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LP

01 A faca em suas mãos é o que restou por esperar / pela sorte que não vem – sorte que insiste em andar / de mãos dadas com outro alguém / a casa é o seu chão e um colchão pra dormir e rimar / e disfarçar o vazio entre as cores que descascam e desbotam nas paredes / deste quarto de pensão / neste quarto de pensão que dividido com outros seis / pára-raios de gente louca / Nada em suas mãos / só uma bolsa à carregar / cheia de trapos pra vestir se um dia precisar, precisar / se um dia precisar correr / se um dia precisar fugir dos olhos da verdade / – certa vez ela entrou pela porta e ninguém viu / era o ultimo instante em que a sorte sorriu / neste quarto de pensão que eu divido com outros seis / pára-raios de gente louca. 02 a vida se empilha como a louça suja na cozinha / de uma casa vazia que há muito não é um lar / em um bairro, uma rua , um nome, um homem qualquer / Alfredo, a paz te encontrou / vivendo no motor de um carro / Atrás de um vidro fechado, roncando no sinal / um amor e um martelo / uma lista com coisas pra consertar / e uma placa escrito “tenho cinco bocas pra alimentar" / sob os telhados da cidade que cresceu / feito uma bolha em suas mãos / só restou a verdade prestes à lhe abandonar / Alfredo, a paz te encontrou vivendo no motor de um carro / furando um sinal fechado / Alfredo, a paz te encontrou Atrás de um vidro fechado / roncando no sinal fechado, de estomago vazio. 03 tão novo à ponto de saber de tudo / tão triste como só os jovens podem ser / o velho que ostenta na barba o peso de tudo / que a felicidade exige de quem / sobrevive sem a culpa de não conseguir se apaixonar / nem desejar um bom dia à quem se quer bem / Tão solidário com quem reparte o seu horror / até torna-lo invisível ao bom moço / e mera parte do reboco que cobre o mundo / onde hoje dorme um homem morto / que morreu pra te livrar da dor maior / e do esforço que é ter de sorrir / o tempo todo / Quem sobrevive com a culpa de não conseguir se apaixonar / nem desejar um bom dia a quem se quer bem? Há quem consiga. 04 Nós dobramos a esquina, nós prometemos não voltar / Homem o bastante para não sentir e na inércia continuar / se escondendo em lugares onde Deus não costuma visitar / todo dia o sol levanta / te obriga encarar o próprio rosto / sair em busca de alguém que ainda virá / Até ter certeza, até que ninguém venha, até que seja a hora de voltar / os jornais estão cheios de anúncios sobre como o mundo é lindo e ainda há tempo pra sonhar / feitos pra quem o mundo sempre foi tão feio e sujo e o tempo há muito deixou de contar / quando nenhuma cama é mais quente que a rua/ e uma casa é só uma caixa, é só um abrigo e nunca um lar / fugir, fugir não nos salva do terror de sermos nós mesmos / apenas mudamos o endereço onde o medo pode sempre nos encontrar 05 Meu bem, eu já me aposentei / agora me sinto num eterno pijama de domingo / enfim, podemos cancelar nossas promessas / feitas no calor do momento / em que a música tocou e nos congelou antes do 1º beijo / antes que pudéssemos nos descobrir / que o mundo não é bom / com quem não quer vencer sem sujar as mãos / Meu bem, eu já me aposentei e agora vivo numa cadeira / dentro de um coração partido / de frente para o mar / esperando meu avô voltar com um balde de iscas e historias pra contar / sobre este chão que me viu crescer / e descobrir que o mundo não sabe brincar / com quem não quer vencer sem sujar as mãos bem antes que pudéssemos nos descobrir / Descobrimos que o mundo não é bom / com quem não quer vencer sem sujar as mãos 06 Invente um provérbio chinês pra te fazer melhor / rir das coisas que nunca terão conserto / e imaginar que viver é o tempo que leva pra aceitar que são muitos os nossos defeitos / e a delicia que é contar cada ruga que nos fará melhores do que ontem, do que hoje / e assim por diante até não sobrar nenhuma mentira em nenhum cartão postal / enviado por alguém que viveu tempo demais desejando a hora de se deitar / um provérbio chinês escrito em um cartão postal assinado por alguém / que viveu tempo demais desejando a hora de se deitar  07 Pouco, a gente tem e mal serve pra comprar uma casinha de brinquedo, o café e o pão / está tudo bem – nunca iremos precisar de tudo que conseguimos acumular / só de poucas e pequenas coisas pra te proteger do que faz mal / a vida requer um prazo longo e algum tempo pra calcular, dividir nosso cansaço / em suaves prestações à se perder de vista, e desligar o gerador de frases que não devem ser ditas por ninguém / guardo poucas e pequenas coisas pra te proteger do que faz mal / e tudo o que guardamos veste a roupa da lembrança e se fantasia para sonhar / com o dia em que tudo a nossa volta finalmente encontra, simplesmente encontra o seu lugar / entre as poucas e pequenas coisas pra te proteger do que faz mal / guardo poucas e pequenas coisas pra te proteger do que faz mal. 08 Solte do meu braço, mostre algum amor / silencio, o mais escuro olhar, a solidão em quem ficou / em quem ainda se pode encontrar / acorde, seja mais um sorriso meu / acorde, não é a sua vez de brincar / Eu te amo, te alivio desse mal / Acorde, não me deixe só, esta manhã / Não consigo sentir se você ainda está aqui / já não importa, não vou deixar você fugir / Não quero que pensem, não foi falta de atenção / se eu deixei você sair / mas se eu soubesse, não soltaria da tua mão / e bem, agora é tarde / Acorde, seja mais um sorriso meu / Acorde, não é a sua vez de brincar / Eu te amo, te alivio desse mal. 09 Eu sei, eu tive de mudar / medir distancia dos lamentos / da pouca sorte / o pouco tempo / e do azar de não ser mais / tão moço à ponto de poder / recomeçar. / Eu sei, eu tive de mudar / e agora aquele ali sou eu / indo bater na sua porta / na casa onde você não está / e só encontrando a solidão / só que outro ladrão não quis levar / Eu sei, eu tive de mudar / agora eu digo o que aprendi / e o quanto andei até enxugar o gelo e perceber / que não sou eu e sim você / ninguém sabe onde o coração está / então finja me ouvir e me deixe descansar / pois ainda preciso descobrir / onde dizem foi morar / a força de quem pouco tem / ainda preciso descobrir / como curamos desse mal / deste pensar e repensar / sobre toda mão que se estende, duvidar. 10 Ele está do seu lado / como um café bem amargo / e nos pés da sua cama feito um gato velho e cansado dos dizeres / que você aprendeu a desejar o melhor / mas não muito melhor / só um pouco melhor do que eu / Mais um verso sobre ir e vir e ter um pouco de tudo / ou estar velho demais pra levantar / pôr um sorriso no rosto / – hey, veste o pijama ou aceita o que é seu / Ele prefere o silêncio – e nós também / Arrisca que é certo / finja que aprendeu a desejar o melhor, mas não muito melhor / só um pouco melhor, um pouquinho melhor do que eu.