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A flanela nunca dorme

Bandas de rock não são pra mim.

Desde que troquei minha guitarra por um violão, uma harmônica, um coração partido e fui ali na esquina tocar, a vida musical tornou-se aparentemente simples. A música pop segue em duas direções atualmente e bem, se você lê jornal ou pelo menos se interessa por música pop deve saber que em 2008 a moda é folk. Não posso se quer dizer que estou fora do hype já que volta e meia recebo emails emocionados de meninos e meninas que descobriram um disco dos meus discos hoje. Enfim, música folk pode ser feita em qualquer lugar sem incomodar o vizinho, sem que a policia mande você baixar o som.

O grunge, aquela barulheira que fez todo mundo comprar um caixa Fram e uma guitarra e montar uma banda nos anos noventa está quase tirando a carteira de motorista e ainda existe bandas surgindo aqui mesmo na esquina que eu citei agora a pouco. E não são mais adolescentes de treze, catorze anos, são pais de família que perderam o bonde da historia quando kurt Cobain se matou. Então eles deixam suas esposas e seus filhos em casa, carregam amplificadores, pedais da zoom e guitarras até um quartinho na casa do baterista e lá passam seus sábados, tocando alice in chains(AIC). Até ai não há problema nenhum, não havia até eu entrar na historia.

Convidaram-me para assistir um ensaio da banda, eles precisavam de uma canção para uma apresentação, ou um festival e como provavelmente eu seja o cara que mais gravou musicas neste Estado de 2004 para cá, talvez conseguisse escrever uma letra para uma canção deles. Uma canção mesmo, já que eles só entrariam na apresentação/festival se tivesse uma composição própria. E como eu nunca digo não a amigos, lá estou eu sentado do lado de um amplificador de baixo esperando o som rolar. Meu amigo é o guitarrista, fica improvisando riffs de AIC enquanto o restante da banda monta a parafernália. Estou lá há 5 minutos e quero muito ir embora, mas estou vendo que logo entrarei num revival da minha adolescência sem menor chance de que eu acabe curtindo. Começam as seqüências matadoras de man in the box, enter sandman e uma canção do ozzy que não sei o nome. No intervalo entre cada canção eu, o espírito do sonic - o porco espinho, falei da versão do bonde do rolê (que ninguem sabia quem era), e fiz uma piada sobre como aquelas musicas “não envelheceram” como quem as interpreta. Bem acho que ninguém entendeu e puxaram outro AIC, seguida da tal canção que eu deveria “letrar” já que na opinião do meu amigo, a letra que o vocalista havia escrito não passava a ideia da canção, seja ela qual fosse. Agora vou descrever como é a canção deles:

Entra um riff enorme parecido com uma canção qualquer do Pantera, e ai entra o baterista com seu pedal duplo fazendo uma batida “fanqueada” daquele jeito que o faith no more e depois o korn fizeram, o baixista também segue essa linha, e o vocalista da uns berros no inicio, e eu já sei que serão 5 minutos pelo menos de clichês. Então terminam a canção e todos olham para mim e eu nesta hora gostaria muito de dizer que me senti como Dylan escrevendo “i shall be release” para a The Band, mas o que disse foi “hmm legal (uma droga), vocês podem tocar só a parte que ele vai cantar? (não sei que parte é pra cantar e que parte o vocalista vai berrar uns arrrrh). Tocam de novo por longos 5 minutos, porque aparentemente eles não decidiram onde o instrumental vira canção. Terminam de novo e novamente a bola está nos meus pés tocada pelo meu amigo que diz “então, do jeito que ele (o fulano do vocal) canta, ta ficando meio detonautas e a gente quer mudar isso” e eu digo “mas então mudem a bateria fanke, porque do jeito que ta é o que parece...” ganhei um inimigo, o baterista me odeia obviamente e eu nem pedi para ele tirar o solo de bateria nem nada. Então vem a frase que gerou todo esse texto: “sabe a gente queria algo meio “guerrilha” do Charlie Brown Jr” ahmmm???? “é, algo pra agitar o pessoal...”

Puta merda. Se eu soubesse o que viria pela frente teria dito que eu só escrevo baladas romanticas, e odeio agito.

“Não conheço”

“a gente vai tocar pra tu ter uma ideia”

“ta bom”

E lá se foram outros 5 minutos de CBjr nos meus ouvidos.

“é tenho de ouvir melhor a canção de vocês”

Mas acontece que eu não sei fazer canções pra agitar, não mesmo, não quero ver gente de preto e camiseta de diabometal gritando “Charroladrão” num show meu. Cara como é triste ser educado neste mundo.

Sai de lá crendo que estava em 1992, a moda ainda era a flanela, o coturno, cabelos compridos e “quanto mais idiota melhor” era o filme mais legal do mundo. “muito agito Ggarth?” “muito agito Wayne.” nnnnnão! Eu tinha dez anos em 1992! Eu até acho divertido ver esse filme e lembrar de como eu e todo mundo era tosco, eu até tenho o VHS de singles, vida de solteiro, um dos filmes que mais vi nesta vida, mas é porque eu sou saudosista, eu não vivo em 1992, nem vocês. Vez ou outra coloco meus discos de grunge pra tocar, mas nenhum destes discos ficou no meu top 10 atual, nem no top 20. As vezes penso que a vida foi injusta com Jeff Buckley, um cara que estava muito acima e alem do grunge, mas que está vestido como um em grande parte do que se encontra sobre ele por ai. E tudo porque ele morreu antes de rir do passado, a historia tratou de o congelar como parte de uma cena da qual ele nunca pertenceu. Kurt morreu, Shannon Hoon morreu, jeff morreu em 1997 e eu só conheci o cara justamente na noticia que havia se afogado e acabei comprando o disco porque estava muito barato. De lá pra cá Layne Staley morreu, o pearl jam tocou no Brasil e eu fiz questão de não ir no show.

Enfim, estão dizendo por ai que em 2010 o grunge volta a toda porque como sempre, negasse a década passada para lembrar a década retrasada, então, logo o nirvana volta com francês Bean no vocal, alice in chains já está com outro vocalista e o soundgarden se reunirá.

Parodiando Neil Young: “a flanela nunca dorme”