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Quando você não é ninguém, você não tem nada à perder

Quando você não é ninguém, você não perde nada, certo? Toda vez que ouço historias sobre gente que foi arruinada pelo compartilhamento de músicas na internet, fico preocupado com o futuro. Desta vez foi a RIAA (basicamente a indústria musical dos EUA) que ganhou um processo contra um guri que distribuiu 31 canções via kazaa lá no inicio dos anos 2000. Fico imaginando quais seriam essas 31 canções que levaram Joel Tenenbaum a ter de pagar uma bolada a indústria fonográfica. Já pensou se as 31 canções eram de um artista que o rapaz nem gostava tanto e estava apenas colocando na internet para impressionar uma garota que adorava essas músicas? Ou era algo tipo um guilty pleassure, uma boyband que ele gostava quando era mais novo e hoje lhe causaria muita vergonha em qualquer roda de amigos ou em uma entrevista de emprego? Imagine que agora o menino está com 28 anos e tem de conviver com uma divida milionária por causa de 31 canções do Nsinc? 

Eu tenho o costume de fazer versões bem diferentes de canções alheias e dar a minha cara a pequenos clássicos da minha infância. É um exercício terapêutico sem fins lucrativos – assim como minhas músicas autorais que estão aos litros por ai. É uma ideologia minha para com a criação musical, mas sim, eu entendo quem tem medo de ser plagiado ou roubado musicalmente. Quando você não é ninguém, você não tem nada à perder, certo? mas não vou mentir, morro de medo de ser mal interpretado por homenagear artistas e cedo ou tarde chegar uma conta na minha casa via aquela empresa cujo nome não pode ser pronunciado por causa do google search, sério. 

Tem um texto muito bom do Matias no Link do estadão que diz “Quando você não paga por nenhuma mercadoria, a mercadoria é você” - então, quando você baixa uma musica gratuitamente está levando um pouco da vida desta pessoa também e eu acho isso o máximo. Eu gosto de pensar que a internet retirou o valor das coisas feitas pelo homem e o depositou a conta sobre o próprio homem, o homem é a arte e seu premio é existir. Eddie Vedder dizia o contrario “ame as musicas, não os músicos”, amar a música é muito fácil, difícil é amar o homem que a criou. 

Existe um livro chamado “o cantor de tango” que se passa na Argentina e na narra a historia de um jornalista a procura de um cantor de tango obscuro - e considerado melhor que Gardel - que nunca gravou nenhuma canção e se apresenta em locais da cidade de Buenos Aires. Em cada apresentação o cantor descreve uma historia local da cidade, da rua, da esquina, acho bem legal a ideia e invejo.
Toda vez que rola um caso como o da RIAA contra um menino ou da empresa cujo nome não pode ser pronunciado contra centros culturais como museu Guido Viaro em Curitiba (motivando o encerramento das apresentações musicais), fico aqui pensando que não seria má ideia nunca mais gravar nada, apenas tocar por ai quando der vontade contando uma história local. Tenho a real noção de que sou apenas mais um zé mané-ninguem com acesso a internet brincando de fazer musica pop na sala de casa e que ainda não sabe, mas está em uma lista negra neste momento.