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Recordar é viver

"Um ensaio sobre a falta de café no mundo de hoje" - um clássico da solidão e/ou da falta do que fazer.

Um filme do Rocky, um bom par de canções, um doce e uma boa caneca de café. Poucas pessoas conseguiriam sobreviver com tão pouco, mas é assim deste jeito manhoso quase sem perceber os dias ruins vão embora.

Tive de ir a três supermercados para achar o café que gosto. É um tanto desconcertante estar na sessão de cafés e só encontrar café descafeinado. E o que eu faria com um café sem cafeína? Um chá?
“– moça, você sabe se tem café extra forte desta marca aqui?” “Acho que não, se não tiver atrás, é porque não tem.” Disse ela para meu completo desespero já que estava há mais de oito horas sem uma xícara de café. Queria uma fotografia do meu rosto olhando para os outros rótulos de café e reclamando “o que houve com o mundo?”. No primeiro mercado que entrei gastei cinco minutos até decidir não levar café ou coisa alguma e caminhar até outro mercado, porque você sabe, um homem determinado opera verdadeiros milagres.

Minha “jarra” de café de todas as manhãs havia me deixado às nove da manhã e o café se fora do saco para nunca mais voltar. Em vão tentei sobreviver por algum tempo sem café, afinal existe água potável por ai. Seis da tarde, eu, meu terno xadrez e meu cachecol atrás de uma caixinha de café, aquelas de duzentos e cinqüenta gramas, é o suficiente para exatamente uma semana tranqüila, já tentei comprar uma daquelas de quinhentas gramas, mas o café não fica saboroso após uma semana aberto. Não importa o quanto as marcas invistam em pacotes, todos eles perdem o cheirinho depois de uma semana.

Desmarquei um encontro com uma amiga, mais precisamente um “café” com ela e outros amigos. Não dava mesmo, porque se bem me conheço, eu até passaria com um cafezinho na rua, mas e amanhã cedo quando acordasse e descobrisse que não havia café extra forte em todo reino de mercado que me cerca, o que faria? Eis que desenhei um novo plano após entrar no segundo mercado de cafés descafeinados de Curitiba: iria até o festval.

Lá vou eu andando pela Fernando Nogueira - rua que, você não sabe, mas frequentemente aparece anônima nas minhas historias, é a rua onde mora uma outra personagem dos meus textos, a menina vizinha que não me cumprimenta por achar que eu sou um maníaco. Enfim, passo pela frente da entrada do prédio onde ela mora, dou uma olhada sem entender bem o que queria ver e sigo até o mercado que nem é tão longe, nem tão caro quanto alardeiam os pobres. Encontro o café que adoro, só cinqüenta centavos mais caro e abro um sorriso do tipo “é meu”, agarro a caixinha e dou mais uma caminhada pelo mercado. É meio bizarro ver que o publico do mercado é outro, senhores bem vestidos em ternos alinhados, donas de casa bem vestidas e suas filhas feias e mal vestidas. É engraçado que, pelo fato das gôndolas serem de mais ou menos um metro e cinqüenta (ou sessenta) de altura, você consegue ver todo mundo que está no mercado. Isso facilitaria caso houvesse alguma garota atraente comprando verduras ou bebidas, mas não há.

O mercado é um bom lugar para conhecer alguém interessante, é como naquela piada em que a menina pergunta ao menino “e o que diremos aos nossos amigos? Não podemos dizer que nos conhecemos numa sala de bate papo, não é?” e ele responde “diremos que nos conhecemos no supermercado comprando café...”. Pena que é fácil descobrir também que você é um pobre de merda comprando algo nada atraente como cenouras, laranjas ou empanados. Café, ok você tem uma carta na manga. Pena que com exceção do café, nunca há nada sofisticado na minha cestinha e pior, escute: se você encontrar com algum affair, lembre-se apenas de duas coisas: comprar vinho e coisas gostosas como sorvete e bolo de chocolate caso ela esteja sozinha e você esteja acompanhado; comprar vinho e coisas gostosas caso ela esteja com alguém e você sozinho. Caso você esteja comprando coisas banais como papel higiênico e avistar alguém interessante, largue já sua cestinha e vá pegar outra coisa. Ninguém precisa saber que você também precisa ir ao banheiro, para isso escolha horários que possivelmente as pessoas legais estejam dormindo ou trabalhando, tipo oito horas da manhã.

Uma vez, só uma vez em toda minha vida fui ao mercado fazer compras à uma hora da manhã de um sábado. Havia chego de viagem e não tinha nada pra comer, entre outras coisas. Agora imagine a situação: A única sessão com agitação em um mercado após a meia noite é a de bebidas alcoólicas, então: um monte de gente já meio alteradas, grupos de homens abraçados a caixinhas de cerveja, mulheres arrumadas comprando vinho com seus namoradinhos - esses deveriam estar prometendo o mundo por uma noite. E aquele ali sou eu atrás de toda essa gente com uma cesta com uma lasanha de microondas, rolos de papel higiênico, pés de alface, café, etc, esperando ser atendido numa fila quilométrica formada em função do único caixa aberto em todo o centro de Curitiba.
Nunca mais fiz isso, nunca mesmo.