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Quando os dinossauros dominavam a sua rua.

Recebi um elogio via email outro dia, era de um cara que me conhecia há algum tempo, mas não sabia que eu tinha um “trabalho musical”. Era uma pessoa das antigas, um cara do segundo grau que não vejo há bons 10 anos, apenas de redes sociais. Questionei-me sobre os motivos e caminhos que levaram minha musica até ele. Imaginei que ele tivesse encontrado um amigo que era amigo que namorava uma menina que me conhecia por causa das musicas e numa conversa assim “oi, o que você está fazendo? E fulana? Tem visto beltrano? Lembra do, como era o nome daquele gordinho de cabelo vermelho? O ciclano! Ciclano emagreceu” ciclano obviamente sou eu. Na minha cidadezinha, as pessoas ainda associam a obesidade a mim e, assim como grunge, ficam em algum lugar da memória afetiva das pessoas que conviveram comigo por logos 20 anos.

Enfim, respondi o email da maneira que sempre respondo, agradecendo e erguendo os ombros, dizendo que tudo é uma grande terapia que faço para superar os anos 90 (e a época dos cento e poucos quilos de rejeição feminina). Adoro pensar que dentro de cada um de nós mora um cara com sérios problemas de aceitação – sejam elas quais forem. Algumas pessoas não aceitam a infância difícil, outras não aceitam os cabelos brancos e passam a vida pintando o cabelo de “Acaju”, tem a minha mãe que não aceita o preço das coisas que acha que consegue fazer o mesmo serviço com um décimo do valor ofertado. Na praia da música, não há nada mais borring do que o cara que acha que qualquer época é melhor do que essa. Sério, cara, supere isso, se você acha que a década de 80 - com todos aqueles plágios descarados e artistas filhos de papai diplomata - é melhor do que essa época atual onde todo mundo produz arte independente do mercado e do financiamento - e a mil por hora, voce é simplesmente um idiota. O serviço que a internet fez para a minha turma foi tirar a arte do mercado e devolver a arte aos artistas. E ai, sobrevive que se esforça mais e quem erra menos.

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O único problema da internet - ao meu ver - é o imediatismo, uma corrida louca que atropela os mais lentos e ignora os menos ágeis, desaparecendo quase que por completo a lembrança de coisas que aconteceram há pouco mais de 2 ou 3 anos, um exemplo: Beachwood Sparks.

Beachwood Sparks é uma banda altamente influenciado por Byrds e pelo fantasma do Gram Parsons. Foi a banda queridinha dos indies tristes da virada do milênio, lançou dois álbuns lá no inicio dos anos 2000, alguns eps e varias bandas vieram na coloca BS, tai o band of horses fazendo shows no Brasil. Acontece que o mundo mudou depois do bug do milênio e a banda ficou perdida lá atrás no inicio da internet 2.0 até que a produção do filme de Scott Pilgrin ressuscitou a canção “by your side” para a trilha do filme indie mor do ano passado. Resultado: o beachwood sparks lançará álbum novo este ano.

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Qualidade musical  versus timing, álbuns com pouco mais de 10 anos que a memória da internet trata como se tivessem sido escritos em 1968. O que são dez anos? Na teoria nada, mas no ambiente virtual, 10 anos é igual 100 anos, não existia nada do que existe hoje e todo esse lero-lero digital. O imediatismo online muda a percepção do tempo e te obriga a produzir constantemente para continuar existindo e sendo lembrado. E produzir para existir pode ser muito perigoso quando o assunto é criação, perigoso no sentido de virar uma grande emulação do que é realmente a vida, mais ou menos como continuar morando na mesma rua com os mesmos amigos, com os mesmos vizinhos para continuar lembrando dos melhores tempos de sua vida, quando os dinossauros dominavam o mundo ou apenas a sua rua.