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Curitiba pelos olhos do turista.

Depois de 6 anos - indos e vindos - de Curitiba, fiz meu primeiro passeio turístico pela cidade. Motivado pela namorada e pelo projeto do Ciro Ridal e Guga Azevedo, passamos umas 4 horas andando de jardineira turística pela cidade. É turismo fastfood, de proveta, quase um bifê, mas te garanto: é imensamente mais divertido para quem conhece a cidade que vive ao redor dos pontos turísticos. O turismo “obvio” movimenta uma grande multidão de terça a domingo, uma grande multidão interessada em coisas obvias, feitas para turistas, como o jardim botânico e a opera de arame. Estas atrações estão separadas por alguns quilômetros de terra em uma cidade pequena que ficou grande por culpa de gente como eu, gente que deixou o interior por achar que a solução estava na capital.
Nós crescemos idealizando coisas que não existem e a vida em um lugar que não existe. É engraçado, porque não lembro de como imaginava minha vida adulta, mas lembro de imaginar Curitiba do jeito que ela é - só levemente mais fria. Nas minhas idas e vindas com a minha mãe ou quando estudava no Cefet - ou lendo pela gazeta, Curitiba era isso ai que é hoje, só cresceu, tornou-se mais próxima de São Paulo do que de Coronel Vivida. Ainda está no meu imaginário de lembranças, de uma época de sonhos, sonhos da minha mãe, quase como morar na praia. Enquanto Coronel embruteceu, Pato Branco virou uma espécie de cidade eunuco, Curitiba me parece cada dias mais aconchegante, mais intima, como alguém que compartilha suas dificuldades e seus segredos comigo. Não sei explicar, tem essa gente que reclama da violência, dos assaltos, do barulho, do transito, da deterioração dos ônibus, do numero de carros que só aumenta, da falta do que fazer, eu não sei, apenas reclamam de coisas que se repetem em cada cidade deste mundo.
Eu tenho a impressão de que Curitiba passa por aquela duvida de crescer e embrutecer ou continuar no macio e no gostoso. Está dividida modernizar o centro histórico ou derrubar tudo de uma vez e construir edifícios. Mas não é ela quem escolhe, é a gente. Cada pessoa que chega nessa cidade, escolhe viver pelo sonho ou pela ambição e cada uma dessas escolhas trata de moldar a cara da cidade para quem ainda não veio.
A realidade da cidade chega a raspar o ônibus, mas não afeta o turismo. Então, quando o ônibus turístico prefere virar a esquina e descer pela rua famosa pelas prostitutas a luz do dia, você tem de estar ciente de que isso é um tipo de turismo também. Para conhecermos o teatro Paiol, também é preciso passar por uma das partes mais feias e perigosas da região central de Curitiba e que se você quiser ficar no andar de cima do ônibus turístico, cedo ou tarde terá de se desviar dos galhos das arvores gigantes dos bairros e pegar um pouco de chuva também. Tudo bem, sempre haverá quem opte resumir a cidade em uma dúzia de obras do governo Jaime Lerner e em deliciosos almoços no velho Madalosso. Para essas pessoas, vale sempre citar aquela frase celebre do filosofo Marcell Proust quando esteve visitando de Curitiba: “Deixemos os pontos turísticos de Curitiba aos homens sem imaginação.”*.



* A frase correta é “Deixemos as mulheres bonitas aos homens sem imaginação.”.