Venha comigo.
Comecei a rascunhar venha comigo voltando para casa. Cada palavra saiu mais ou menos naquela ordem que foi gravada, tudo escrito de primeira, como se ela sempre estivera ali na minha língua e eu não tinha notado. Era uma carta de despedida a uma garota a quem eu havia agido como um perfeito canalha. Tinha acabado um relacionamento maluco que havia durado tempo demais e em bem pouco tempo essa menina apareceu e me apaixonei por ela. Ela também se apaixonou e talvez por algum tempo a gente tenha tido um grande dia. Mas não era o momento certo, simplesmente não queria um namoro após o outro, não queria voltar aos 18 anos e ver que nada tinha mudado nestes anos todos. Venha comigo foi escrita porque eu estava voltando para casa, para entender aonde eu tinha errado, aonde eu havia deixado o meu coração e todas aquelas coisas que eu considero importante. Quando tudo o que você ama vira uma doença, definitivamente alguma coisa esta errada. Ela foi a primeira pessoa à saber, que eu iria embora, e então fiz de tudo para que ela desistisse de mim, fiz tanto que consegui. Quanto a mim, estava tão confuso que nem pensei no mal que estava fazendo há algumas pessoas. Nem se quer sabia se voltaria a está cidade, só queria ir pra casa, sentar no colo da minha mãe e deixar meu peito sarar.
A melodia é tão manjada que não preciso nem comenta-la, acho que o nome do disco está contido nessas melodias simples que estão grudadas no coração da humanidade.
Quando você morreu.
Quando você morreu foi escrita por vários pontos de vista. Basicamente daria para dizer que se trata de alguém pedindo para outro alguém voltar. Mas a frase inicial diz que é pra você soltar do braço do morto e seguir em frente. Isso é dito pela pessoa que morreu ou foi embora. Também dá pra dizer que é alguém pedindo pra que você o esqueça de uma vez por todas. O refrão entra no âmbito do crime passional, o assassino arrependido pedindo perdão para o cadáver que acabou de matar, implorando para que ele acorde. No meu ponto de vista todas as imagens nessa canção ocorrem na cama, talvez porque um quer que o outro acorde. As imagens são claras porque quando escrevi fiquei pensando num cara cantando envolto em lençóis e um corpo nu de mulher contracenando com as palavras. O sentido menos interessante é aquele de alguém que se foi decidido a não voltar mostra apenas mais um fim de relacionamento, espero que as pessoas não abordem essa visão como definitiva sobre a canção.
Não acho que tenha pensado em ninguém quando escrevi essa canção, mas lembro-me de que quando comecei escrevê-la pensei numa piada envolvendo um amigo que queria seqüestrar a ex-namorada e deixar uma carta de despedida como se ela tivesse ido por conta própria, um papel escrito “morri”. Deve ter alguma outra relação com relacionamentos mortos que não foram enterrados, mas prefiro não estragar a canção pensando que se resume a isso.
Cinza é uma daquelas canções antigas, tão antigas que estão por ai desde que alguém inventou as notas e as cordas. É por este sentido que no cancioneiro, cinza soa como uma vinheta para a canção seguinte, REZA, outra canção que poderia ter sido composta em qualquer década. A meia dúzia de frases da canção foram escritas entre 2002 e 2003, talvez e possuiu uma fluência de palavras, que é aconchegante ouvir. Coisas banais como o sol que pinta o cinza, o medo que não existe porque você não está sozinho, coisas que as pessoas falam com os olhos e não com a boca. Um monte de coisas que todo mundo sabe. Em cancioneiro, cinza é a canção que entrega as minhas intenções. Os diálogos de fundo, ruídos que foram gravados em vários lugares, o fato de ter gravado a voz e depois o ambiente, a conversa final com a Gica gravada lá em Blumenau, a piada sobre Bob Dylan “How many? how much? How many times must a man...” inicialmente essa canção nunca seria gravada pois alem do fato de ter outras trinta para gravar essa já havia sido registrada numa versão ruim pelo alter-ego menino errado em 2006. Mas quando mixei o ambiente com a voz, criou um clima que eu sempre quis num disco, mais ou menos como em lonely 1 do wilco mas na versão da trilha de chelsea walls, você ouve o som e sabe que tudo ali existe, está na vida não num estúdio.