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Para onde vão os refrãos:

A antropologia do streaming das minhas músicas

Uma das delicias de ser um artista do tamanho de uma cabeça de agulha é poder acompanhar detalhadamente para onde vão os seus refrãos – até porque não é tanta gente que ouve música independente. Três semanas após lançar meu disco conseguia perceber que meu álbum estava indo pra mais longe que a esfera do iniciado no indie bananão. É engraçado reparar que, enquanto os downloads ultrapassaram a marca dos 2000 (um recorde pra mim) em pouco mais de 2 meses, a música através do streaming foi alcançando pessoas com gostos ecléticos que casualmente trombam com música independente, gente que te manda mensagem perguntando onde comprar o cd. Isso me leva a pensar em quando éramos todos crianças com instrumentos quando a tramavirtual surgiu.

De repente todo mundo do bairro estava ouvindo música vinda do underground brasileiro e tivemos uma ilusão coletiva de que talvez também existisse gente suficiente para comprar discos, lotar bares, etc. Passado dez anos, vimos que não é bem assim, a Tramavirtual fechou e nesse tempo outros meios surgiram (soundcloud) e sumiram (myspace) até que o serviço de streaming virasse moda em 2013 e principalmente neste ano. Debates acalorados em mesa de bar sobre a pergunta da moda: o streaming vai ocupar o espaço do Rádio popular? Vamos ganhar uns centavos pela execução publica on line? 

Divagações a parte, ter música no streaming faz uma diferença enorme quando você não é ninguém. Ao incluir artistas pequenos em playlists com artistas que dominam as paradas o streaming consegue um alcance maior do que a massa do indiês nunca conseguiu. Pode ser só uma musiquinha, mas funciona, ex: quando a faixa título “cancioneiro” entrou na playlist de lançamentos do serviço de streaming Deezer e de repente centenas de pessoas estavam ouvindo a canção (pode conferir parte da verdade no lastfm), algumas favoritaram e outras baixaram o disco Fui investigar (sim, eu faço esse exercício antropológico) quem eram as pessoas que estavam ouvindo e descobri que havia muito pouco em comum entre a música que faço e a que eles estavam ouvindo. E o melhor: eu não conhecia praticamente ninguém que estava ouvindo. Tenho uma teoria: quanto mais distante fisicamente (e contextualmente) você estiver de quem te ouve, mais próximo de fazer algo realmente popular você estará.