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Ficção - Diário dos dias. (dezembro de 2007)

Oi, é domingo, passou das dez horas esta manhã e eu estou aqui arquitetando um plano infalível, destes que as pessoas riem e contam pra zoar do estrategista. Vou te dizer, estou pensando com minha cabeça de treze anos desde o segundo em que passei pela frente da sua casa.

Como você ainda não sabe, eu canto no dia dezenove com uma ex-namorada, a que é cantora. Você ainda não sabe por que eu ainda não te contei. É eu vou tocar, antes ou depois dela, isso não importa, o importante é que estou tentado a colocar um convite na porta da sua casa, é eu fiz alguns convites para meus amigos pessoais, um convite natalino, na verdade um desenho meu com as sete canções (minhas) que tocarei mais um laçinho vermelho indicando que é natal e neste momento não passa por mim a idéia de que você não estará bem na minha frente quando eu estiver tocando. Pense que legal seria se eu tivesse um pouquinho coragem (e nenhum senso é claro, já que não tenho mais idade para estas coisas...), fizesse esta ação, e daqui uns tantos anos pudéssemos nos lembrar deste momento, assim: eu coloco o convite e você encontra e sabe que fui eu quem deixou. O único problema é que o convite é grande, um escaninho amarrado com uma fita vermelha, o que poderia complicar se caso não tiver onde colocar a correspondência. Estou pensando nisso agora, quantas pessoas moram no seu prédio? Não sei seu sobrenome, não tenho nada alem de um endereço, uma porta e o seu nome. Vamos ver.

Costumo dizer que Deus nos dá a oportunidade na hora certa, então era agora ou nunca. Escute só o que aconteceu: pouco depois de escrever essa parte comecei a bolar o plano inicial, passar na frente da sua casa e tentar achar algum lugar para que pudesse jogar o escaninho para dentro do seu prédio. Escrevi até uma cartinha, falando sobre o convite e colei um adesivo com seu nome, mas claro, nunca conseguiria fazer com que isso desse certo. Mas eis que a luz logo vem e um amigo liga para mim e sugere que a gente vá à ferinha, ele quer comprar um chapéu, “eu tenho de pegar o violão de doze cordas a tarde então, tem de ser agora” e a gente sai, eu pego o seu convite, dou a volta no nosso triangulo (é, nossa quadra é um triangulo) e vou me aproximando do prédio sem portaria. Há algumas pessoas logo a frente, há um bar aberto ao lado, fico com receio afinal é algo infantil de se fazer eu bem sei, mas eis que uma senhora está saindo pela porta, (que não seja sua mãe, ou qualquer coisa parecida com parente, não saberia explicar porque diabos vou deixar um convite) e eu pergunto se poderia deixar um convite junto das demais correspondências para você, falo seu nome e ela diz que sim completando a frase com “porque você não entrega no apartamento dela???” “não, não precisa, deixo aqui e está bem” imagine se chego a audácia de bater na sua porta para entregar um convite, não sou tão maluco assim. Deixo o convite e saio agradecendo à senhora que se tornou involuntariamente cúmplice no meu plano.

Então é natal. Vou para casa dos meus pais em breve. Estou ansioso para voltar a coronel vivida, uma cidadezinha a quatrocentos quilômetros daqui, do lado de pato branco, sabe? Não vejo minha mãe desde o feriado de sete de setembro, tenho tanta saudade. Nestes últimos meses, desde que me mudei para a sua quadra, foram dias difíceis, ainda estão sendo difíceis, mas sinceramente, é natal e nada pode ser pior que ficar sozinho no natal. Mudo-me deste apartamento no ano que vem, para onde ainda não sei, mas aqui não ficarei, não é um lugar para mim. Aqui fiquei doente e criei um distúrbio do sono, não consigo dormir mais. Pelo menos estou devorando livros, uns quinze nos últimos dois meses.

