Li mais livros nestes últimos quatro meses do que em toda a minha vida e quebrando a lógica apenas quatro livros eram sobre música ou cultura pop. A biografia e as crônicas de Bob Dylan me ajudaram num momento dificil. Li os dois livros quase que ao mesmo tempo, de modo que dava para saber onde Dylan mente no crônicas e onde o biografo dança. Bob é um mentiroso clássico, daqueles que sabem o quão importante é o uso da mentira na quantidade certa para um artista em inicio de carreira. Dylan era (ou é) um dissimulado que mentia para Deus e o mundo porque sabia do que era capaz. Inclusive sua tentativa de explicar suas próprias mentiras publicadas por ai até divertida e por segundos chega a emular os textos autobiográficos (como se todos não fossem) que Fitzgerald fez sobre o começo e o fim da sua vida. Se você quiser um livro sobre compositores, procure written in my soul, na verdade o titulo em português é horrível, “Dentro do Rock” livro de Bill Flannagan, lançado em 1986, tem as dúzias nos sebos por ai. O livro tem Dylan, Bruce Springsteen, Van Morrison, Joni Mitchell, Tom Waits, Elvis Costello, Mick Jagger entre outros e é delicioso ver os músicos soltando explicações sobre como e porque escreveram tal canção. Sem contar que esse livro me levou a querer ler Capote, Faulkner e Fitzgerald, respectivamente referencias a Springsteen, Lou reed e Dylan. Capote é facilmente percebido nas descrições dos personagens de Springsteen, lou reed se perguntando “como seria se Faulkner fizesse musicas? Minha canção preferida de Dylan cita Fitzgerald e eu tenho de entender por que. Resultado: Foi em “Paga de Soldado” de Faulkner que eu encontrei o personagem para a canção “um herói dividido entre o amor e a cidade” que não é nada mais que cartas de um soldado escritas para namorada (não, não está no livro). O maluco que aparece em “o homem da casa” poderia ser Seymor, personagem criado por JD Sallinger e que aparece em vários de seus contos. Alem é claro do boa vida, uma caricatura de um personagem de Fitzgerald, presente em “aquele ali com as mãos sobre os olhos”. Alem destes três livros apenas mais um envolvendo música, “disparos do front da cultura pop” uma série de textos escritos por Tony Parson e publicados em revistas e jornais. O livro começa com a parte sobre música como artigos para a NME por exemplo. Mas é no capitulo “Amor e sexo” que encontrei um Tony Parson que não sabia que existia. Os artigos para a revista “Elle” sobre homens, mulheres e seus sexos são simplesmente geniais porque as vezes é bom saber que não está sozinho no mundo. Ainda acho difícil ler um romance, prefiro contos porque é mais fácil larga-los, é mais fácil abandona-los por se tratar de uma escrita menos intima, quer dizer, os personagens não estão totalmente expostos, não há tempo para isso. Capote por exemplo consegue abordagens completamente diferentes entre livros e contos, só pelo fato de que as apresentações são desnecessárias. “Os cães ladrão” é o livro que mais gosto, talvez por causa de “ouça as musas” onde Capote narra a ida do musical “porgy and bess” (summertime e i love you porgy foram compostas para está peça), a primeira companhia americana com artistas negros a se apresentar na Rússia, alias, até o desembarque no país, quase ninguém sabia que haviam negros na companhia. Uma sensação que tenho lendo Capote é a que já haviam me contado a maioria de suas historias, simplesmente porque vários de seus personagens lembram historias que meus pais, meus avós contavam ou sei lá, talvez estejam disfarçadas em filmes que eu via na sessão da tarde mais ou menos como acontece com A Trilogia da Cidade de Paul Auster que basicamente conta a historia de sincity. Nick Hornby me levou a Thomas Eloi Martinez que me levou a Cortázar e Borges. Thomas é uma espécie de Nick Hornby argentino, isto é, em versão tango. É dele Santa Evita, encontrado as dúzias na biblioteca e Cantor de Tango, o que posso chamar de “minha descoberta” já que o escolhi pela capa. O livro conta a historia de um lendário cantor de tango descrito como melhor que gardel e que nunca gravou um disco e, utiliza a figura deste para relatar historias trágicas da argentina em tempos de ditadura. Outra referencia do livro é o Aleph de Borges, o personagem que narra a historia chega a Buenos Aires e se hospeda na Rua Garay numa pensão com os mesmos detalhes descritos no livro de Borges e que supostamente se encontra o Aleph. É claro que para entender, tive de tomar coragem, ler Borges que não é nenhum pouco fácil, prefiro Julio Cortázar, afinal ele fala a minha língua, gosta de boxe e acha que o mundo vai acabar num imenso engarrafamento. Ahn, Caio Fernando Abreu. Como que a gente abrevia o nome deste cara?