Guiseppe Reichmuth e o quadro mais vendido aos romeiros de Aparecida do Norte de todos os tempos.
Uma das coisas mais divertidas de ser criança
é poder imaginar coisas que nunca existiriam na cabeça de um adulto.
Depois que a gente cresce fica difícil até de lembrar de qualquer coisa
que tenhamos passado, então tendemos à romancear cada flash das nossas
memórias e colocar cores onde nunca houve.
Entrei numa espiral infinita de lembranças
da infancia no momento que descobri que iria ser pai. Eu já tinha gasto
um bom tempo nadando na nostalgia das histórias sobre a familia Rufatto
nas canções dos meus discos - em especial o ultimo que, entre outras coisas, destruia sem dó as
canções favoritas do meu avô (exemplo abaixo), mas ai veio a gravidez e a
coisa me acertou em cheio, ser pai de alguém é uma coisa séria e assustadora.
Meu maior medo de ser pai é estragar ou
privar da imaginação boba - aquela que torna as crianças tão especiais.
Antes de morar em Curitiba, ouvia as pessoas falando que não gostariam
de criar seus filhos em apartamentos ou dentro de quintais fechados.
Hoje vejo que isso é um tipo de terrorismo para justificar a opção pela
vida no interior - mais ou menos como aquele filme “A Vila”, um filme
meio chato, mas serve de exemplo. também serve de referência
a super proteção da minha vó que nunca me deixou entrar num rio que não
tinha um metro de profundidade. Moral da história: sei que às vezes é
preciso proteger e às vezes é preciso deixar cair - obviamente deve ser
muito difícil de deixar cair.
A geração atual de crianças parecer não ter apego
as coisas e imagino que a expressão “bens duraveis” esteja próxima da
extinção - afinal, hoje em dia nada dura muito, uns 2 anos no
máximo. Acho que guardar lembranças (e discos são minhas maiores
lembranças) é um exercício da memória afetiva para criar uma relação
afetuosa com coisas que não dizem mais nada à ninguém, exemplo: a imagem
acima deste texto. “O dinossauro atravessando a estrada” era um quadro
“famoso” da década de 80 e morava no alto, quase no teto da lendaria Caça e Pesca
- a loja de um dos meus tios. Era o quadro favorito do teto e havia
vários enfeitando o teto - São Jorge lutando com um dragão, macacos
fazendo poses engraçadas até o carro de F1 que Airton Senna pilotou na
Lótus. Não sei o que aconteceu com todos eles, creio que foram parar no
lixo na grande reforma que fizeram na loja no meio dos anos 90.
A imagem do dinossauro era perturbadora
demais para uma criança com muito tempo livre, se eles estavam extintos,
o que aquele grandalhão estava fazendo ali? Um dos meus tios
aproveitava a situação para contar que aquela “fotografia” havia sido
feita na estrada que nos levava até São Francisco do Sul, em Santa
Catarina.
Quando a família saia de férias fazíamos o
mesmo percusso e ele avisava “estamos quase passando onde tiraram a foto
do dinossauro”, “vamos ver o dinossauro”, mas nunca víamos nada - ele
deveria estar dormindo em algum lugar.
Este quadro caiu em
esquecimento depois que cresci, mas ainda o uso como referência para
exemplificar coisas absurdas dos tempos atuais. Odiaria ficar preso em
um tempo e transformar 2012 em um eterno dia da marmota onde sempre toca
Sonny & Cher (veja “O feitiço do tempo” para entender). E quando
minha filha tiver idade para ter alguma personalidade, provavelmente meu tempo
- e tudo que é hype atualmente - terá passado, mas isso não é
ruim - pior seria se transformar num integrante do Capital Inicial. Eu
serei uma espécie de dinossauro do quadro, vivendo eternamente em uma
cena que nunca existiu.