Quarta feira, toco no korova, depois não sei mais o que faço por aqui. Perdi meu emprego e o bacana não posso chamar de sustento, não é? Não sei se espero meu pai passar por aqui, estou pensando em levar meu violão, uma copia do meu disco novo para divulgar pelo interior, a idéia não é ruim, eles pagam bem por shows lá, alguém medíocre poderia passar a vida toda fazendo shows pelo sudoeste do Paraná e enriquecer sem nenhum alarde. Meu objetivo é basicamente outro, é ser um verbete musical, uma referencia quando forem falar de música, culto. Ok, você tem razão. é uma piada idiota, mas divertida.

Vou ver umas bandas hoje, bandas legais, tenho saudade de um amigo que é baixista de uma delas, uma das pessoas que me adotaram quando vim morar em ctba, ainda em 2005. O bass é meio recluso, então é foda de nos encontrar. Será que você vai? Seus amigos estarão lá e eu torço por isso e estou com um certo, frio na espinha, quando a gente se ver quero estar no meu mais perfeito, ou sem jeito eu, tenho medo da reação, como será o momento em que nos encararmos, será tudo a prova sabe? Até então é fictício, posso até dizer que está sendo mono-lateral, só da minha parte, pelo que já me disseram você é disputada pelos caras, que todo mundo se apaixona, bla bla bla, mas e eu ? Eu sou aquele ali, só isso. Não que não seja algo mais, mas deixo qualquer observação para as pessoas, da minha parte sou apenas um menino legal com um relógio de bolso legal.

Você não foi. Você não foi e eu fiquei lá com meu terno amassado, meu cachecol blonde on blonde, minha pose de rockstar do bairro/jornalista cobrindo show. Pena que não sou nem uma nem outra coisa. Foi melhor assim, penso agora, enquanto escrevo irritado, não por ter saído e visto as bandas, ótimas embora a primeira devesse ter cuidado maior com as letras que a mim não dizem nada, mesmo que eu seja “co-autor” da música de trabalho, sei que você sabe qual, mas não importa, o som estava bom e você não estava lá, você não estava lá para eu dizer “ola, que tal?” Assim como duvido que você vá quarta no meu show apesar de todo o meu esforço, você não vai e então considerarei o fim das minhas investidas. Não tenho mais idade para estas coisas. Simples, estou escrevendo pensando no pior, pois o pior que pode me acontecer hoje em dia é levar um fora sem se quer saber que levei. Como assim? Simples, se você soubesse como foram anos anteriores a 2006, 2007, saberia que nada mais me atinge, tudo agora é como acordar resfriado, como estar sem dinheiro, é só uma chatice, um dia ruim. Continuarei escrevendo aqui, é divertido ficar escrevendo como se você fosse ler algum dia tudo o que se passa aqui do outro lado do muro.

Olha só, a segunda canção do show será para você. Escrevi há alguns dias enquanto estava no kitinete, pensando que você poderia aparecer a qualquer momento, você não apareceu e eu fiquei lá com as mãos sobre os olhos tentando me divertir. A segunda lembre-se, caso você resolva ir, chegue cedo, é a segunda viu?

Venha comigo / aquele ali com as mãos sobre os olhos / bones / XXX / como estão sendo seus dias sem mim? / a falta desse ar / só o amor pode partir teus joelhos / ajuda / reza / rape me / would?

Isso é o que eu vou tocar quarta, 19. As duas ultimas com participação da minha irmã, ela toca junto comigo no cabaré twin intitulado “você deveria ter medo de mim babe”.

Não dormi praticamente nada esta noite. Talvez duas horas em sete. Tenho tantas coisas rondando esta cabeça, não vejo a hora de pegar meu casaco e ir para casa. Acho que está cidade deu pra mim, pelo menos este ano. Tenho quase nenhum dinheiro e ainda preciso comprar uma passagem para casa, não importa, estou aqui, ouvindo Ryan Adams como dizem nos folhetins, chorando as pitangas, pensando em que tenho de fazer hoje. Você fará o que hoje?

Estou tão cansado e amanhã tem mais. Que 2007 acabe logo. Antes que eu me acabe.

Está chovendo. Não acredito que hoje o dia começou com chuva. Tenho uma tonelada de coisas para fazer e não acredito que terei de agüentar a chuva hoje.


Texto publicado aqui em dezembro de 2007.