi lançado em algum disco da cantora. Ele fez outros também covers do Cocteau Twins, mas eles nunca foram lançados em discos oficiais. 
5. “Sweet Thing”
Van Morrison poderia ter pedido a guarda de Jeff Buckley quando este ainda era uma criança. Jeff nunca escondeu o fato de que se sentia particularmente ligado mais à carreira de Morrison que a do pai. As versões de “Sweet Thing” e “The Way Young Lovers Do” que estão em Live At Sin-é comprovam que Jeff se sentia a vontade nas canções do velho irlandês ranzinza. 
4) “Be Your Husband”
Se Van Morrison seria o pai, Nina Simone pode muito bem ser a mãe. “Lilac Wine”, maravilhosa canção de Grace era do repertorio de Simone. Nina, Dylan, Morrison, Piaf e Nusrat Fateh Ali Khan (a quem Jeff se refere como “meu Elvis” em Live At Sin-é) são os artistas mais influentes na carreira do cantor, que também re-gravou, entre outros, Billie Holliday e Miles Davis. Há uma versão obscura de “Be Your Husband” rolando pela internet que nunca foi lançada, basicamente levada na marcação de compasso e de gaita de boca. 
3) “I Shall Be Released”
Não apenas esta, mas também “Farewell Angelina”, “Lost Highway”, “Just Like A Woman”, “Mama You've Been On My Mind”, “If You See Her Say Hello”… A lista de covers de Bob Dylan é enorme. A influencia de Robert Allen Zimmermann nas letras de Jeff é tanta que Grace foi encarado como um livro de poesias musicadas por alguns críticos. Você pode achar na internet uma versão de “I Shall Be Released” gravada de um programa de radio, onde músicos no estúdio da estação tocam o clássico de Dylan e The Band enquanto Jeff canta (e toca gaita) pelo telefone. Esta versão nunca foi oficialmente lançada. Uma pena. 
2) “Hallelujah”
No começo da carreira, Leornard Cohen competia diretamente com Bob Dylan pelo posto de bardo judeu da América. “Hallelujah” está emGrace e é possivelmente a canção mais conhecida na voz de Jeff Buckley. Também já esteve em trilhas de vários filmes (toca inteira em uma cena de Edukators). Alem das gravações de Jeff e de Cohen, há também o registro mais atual de Rufus Wainwright (incluída trilha sonora de Shrek 2) e a versão da qual todo mundo roubou o instrumental, de John Cale. Jeff admitiu que pegou “emprestado” de Cale. 
1) “I Know It’s Over”
Jeff Buckley personifica o homem cantado por Morrissey nesta que é uma das belas e tristes canções dos Smiths. O relacionamento de altos e baixos com a mãe Mary Guibert, a beleza do cantor (que em 1995 ocupou o 12° lugar na lista das 50 pessoas mais bonitas organizada pela revista People) e a solidão refletida nas suas canções reforçam as frases de uma suposta conversa entre mãe e filho – como o verso “Se você é tão bonito, porque está sozinho está noite?”. O cover de “I Know It’s Over foi lançado somente neste ano, em So Real: Songs From Jeff Buckley, canção que fecha o disco que relembra os dez anos de sua morte. Triste constatação sem dramas maiores. Apenas “eu sei, é o fim”. 

P.S.: O outro lado de Jeff Buckley
Quem ouve as canções de Jeff Buckley pode acabar acreditando que o bardo era uma pessoa solitária e triste. Basta uma olhada nos vídeos, na divertida apresentação de Live At Sin-é ou mesmo nos discos piratas ao vivo que circulam pela internet, contudo, para constatar que existiam dois Jeff Buckleys. Existia o poeta que escrevia canções como “Lover, You Should've Come Over” e “The Sky Is A Landfill”. Mas havia também o artista espirituoso e divertido nos palcos, que conseguia cantar “Last Goodbye” e “Ace Of Spades” (clássico do Motorhead) em um mesmo show. Jeff ainda fazia piadas sobre musica e cultura pop, imitava cantores e cantoras de forma bizarra e fazia todo mundo rir junto, para logo depois tocar “Grace” canção que fala sobre amor, morte e vida eterna.


