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10 canções sobre a vida de Jeff Buckley

Escrevi este texto para o Mondobacana há milhões de anos (2007, 2008, por ai) e ressuscitei para este dia.

Em maio de 2007, completou-se uma década que Jeff Buckley saía para nadar no Rio Mississipi – quando começaria a gravar o segundo álbum oficial da carreira, que se chamaria My Sweetheart The Drunk - e nunca mais voltaria. Desde então, o culto só tem crescido alimentado por discos póstumos. Há poucas semanas foi lançada (lá fora, apenas)So Real: Songs From Jeff Buckley, uma compilação com o que de melhor ele gravou enquanto vivia. A lista abaixo não é das melhores canções ou das mais importantes. Essas dez canções sequer são de autoria dele, mas dizem muito sobre quem era o cantor Jeff Buckley, dono de uma pequena obra, mas na qual cada canção guarda uma historia e fala por si. 
10) “I Never Asked To Be Your Mountain”
Jeff sempre evitou falar de Tim Buckley com intimidade, raramente se referia a ele como pai. Chegou a dizer em uma entrevista que não conseguia tecer opinião sobre alguém que conheceu em uma semana na vida. Como reflexo do distanciamento, Jeff nunca gravou nada de seu pai oficialmente. No inicio da carreira musical quando ainda era o guitarrista de uma banda obscura, evitava cantar para fugir das comparações obvias. Foi assim até aceitar interpretar essa canção em um show-tributo a Tim. Foi a partir dessa canção que jeff começou a pensar em se lançar como cantor. Vale lembrar que Tim Buckley morreu com 29 anos de idade, de overdose; Jeff aos 30, afogado [sem qualquer vestígio de drogas ou outras substâncias na corrente sanguínea, embora no dia anterior fora diagnosticado com transtorno bipolar de humor]. 
9) "Je N'en Connais Pas Le Fin”
É difícil imaginar disco mais perdido no mundo do que Live At Sin-é, de 1993. Um pequeno EP de quatro faixas, duas delas covers, foi lançado no final do ano, logo após Jeff ser contratado pela grande gravadora Columbia (hoje Sony BMG). Jeff sempre teve mais afinidade com divas do jazz do que com astros do rock. Em 1994, com Kurt Cobain se matando e o tacho do grunge sendo raspado, Jeff Buckley gravavaGrace (produzido por Andy Wallace, o cara que mixou Nevermind), seu único álbum de carreira. "Je N'en Connais Pas Le Fin” é uma daquelas canções que Edith Piaf eternizou. 
8) “Beneath The Southern Cross”
Patti Smith estava há mais de 15 anos sem gravar. Praticamente desde que encontrou o amor nos braços de Fred “Sonic” Smith, lendário guitarrista, do MC5 não precisou de mais nada para expressar seu amor. Mas em 1994, com a morte de Fred (e logo após de um irmão dela), no ano seguinte Patti voltava a gravar. O álbum Gone Again foi lançado em 1996 e traz Jeff Buckley fazendo vozes, tocando guitarras e instrumentos indianos. Jeff viria morrer no ano seguinte, 1997. 
7) “Song To The Siren”
Uma canção obscura de Tim Buckley. Uma das mais belas gravações do Cocteau Twins e do This Mortal Coil. É uma das poucas canções de Tim que Jeff tocou pelos pubs, talvez mais pelo relacionamento que tinha com Liz Fraser, ex-vocalista do Cocteau, do que pela ligação paterna. Além de “Song To The Siren” e “Once I Was”, covers de “Sefronia” e “Sing A Song For You” estão entre as canções de Tim que é possível encontrar pela internet. 
6) “All Flowers In Time Bend Towards The Sun”
Os relacionamentos de Jeff Buckley sempre foram especulados pelos fãs após sua morte. De concreto mesmo, apenas Rebecca Moore e Liz Fraser. Com Liz ele gravou “All Flowers...”, que até hoje não sei se foi lançado em algum disco da cantora. Ele fez outros também covers do Cocteau Twins, mas eles nunca foram lançados em discos oficiais. 
