Deus bate à sua porta e diz “realizo um pedido seu.” Neste exato segundo eu diria, quero ter oito anos de volta. Não apenas eu ter oito, mas minha mãe terá sua idade equivalente e meu pai também. E quero meu avô vivo. Ele responde: “são vários pedidos, eu disse só um.” Acontece que uma vez eu vi na tv que dependendo do que você pede, pode ser dar mal, ex: se eu disser quero ter oito anos de novo e ele realiza o pedido, de repente estou na frente do teclado do computador com perninhas gordinhas e longe de casa, afinal, eu pedi por oito anos, não para voltar no tempo em que tinha oito anos. Sei,la quero um cachorro quente. Deus pergunta: “que tipo de cachorro quente?” aqueles que vendiam num bar de esquina da minha cidade, em 1990. Deus: “aquele com duas salsichas e molho?” você é Deus, você deve saber do que eu estou falando ou imaginando e talvez o dono do bar já esteja ai em cima, pergunta pra ele. Teve uma vez, uma única vez, que eu comi dois cachorros quentes. Depois passei o dia todo me sentindo culpado. Não por ter comido os dois, mas porque depois comi dois sanduíches a noite e Nescau, etc etc etc.
Agora estou pensando em como era pesar 127 kg em 1997, foi a 10 anos atrás, ontem. Eu vivia apaixonado por uma amiga que já fora minha melhor amiga e hoje, mal fala comigo. Bem, não era exatamente apaixonado, apenas um adolescente e aquilo que a gente sente pela menina mais próxima. É por causa dela que eu não gosto de loiras. Deus? Posso trocar meu pedido? Não quero ter oito anos de novo nem quero o cachorro quente. Quero que você faça desaparecer um animal da terra: o porco. Todos. acabe com ele antes que seja tarde. Deus diz “só posso matar um porco”. Então esquece. Fico pensando em coisas gordas. Coisas de quem sempre fora muito gordo, tipo esteiras, academias e exercícios físicos. Lembro de uma vez em 1997, um daqueles testes de “explosão”. Tantos metros em tantos segundos. Era sempre o ultimo, mas uma vez eu fiquei entre os 10 primeiros, de quarenta. E eu já era bem gordo nessa época, fiquei imaginando o que aconteceria se tivesse o peso de hoje naquela corrida, recorde mundial? Ta esquece.
lembrei de um bolo de aniversario. A mãe sempre fez os bolos de aniversario, sempre pedia o que eu queria e eu sempre dizia: “chifon.” Alguém sabe que diabos é chifon? Enfim, era o bolo de chocolate com chocolate amargo, coberto de chocolate e vários outros chocolates em pedaços. Esse era o bolo da minha mãe e ela chamava de chifon. Não sei qual foi o melhor mas acredito que a culpa me fazia aproveitar menos cada um dos pedaços de bolo. Tanto que hoje meu top five de bolos inclui um bolo de confeitaria com damasco, nozes e ameixas, sem chocolate. Não vale a pena ser magro e não ter um top five de bolos. Chocolate é doença, é como ser ninfomaníaco ou qualquer outra compulsão, troco tudo por doces. Sou capaz de trocar o almoço por chocolate. Alias, faço isso com alguma freqüência. Ainda olho as calorias como qualquer maníaco depressivo pela palavra engordar. Mas hoje me dou ao luxo de devorar brigadeiros de panela sem culpa, e pra garantir que não haverá culpa alguma, fico sempre uns dois ou três quilos abaixo do peso para festas de criança, panelas de brigadeiro e para o dia em que for visitar minha mãe e ela fizer pastel-bolo-de-chocolate-lasanha-e-churrasco tudo no mesmo dia. Descendentes de italianos de merda, acham que as pessoas devem ser rechonchudas, mas nunca vi uma italiana gorda, uma legitima, daquelas de filme. Foi aqui no Brasil que começaram com isso, isso e os porcos. Fico pensando num tipo de pessoa que cedo ou tarde será preso por entupir as correntes sanguíneas de gordura: uma italiana dona de confeitaria cujo marido é criador de porcos.