Cancioneiro



3º single do álbum "cancioneiro" que deve ser lançado no segundo semestre de 2014.


Cancioneiro
Prevejo o futuro passando o café / Imitando a batida com a ponta dos pés /  Girando botão até encontrar / Um verso no rádio sobre eu e você / Melhor gritar / qualquer coisa é melhor que o silencio /  Até as canções que ninguém ouviu / Canções que agora ecoam dentro de um quarto vazio /  Todo esse tempo deitado no banco de trás / Sonhando com o espirito no rádio / Apenas lamentando o fim, do fim, do fim, do fim / Até que acabe a nossa lista de refrões / E seja tarde, tarde / Pra quem viveu ontem, hoje é sempre a pior das datas / Melhor gritar / Qualquer coisa é melhor que o silêncio / Até as canções que ninguém ouviu / Canções que agora ecoam dentro de um quarto vazio /

O Homem Morto / Poucas e Pequenas Coisas




“o Homem Morto / Poucas e Pequenas Coisas ” é o 2º single de um álbum que estou escrevendo sobre gente comum. Eu sempre tentei fazer um disco chamado “Cancioneiro”que fosse inspirado nas figuras do cancioneiro popular, como “Chico Mineiro” e a Rosa de “Depois que a Rosa se foi” e coisas como “Alucinação” do Belchior ou “the Darkness of the Edge of the Town”. Até gravei alguns volumes do “cancioneiro” que viraram pequenos eps e tal, mas eram focados em relacionamentos amorosos e este não é, este é basicamente sobre pessoas tentando sobreviver.

No 1° single, lançado mês passado, as canções eram sobre envelhecer (“Enseada”) e sobre um homem atropelado no transito (“alfredo”). As canções incluídas neste single seguem a história. “O Homem Morto” é um gospel sobre as distorções que as pessoas fazem da religião para se sentirem em paz. “Poucas e pequenas coisas” é a única canção de amor do próximo disco, uma canção sobre ser pai.

as duas canções podem ser baixado neste link. No soundcloud está apenas "o homem morto".

      Cancioneiro (2014)
  • Enseada 
  • Dance, dance, dance 
  • Alfredo 
  • O homem morto 
  • Uma casa, não um lar (cuja versão acústica pode ser ouvida no vídeo no fim do post) 
  • Eu sei, eu tive de mudar 
  • Poucas e pequenas coisas 
  • So é preciso ser bom 
  • Um provérbio chinês escrito em um cartão postal enviado por alguém que viveu esperando a hora de deitar 
  • Ele

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No fim, só é preciso ser bom

Não se engane com o texto / que transforma todos os meninos em homens de respeito / feito um jesus eternamente preso num lindo uniforme de escoteiro / no fim, só é preciso ser bom / Nem sempre importa ter dinheiro / quando os bolsos cheios só te afundam mais ligeiro / na hora H prestamos conta sobre o que guardamos dentro de uma caixa de sapatos ou do coração? / no fim, só é preciso ser bom / Não faça pouco do medo / da menor sombra de perder o brinquedo que quebrou / dos olhos do homem que toda noite abre a caixa do correio / em busca de noticias da criança que a vida sequestrou / de quem restou remediar / de quem no fim, ainda precisa ser bom /
Meu bem, preciso de um cigarro e de um casaco longo pro inverno e de alguém q não desista antes de me conhecer. Aceitaria amor e felicidade - ou apenas amor com algumas facilidades - mas me contento com um bar que fique aberto até as seis. - Tanto, tanto e tão pouco é sobre eu e você. Tudo o que eu preciso cabe sobre este colchão e no momento me contento em sobreviver - e desviar das placas que dizem “está tudo errado – está tudo bem” como se fosse fácil, como se fosse A+B. Tanto, tanto e tão pouco é sobre eu e você. Meu bem, preciso de um cigarro e de outras coisas que só poderia pedir a você, mas fique bem onde está – eu me contento em saber - e no final tenho até mais do que costuma sobrar. mesmo que seja tão pouco, mesmo que seja tão pouco, é sobre eu e você.

