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I wanna range life.

Eu tive um amor, durou 17 dias - segundo os meus cálculos. Fiz as contas baseado naquela frase que termina o disco Abbey Road “no final, o amor que você recebe é igual ao amor que você dá.” Deve ser isso então, meu amor pleno durou mais ou menos 17 dias. Os outros amores não durarão um dia ou dois dias, então não posso chamar de "ah, amor”.

Meu primeiro olhar pra a matilha feminina aconteceu com sete anos, sim, sete anos. Posso até afirmar que minhas duas primeiras paixões surgiram ao mesmo tempo, mulheres e armas. Não me lembro de nada com alguma claridade sobre esta menina, alem de um nome, Vanessa, a casa onde morava e um beijo. Ok, minha mãe ainda fala de uma carta que eu supostamente tenha escrito, mas não esta entre minhas lembranças. Essa menina era irmã de um menino que estudava comigo e foi justo no aniversario dele, alguns dias antes do meu, que meu primeiro romance acabou.

Lembro-me claramente disso porque minha mãe comprou dois presentes e mandou escolher um dos dois: uma caixa de puzzles ou um bonequinho dos Comandos em Ação. Foi amor à primeira vista, o primeiro dos milhões que tive, Granadeiro era o nome do GI-JOE. Tinha uma metralhadora, granadas e um capacete que perdi nos primeiros 15 minutos. Graças a esta nova paixão, esqueci das mulheres por uns três anos e até hoje mantenho casos extra-conjugais com os GI-JOE.

A segunda e a terceira paixão tinham o mesmo nome e as mudanças gráficas as distinguiam na chamada da escola Estadual Vicente Machado - SS e ZZ. A primeira era inteligente e charmosa demais pra uma menina de 10 anos. A segunda era linda demais pra uma menina sem peitos. Um pequeno detalhe – quando voce é criança, você ainda não sabe, mas o que você acha “super” legal vai ser o que vai “super” te envergonhar daqui alguns anos - simples. É obvio que entre a linda e a inteligente eu escolhi a linda. Resultado: se tivesse jurado amor eterno a ZZ, hoje seria casado com uma mulher esquisita - daquelas que parecem ter feito lipoaspiração e o corpo acabou deformado, teria dois filhos e enfartes aos vinte e cinco anos. A outra, a SS virou uma mulher linda, continua charmosa e desenvolveu personalidade forte graças ao fato de ser desprezada na escola. Se há uma atitude certa a se tomar sobre as mulheres que você conheceu na infância é: guarde o telefone das feinhas, porque elas ainda vão desabrochar enquanto as lindas em sua maioria virarão mulheres superficiais ou donas de casa demais ou só amarguradas. Houve outras duas ZZ, uma aos dezessete anos e outra aos vinte quatro, nenhuma deu certo. A ultima alias, me odeia pelo fato de estar incluida naquela lista de coisas que você deve fazer quando brigar ou der um tempo com a namorada, enfim, sair com alguém que sua mulher tem ciúmes.

Voltando a ordem cronológica, aos onze, doze e treze anos, teve muito flerte e pouca ação, varias meninas, nenhum contato. Gostei da namorada do meu primo, Gostei da irmã da namorada do meu primo. Gostei de uma menina cheia de sardas que nunca mais vi. Gostei daquela menina que todo mundo gostava e hoje esta casada com um irmão de um amigo meu - o que visualmente é um alivio. Gostei de uma menina que me deu um beijo num parque de diversões e tinha um disco do smashing pumpkins. Gosto da intangibilidade que a palavra “gostar” sempre gera. É mais ou menos como aquela parte de “O Fabuloso Destino de Amelie Polain” que descreve as coisas que a personagem gosta e tal. Gostar é ótimo na infância porque você não precisa se esforçar, é sim ou não. Nunca brinquei de pegador por ex, o meu negocio sempre foi queimada e se esconder. Com meninas foi assim até chegar aos catorze e descobrir que as pessoas suspiram por outras coisas alem da possível existência brinquedos dentro de caixas enormes.

