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Lamento, não-vai-durar.

Orgulho-me de dizer que consigo lembrar de coisas de quando tinha menos de cinco anos. É claro que a maioria dessas memórias infantis vem carregada de romantismo e de emoções distorcidas de maneira que é impossível não achar que se trata de uma história que me contaram e eu adotei como verdade.

A lembrança tem de ser algo totalmente intangível, você acha que a têm e que ela estará ali pra sempre entre seus dentes de leite, brinquedos, fantasias e fotografias de um Batman gordinho, mas ver a lembrança ali em pessoa, ah isso não pode acontecer. É por isso que não me animei com a possibilidade de ir a um show do Pearl jam, pra não encontrar toda aquela gente patética com camisetas do Stickman e ares hiponga que um dia também fui. Faz tempo que eu abandonei a idéia de salvar o mundo e Pearl Jam bom é aquele do No Code - o disco sem clipes e sem hits.

Minha mãe sempre contava – e assim tratou de espalhar - que quando eu era criança, uns sete anos no máximo, eu gostava de uma menina e não apenas isso, a mãe dela e a minha “nos prometeram” um ao outro e tal. Acontece que ela também conta que eu escrevi cartinhas “de amor” pra essa tal menina e eu juro de pés juntos que não me lembro de nada disso. Como poderia escrever algo pra alguém aos sete anos de idade? Como poderia ser romântico aos sete anos, se eu nem sabia o que isso significava? Ta bom, eu confirmo que essa menina deu um beijo (coitadinha, na frente das mães e dos seus irmãos) em mim e eu, eu ainda estava na segunda serie. Agora, imaginem se essa garota - que está andando por ai com toda essa historia adormecida - surge na minha frente agora, já, e as nossas mães começam a falar disso? Aposto que seria o principio de uma conversa entre elas, eu jogo o que restou da minha coleção de GIJOE com você como seria minha mãe que puxiaria o papo. Se ao menos eu conseguisse lembrar do rosto da outra criança envolvida (ou se alguma testemunha isenta ou menos passional surgisse com detalhes, cópias autenticadas e tal) ou do sobrenome. Mas enfim, desconfio que se essa história realmente aconteceu, de alguma forma meu organismo bloqueou pra assegurar que eu não tivesse traumas, pesadelos, etc. O nosso corpo sabe das coisas.

Essas histórias sobre gente que não pode se defender (no caso, o menino de sete aninhos) parecem ser formas de prazer sádico que os pais têm para com os filhos. Algo pra mostrar que por trás daquela cara, das roupas e da pose, já morou um menininho com um casaquinho azul de lã. É como aquelas milhares de bandas que a gente teima em montar na adolescência: você só enxerga o quanto patético era depois que elas acabam. E o pior é que você acaba brigando com um monte de gente por causa e pela causa de bandas e mulheres.

Ex-namoradas e bandas são exemplos práticos de que a lembrança pode te pegar de refém de uma hora pra outra. Quando você é a criança (criança: é quando o filho em questão é o da tua mãe e não o neto dela), nunca está preparado pra lidar com separações, alias, você nem pensa nesta hipótese. Ninguém te diz que um dia você ficará velho e acabará se acostumando com o inoportuno, o que dará a falsa ilusão de estar sempre preparado pra quando algo chato acontecer. Mas pelo menos você saberá que a coisa não vai durar pra sempre, coisa nenhuma vai. Embora algo maior ainda me perturbe: como uma banda certinha como os Beatles não foi capaz de durar dez anos, enquanto uma banda problemática como os Stones dura até hoje? Talvez porque Mick Jaeger e companhia nunca tenham sido grandes amigos e sim uma empresa. Uma frase cabe bem aqui: “acabe enquanto as coisas boas forem maiores que as coisas ruins”, o problema é que você tem de ter muita personalidade pra tomar uma decisão dessas, ou pelo menos muita cara de pau.

Uma teoria legal sobre bandas que funciona muito bem com relacionamentos está no filme the wonders: “a única certeza é que, um dia tudo acaba, então, se divirta e não se leve a serio de mais” algo assim. Acho que John Lennon levou essa teoria furada na pratica e preferiu a segurança dos braços da Yoko aos já nem tão amigos - Beatles. Se foi assim com os Beatles – e com uns cem nomes da música pop, faz o favor de pensar em um à seu gosto - imagine com meninos que se encontram nesta faixa: 15-25-30 anos. Seja o que for que você mais preze na sua vida, nesta época: Não-vai-durar. E possivelmente irá mudar drasticamente depois dos vinte. Essa é uma generalização a se pensar, porque nesta época você está se descobrindo, conhecendo um milhão de pessoas interessantes, pessoas que você nem pensava que iria conhecer, muitas vezes decidindo na pratica o que gosta ou não. John Lennon é o exemplo de como as coisas mudam: num momento você está lá comemorando o nascimento do filho – Julian, filho do primeiro casamento do beatle – e no minuto seguinte está de quatro por uma japonesa com cara de rica e maluca desde sempre. E ai como a namoradinha da adolescência poderia competir com toda a grandiloqüência de uma Yoko Ono? Você pode não querer mudar, mas as coisas mudam pra você.

Moral da história: não da pra saber o que vai acontecer com as bandas e com os romances, a única certeza é que um dia eles acabam. E na maioria das vezes acabam mal.