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nossos trinta dias sobre o sol (parte 2)

Fiz três textos enquanto viajava, todos sobre a estrada e a derrota:

Milonga.

Eu queria saber pra onde olhar / Quando tudo que eu toco não me é familiar / E a escuridão, já não nos protege mais / tantos olhos, um só infinito / meus olhos já não vêem / Eu não posso te dizer / O que mudou entre nós / entre nós / A luz da outras formas pra o que eu não quero ver em você / ainda continuamos no mesmo lugar / Bem só você mudou e as luzes / e as sombras e as rosas / As nossas rosas / Apodreceram meus sapatos e agora meus pés queimam sobre esse asfalto quente / é um esforço inútil querer fugir pra lugar algum / Fico falando sozinho / dizendo coisas que eu nem sinto / Imaginando alguém vindo na minha direção / Esse sou eu a escuridão / No final do horizonte o mundo acaba. Bem logo estaremos de volta a nossa casa / entre as nossas coisas e as nossas rosas.

Três

Vou contar até três, e rezar que as mudanças apareçam como um susto na escuridão, como ver seu rosto entre as nuvens do algodão. Vou perguntar mais uma vez, quem selou nossa sentença? Quem roubou minhas idéias, dentro da multidão, sem alma, sem coração.

Não há muito, mas é o bastante, volte aqui, me diga como era antes, quando não havia nada, o que realmente importava? Eu não sei.

Seu peito dói e o sol, o sol começa a te envelhecer. De repente você não tem mais doze anos e continua sozinho, bem mais do que antes e a culpa é sua. Tudo o que mudou são coisas e o tom nas palavras.

Eles não te perseguem mais. Eles não te protegem mais.

E é do medo, o que eu sinto falta. Do teu zelo e da tua calma.

E não é muito, mas, se é o bastante, volte aqui, me diga como era antes, quando não havia nada, o que realmente importava? Eu não sei. Eu não sei o que falta.

Venha comigo.

Venha comigo, eu vou tentar lembrar aonde eu deixei as chaves deste rosto fechado.

Venha comigo, eu vou tentar gostar de tudo outra vez, já que meu peito não deixou escolhas.

Venha comigo, eu me divido entre mentir, esconder e fazer parte do seu jogo.

Venha comigo que eu não quero mais lhe dar um outro desencanto ou desencontro.

Venha comigo e faça abrigo neste bolso, entre e coma as migalhas que eu guardei.

Venha comigo, eu vou tentar voltar aonde eu errei, aonde eu errei, aonde eu errei.

Venha comigo, você sabe, você sabe aonde eu errei.

É incrível como a derrota te dá talentos. Sempre achei que a vida tinha de valer a pena de alguma maneira, tudo que acontecesse teria de vir carregado de romance e esforço, algo que enriquecesse a historia e é o que faço desde então, alimentar historias sobre mim, mais ou menos como meus heróis faziam. Jeff Buckley, Bruce Springsteen, Dylan, os Beatles, todos eles alimentam o inconsciente dos fãs de musica pop, muito alem da musica, um cara como Springsteen transpira emoção e vida, de alguma maneira te faz pensar que poderia ser você no lugar dele, tanto que sempre comparo rocky com Bruce Springsteen dos três primeiros discos onde a vontade de vencer o mundo é assustadora. Eu quero ser assim.

Começo ali mesmo no caminhão escrever uma nova canção, “eu não sou um bom lugar”, uma música sobre alguém como eu, que no momento não se sente a melhor pessoa deste mundo, um cara que partiu corações, decepcionou pessoas e viu na fuga uma boa ou a única saída. E é isso que estou fazendo neste momento, fugindo. Não avisei ninguém, simplesmente peguei três camisetas, duas calças, cuecas, meias, um tênis e meu violão e esperei meu pai na Br. Viajo a maior parte da estrada em silencio, derrotado, meu pai não faz perguntas, apenas olha a estrada, ele sabe que estou em pedaços, ele sabe o que é tentar tudo e não conseguir, ele só é mais velho e mais realista do que eu, mas sua solidariedade me deixa um pouco calmo e feliz. Mantenho os olhos na estrada, afinal, estou indo pra casa, mãe.

Estou em casa, dez horas da noite passada, minha mãe fez torta e eu não como esta torta há sete meses. Ela engole o choro em ver entrar em casa derrotado, precisa se mostrar forte como o grande coração que ela tem. Meus problemas psicológicos se agravaram quando soube da quase overdose de remédios que ela teve há alguns dias atrás, tomou tanto calmante pra dormir que seu corpo apagou e a cabeça continuou ligada pela noite toda. Deve ter sido horrível, minha tia ligou pedindo pra vir cuidar dela e eu sabia que a culpa de tudo o que acontece naquela casa é 80% minha. Queria ser um bom filho, mas não consigo satisfazê-los, eles me comparam com outros filhos dos conhecidos e isso me detona. Não sou nada do que eles quiseram e nada do que eu quis até o momento deu certo. E a culpa é minha.