lembranças de um adolescente gordinho que ainda mora em mim.
Sim, eu sou neurótico com peso. Eu passei 23 anos da minha vida vendo três dígitos na balança, aceitando a barriga como inevitavel companheira e sendo rejeitado pelo mundo que só admitia magros e gordos excêntricos e felizes. Como se a gordura das bochechas deixassem outra opção que não a do sorriso comprimindo os dentes e forjando uma felicidade visual mais ou menos como o ursinho psicopata de Toy Story 3.
Li um texto outro dia que me deixou pensando no quanto a identificação é importante em algumas etapas da vida. O texto dizia que você não pode exigir que te respeitem se você não respeita o seu semelhante. Acontece que eu não queria achar o meu semelhante legal ou respeita-lo, não quando todos os gordos parecem idiotas ou manés – eu incluso. Quando você tem 12 anos, seu semelhante na tv é quem? O Jaime Palilo? (apelido numero um) O nhonho (apelido numero dois)? O bruno de luca na malhação? A única verdade que o ser humano deveria aceitar é a que diz que você não pode exigir beleza de outra pessoa se você não é bonito. E mais, o fator identificação funciona de tal maneira que é quase impossível idolatrar alguém que não tenha nada a ver com você. Quando eu tinha 15 anos, eu queria ser Ed Vedder e não o Ed Motta ou o tio dele. Pense você em um gordo apenas que não seja excêntrico ou bobão. Alguém que é respeitado pelo talento e não pelas excentricidades que o outsider do padrão de beleza te reserva? É minha gente, eu sou neurótico, mas é a gordura que nunca dorme.