canção "perdida" da finada Hotel Avenida, reza a lenda que a banda acabou as vésperas de gravar essa música.

uma casa, não um lar

“uma casa, não um lar” Participei do projeto itinerante “Porta Música” do produtor carioca Clower Curtis e gravamos um videozinho acústico para uma música nova – “uma casa, não um lar” que fará parte de um disco novo, num futuro próximo. O titulo desta música foi roubado de um hit da Dionne Warwick “this house its not a home” e a letra fala sobre a dureza da cidade grande e faz parte de uma historia sobre o que acontece quando sonhos não dão certo e que estou tentando transformar em disco. Então, se você ouvir o EP gravado para o Record store Day de 2013 pode ligar os pontos entre “para-raios”, “uma casa não um lar” e “ele”.


Uma casa, não um lar Giancarlo Rufatto from Porta-Música on Vimeo.

LP

01 A faca em suas mãos é o que restou por esperar / pela sorte que não vem – sorte que insiste em andar / de mãos dadas com outro alguém / a casa é o seu chão e um colchão pra dormir e rimar / e disfarçar o vazio entre as cores que descascam e desbotam nas paredes / deste quarto de pensão / neste quarto de pensão que dividido com outros seis / pára-raios de gente louca / Nada em suas mãos / só uma bolsa à carregar / cheia de trapos pra vestir se um dia precisar, precisar / se um dia precisar correr / se um dia precisar fugir dos olhos da verdade / – certa vez ela entrou pela porta e ninguém viu / era o ultimo instante em que a sorte sorriu / neste quarto de pensão que eu divido com outros seis / pára-raios de gente louca. 02 a vida se empilha como a louça suja na cozinha / de uma casa vazia que há muito não é um lar / em um bairro, uma rua , um nome, um homem qualquer / Alfredo, a paz te encontrou / vivendo no motor de um carro / Atrás de um vidro fechado, roncando no sinal / um amor e um martelo / uma lista com coisas pra consertar / e uma placa escrito “tenho cinco bocas pra alimentar" / sob os telhados da cidade que cresceu / feito uma bolha em suas mãos / só restou a verdade prestes à lhe abandonar / Alfredo, a paz te encontrou vivendo no motor de um carro / furando um sinal fechado / Alfredo, a paz te encontrou Atrás de um vidro fechado / roncando no sinal fechado, de estomago vazio. 03 tão novo à ponto de saber de tudo / tão triste como só os jovens podem ser / o velho que ostenta na barba o peso de tudo / que a felicidade exige de quem / sobrevive sem a culpa de não conseguir se apaixonar / nem desejar um bom dia à quem se quer bem / Tão solidário com quem reparte o seu horror / até torna-lo invisível ao bom moço / e mera parte do reboco que cobre o mundo / onde hoje dorme um homem morto / que morreu pra te livrar da dor maior / e do esforço que é ter de sorrir / o tempo todo / Quem sobrevive com a culpa de não conseguir se apaixonar / nem desejar um bom dia a quem se quer bem? Há quem consiga. 04 Nós dobramos a esquina, nós prometemos não voltar / Homem o bastante para não sentir e na inércia continuar / se escondendo em lugares onde Deus não costuma visitar / todo dia o sol levanta / te obriga encarar o próprio rosto / sair em busca de alguém que ainda virá / Até ter certeza, até que ninguém venha, até que seja a hora de voltar / os jornais estão cheios de anúncios sobre como o mundo é lindo e ainda há tempo pra sonhar / feitos pra quem o mundo sempre foi tão feio e sujo e o tempo há muito deixou de contar / quando nenhuma cama é mais quente que a rua/ e uma casa é só uma caixa, é só um abrigo e nunca um lar / fugir, fugir não nos salva do terror de sermos nós mesmos / apenas mudamos o endereço onde o medo pode sempre nos encontrar 05 Meu bem, eu já me aposentei / agora me sinto num eterno pijama de domingo / enfim, podemos cancelar nossas promessas / feitas no calor do momento / em que a música tocou e