5. “Sweet Thing”
Van Morrison poderia ter pedido a guarda de Jeff Buckley quando este ainda era uma criança. Jeff nunca escondeu o fato de que se sentia particularmente ligado mais à carreira de Morrison que a do pai. As versões de “Sweet Thing” e “The Way Young Lovers Do” que estão em Live At Sin-é comprovam que Jeff se sentia a vontade nas canções do velho irlandês ranzinza. 
4) “Be Your Husband”
Se Van Morrison seria o pai, Nina Simone pode muito bem ser a mãe. “Lilac Wine”, maravilhosa canção de Grace era do repertorio de Simone. Nina, Dylan, Morrison, Piaf e Nusrat Fateh Ali Khan (a quem Jeff se refere como “meu Elvis” em Live At Sin-é) são os artistas mais influentes na carreira do cantor, que também re-gravou, entre outros, Billie Holliday e Miles Davis. Há uma versão obscura de “Be Your Husband” rolando pela internet que nunca foi lançada, basicamente levada na marcação de compasso e de gaita de boca. 
3) “I Shall Be Released”
Não apenas esta, mas também “Farewell Angelina”, “Lost Highway”, “Just Like A Woman”, “Mama You've Been On My Mind”, “If You See Her Say Hello”… A lista de covers de Bob Dylan é enorme. A influencia de Robert Allen Zimmermann nas letras de Jeff é tanta que Grace foi encarado como um livro de poesias musicadas por alguns críticos. Você pode achar na internet uma versão de “I Shall Be Released” gravada de um programa de radio, onde músicos no estúdio da estação tocam o clássico de Dylan e The Band enquanto Jeff canta (e toca gaita) pelo telefone. Esta versão nunca foi oficialmente lançada. Uma pena. 
2) “Hallelujah”
No começo da carreira, Leornard Cohen competia diretamente com Bob Dylan pelo posto de bardo judeu da América. “Hallelujah” está emGrace e é possivelmente a canção mais conhecida na voz de Jeff Buckley. Também já esteve em trilhas de vários filmes (toca inteira em uma cena de Edukators). Alem das gravações de Jeff e de Cohen, há também o registro mais atual de Rufus Wainwright (incluída trilha sonora de Shrek 2) e a versão da qual todo mundo roubou o instrumental, de John Cale. Jeff admitiu que pegou “emprestado” de Cale. 
1) “I Know It’s Over”
Jeff Buckley personifica o homem cantado por Morrissey nesta que é uma das belas e tristes canções dos Smiths. O relacionamento de altos e baixos com a mãe Mary Guibert, a beleza do cantor (que em 1995 ocupou o 12° lugar na lista das 50 pessoas mais bonitas organizada pela revista People) e a solidão refletida nas suas canções reforçam as frases de uma suposta conversa entre mãe e filho – como o verso “Se você é tão bonito, porque está sozinho está noite?”. O cover de “I Know It’s Over foi lançado somente neste ano, em So Real: Songs From Jeff Buckley, canção que fecha o disco que relembra os dez anos de sua morte. Triste constatação sem dramas maiores. Apenas “eu sei, é o fim”. 

P.S.: O outro lado de Jeff Buckley
Quem ouve as canções de Jeff Buckley pode acabar acreditando que o bardo era uma pessoa solitária e triste. Basta uma olhada nos vídeos, na divertida apresentação de Live At Sin-é ou mesmo nos discos piratas ao vivo que circulam pela internet, contudo, para constatar que existiam dois Jeff Buckleys. Existia o poeta que escrevia canções como “Lover, You Should've Come Over” e “The Sky Is A Landfill”. Mas havia também o artista espirituoso e divertido nos palcos, que conseguia cantar “Last Goodbye” e “Ace Of Spades” (clássico do Motorhead) em um mesmo show. Jeff ainda fazia piadas sobre musica e cultura pop, imitava cantores e cantoras de forma bizarra e fazia todo mundo rir junto, para logo depois tocar “Grace” canção que fala sobre amor, morte e vida eterna.