É obvio que a irmã linda do meu melhor amigo seria um alvo em potencial. Ela era (sim, era) linda demais, parecia uma porcelana daquelas que minha nona (avó) tinha, alias sempre que vou à casa dos meus avós, olho para as porcelanas e lembro da menina. Sabe que existe um tipo de doença patológica que supostamente nos impede de ver as coisas como elas são? Algo assim: voce morre de medo de ficar careca, então sua mente de alguma forma cria barreiras que empeçam voce de ver sua calvície. Outro exemplo é o fato de que há pessoas que sempre se vêem gordas, por mais magras que elas estejam. Vi isso num programa de tv que existe até tratamento para isso. Continuando, com essa menina ocorre o mesmo fato que a minha suposta careca: eu ainda a vejo como se ela tivesse catorze anos e fosse uma virgem doce que adorava “Someday I'll Be Saturday Night ” e “I'll Be There For You” do Bon Jovi e bem, todo mundo sabe que ela definitivamente não é. Foi pra ela que eu comprei um disco do Cidade Negra, aquele que todo mundo tem. Em 1995, um menino de 13/14 anos economizar dezesseis reais pra comprar um CD pra uma garota sem que ninguém saiba numa cidade de 17 mil habitantes é um desafio físico e psicológico.

1. não vá diversas vezes olhar o que voce quer comprar se voce quer dar de presente sem que ninguém saiba. Não. 2. olhe tudo e só por ultimo compre o que voce realmente quer. A estratégia do amigo secreto não deu certo comigo porque a dona da loja era amiga da minha mãe e a filha dela estudava comigo então não havia como manter o segredo. Restava uma alternativa, alguém de aniversário. Incrível como as teorias sobre conspirações realmente existem quando você pensa nelas. Depois de tanto esforço pra que ninguém na minha família soubesse (sou membro de uma familia já famosa pela comédia Stand-up involuntaria para com seus entes queridos), tudo veio por água abaixo no dia do casamento do tia da menina.

O salão de beleza da minha mãe (entendeu porque disse que não havia como guardar segredo da minha família?) estava lotado e eu estava na sala ao lado jogando vídeo-game, quando ela me chamou, “menino, venha ver quem esta aqui...” e la foi o menino entrando pela porta e vendo a menina sentada na cadeira do salão de beleza. “olha que linda que ela está...” confesso que não prestei atenção já que haviam outras quinze pessoas me olhando e fazendo gestos que me preocupavam muito mais. “oi, ciao” fecho a porta e ouço a seguinte conversa: “a verônica me contou que o seu filho comprou um CD pra minha filha...“então menina, tem alguém gostando de você...” “eu gosto de outro, do menino tal...”. Eu ouvi isso. Eu ouvi isso. Eu ouvi e juro que por causa disso, minha mãe só conheceu uma namorada que eu tive depois dos vinte e dois anos de idade. Fato é que fiquei uma semana sem ir a casa dela, depois eles foram passar férias na praia, a mesma que meu avô tinha casa e íamos pra lá todo santo ano e naquele verão tratei de ficar doente para não ir.

Todas as minhas frustrações futuras foram fichinhas perto desta. Porque não havia reincidência, não havia lidado com rejeição, com pessoas que soubessem da minha vida, enfim, não havia nada pra ser questionado. O menino que ela disse que gostava é de certa forma meu rival até hoje. Não que seja realmente, ele nunca ficou com a menina da historia - assim como nunca pisou no meu pé, mas mesmo assim ainda é meu rival, porque ambos fizemos carreiras musicais - eu no roque - ele na música sertaneja. Eu era o rebelde - ele o menino que toca na igreja, alias se voce for hoje a missa na Paróquia São Roque, o verá lá, careca e bem mais gordo que eu. Gosto de pensar que essa historia é mais ou menos como a suposta briga entre o Pavement e o Smashing Pumpkins. Eu sou o Pavement, falo coisas demais, vejo coisas demais e faço piada sobre tudo e bem, se as pessoas vêem algum rancor alem de humor não é problema meu, certo?

Enfim, “i wanna range life...la-la-la.”.



*Os personagens desta historia também aparecem aqui e ali.