nos congelou antes do 1º beijo / antes que pudéssemos nos descobrir / que o mundo não é bom / com quem não quer vencer sem sujar as mãos / Meu bem, eu já me aposentei e agora vivo numa cadeira / dentro de um coração partido / de frente para o mar / esperando meu avô voltar com um balde de iscas e historias pra contar / sobre este chão que me viu crescer / e descobrir que o mundo não sabe brincar / com quem não quer vencer sem sujar as mãos bem antes que pudéssemos nos descobrir / Descobrimos que o mundo não é bom / com quem não quer vencer sem sujar as mãos 06 Invente um provérbio chinês pra te fazer melhor / rir das coisas que nunca terão conserto / e imaginar que viver é o tempo que leva pra aceitar que são muitos os nossos defeitos / e a delicia que é contar cada ruga que nos fará melhores do que ontem, do que hoje / e assim por diante até não sobrar nenhuma mentira em nenhum cartão postal / enviado por alguém que viveu tempo demais desejando a hora de se deitar / um provérbio chinês escrito em um cartão postal assinado por alguém / que viveu tempo demais desejando a hora de se deitar  07 Pouco, a gente tem e mal serve pra comprar uma casinha de brinquedo, o café e o pão / está tudo bem – nunca iremos precisar de tudo que conseguimos acumular / só de poucas e pequenas coisas pra te proteger do que faz mal / a vida requer um prazo longo e algum tempo pra calcular, dividir nosso cansaço / em suaves prestações à se perder de vista, e desligar o gerador de frases que não devem ser ditas por ninguém / guardo poucas e pequenas coisas pra te proteger do que faz mal / e tudo o que guardamos veste a roupa da lembrança e se fantasia para sonhar / com o dia em que tudo a nossa volta finalmente encontra, simplesmente encontra o seu lugar / entre as poucas e pequenas coisas pra te proteger do que faz mal / guardo poucas e pequenas coisas pra te proteger do que faz mal. 08 Solte do meu braço, mostre algum amor / silencio, o mais escuro olhar, a solidão em quem ficou / em quem ainda se pode encontrar / acorde, seja mais um sorriso meu / acorde, não é a sua vez de brincar / Eu te amo, te alivio desse mal / Acorde, não me deixe só, esta manhã / Não consigo sentir se você ainda está aqui / já não importa, não vou deixar você fugir / Não quero que pensem, não foi falta de atenção / se eu deixei você sair / mas se eu soubesse, não soltaria da tua mão / e bem, agora é tarde / Acorde, seja mais um sorriso meu / Acorde, não é a sua vez de brincar / Eu te amo, te alivio desse mal. 09 Eu sei, eu tive de mudar / medir distancia dos lamentos / da pouca sorte / o pouco tempo / e do azar de não ser mais / tão moço à ponto de poder / recomeçar. / Eu sei, eu tive de mudar / e agora aquele ali sou eu / indo bater na sua porta / na casa onde você não está / e só encontrando a solidão / só que outro ladrão não quis levar / Eu sei, eu tive de mudar / agora eu digo o que aprendi / e o quanto andei até enxugar o gelo e perceber / que não sou eu e sim você / ninguém sabe onde o coração está / então finja me ouvir e me deixe descansar / pois ainda preciso descobrir / onde dizem foi morar / a força de quem pouco tem / ainda preciso descobrir / como curamos desse mal / deste pensar e repensar / sobre toda mão que se estende, duvidar. 10 Ele está do seu lado / como um café bem amargo / e nos pés da sua cama feito um gato velho e cansado dos dizeres / que você aprendeu a desejar o melhor / mas não muito melhor / só um pouco melhor do que eu / Mais um verso sobre ir e vir e ter um pouco de tudo / ou estar velho demais pra levantar / pôr um sorriso no rosto / – hey, veste o pijama ou aceita o que é seu / Ele prefere o silêncio – e nós também / Arrisca que é certo / finja que aprendeu a desejar o melhor, mas não muito melhor / só um pouco melhor, um pouquinho melhor do que eu.

