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Dois shows para levar para a ilha deserta


Eu não sei, provavelmente eu esteja ficando surdo da mesma maneira que estou envelhecendo precocemente desde que me enchi de drogas experimentais para emagrecer lá nos meus 17 anos. E quanto mais jovem velho vou ficando parece que enfim a coisa toda começa a fazer sentido, a musicalidade, o jeito de me comportar, de cantar e de agir para com os outros. E assim, artisticamente falando, pelo menos para os meus ouvidos a música parece estar funcionando - lembrando que meus ouvidos podem estar errados. Por passar muito tempo da infância e adolescência sozinho aprendi a tomar conta das pessoas ao meu redor pra que elas não me deixassem sozinhas. É assim: você as ouve e elas ficam ali como se houvesse uma moeda de troca entre nós. Minhas canções são exatamente isso. Um amigo certa vez disse que os shows com a banda funcionam porque a performance que eu mostrava no palco era o contraste do que eu cantava e que isso passava um sentimento coletivo como se não fosse apenas eu que sentisse as coisas deste ou daquele jeito. Basicamente ele disse o que eu bem sei, que me divirto cantando que não estou me divertindo. Os shows tem sido assim, uma festa, mesmo que ainda estejamos falando de gente cuja vida não é essa festa toda.