uma casa, não um lar

Nós dobramos a esquina, nós prometemos não voltar / Homem o bastante para não sentir e na inércia,  continuar / se escondendo em lugares onde Deus não costuma visitar / todo dia o sol levanta / te obriga encarar o próprio rosto no espelho / e sair em busca de alguém que ainda virá / Até ter certeza, até que ninguém venha, até que seja a hora de deitar / os jornais estão cheios de anúncios sobre como o mundo é lindo e ainda há tempo pra sonhar / feitos pra quem o mundo sempre foi tão feio e sujo e o tempo há muito deixou de contar / quando nenhuma cama é mais quente que a rua/ e uma casa é só uma caixa, é só um abrigo e nunca um lar / fugir, fugir não nos salva do terror de sermos nós mesmos / apenas mudamos o endereço onde o medo pode sempre nos encontrar

O homem morto



Tão novo à ponto de saber de tudo,
tão triste como só os jovens podem ser.
O velho que ostenta na barba 
o peso de tudo que a felicidade exige de quem
sobrevive sem a culpa de não conseguir se apaixonar
nem desejar um bom dia à quem se quer bem

Tão solidário com quem reparte o seu horror
até torna-lo invisivel ao bom moço
e mera parte do reboco que cobre o mundo
onde hoje dorme um homem morto
que morreu pra te livrar da dor maior
e do esforço que é ter de sorrir 
o tempo todo.

Quem sobrevive com a culpa de não conseguir se apaixonar,
nem desejar um bom dia a quem se quer bem?
Há quem consiga.
A vida é um cansaço que só sentimos quando estamos desocupados.

um provérbio chinês escrito em um cartão postal enviado por alguém que viveu desejando a hora de se deitar

Invente um provérbio chinês pra te fazer melhor / e rir das coisas que nunca terão conserto / e imaginar que viver é o tempo que leva pra aceitar que são muitos os nossos defeitos / e a delicia que é contar cada ruga que nos fará melhor do ontem, do que hoje / e assim por diante / até não sobrar nenhuma mentiras, nenhum cartão postal / enviado por alguém que viveu tempo de mais esperando a hora de voltar / um provérbio chinês escrito em um cartão postal assinado por alguém que viveu tempo de mais desejando a hora de se voltar

turn on

Se distancia dos que lamentam
a pouca sorte, o pouco tempo
e o azar de não ser mais tão moço - moço
à ponto de sempre poder recomeçar.


alfredo

a vida se empilha como a louça suja na cozinha / de uma casa vazia que há muito não é um lar / em um bairro, uma rua , um nome de um morto qualquer / Alfredo, a paz te encontrou vivendo no motor de um carro /  um amor e um martelo / uma lista com coisas pra consertar / e uma placa escrito “tenho cinco bocas pra alimentar" / sob os telhados da cidade que cresceu feito uma bolha, feito a falta de uma enxada em suas mãos / uma verdade prestes te atropelar / Alfredo, a paz te encontrou vivendo no motor de um carro / Atrás de um vidro fechado, roncando no sinal / Alfredo, a paz te encontrou escondido no motor de um carro / roncando no sinal fechado, de estomago vazio.