“Das coisas insignificantes, a música pop é a mais
importante.”
Não sei quem foi que disse esta frase pela primeira vez,
provavelmente nem seja exatamente assim e nem mesmo fale de música e sim do
peso da uva, do café ou do Futebol. É apenas uma grande verdade quando a
colocamos do lado da pilha de contas a pagar.
O fato é que muita gente – eu incluso – deposita boa parte
do tempo de sua vida neste planeta para ela – sem ao menos receber algo em
troca. A música pop é uma namorada muito exigente e o seu amor por ela é
doentio, por ela perdemos amigos, boas piadas e
entramos em discussões sobre assuntos que não levam à lugar algum.
Parafraseando Bruce Springsteen, há uma piada em algum lugar e é sobre você, eu
e todo mundo que pensa estar fazendo algo relevante enquanto escreve uma
música, na duvida, pergunte aos seus vizinhos.
A canção pauta minha vida desde que minha mãe me pegou
socando a antiga maquina de costura dela como se fosse Steven Adler – o
baterista problema do Guns’n Roses - até hoje, enquanto tento decidir a ordem das
canções de um disco que não sei se vale a pena lançar. Quando entrei nessa de
compor, gravar, fazer música e tal, nunca me passou pela cabeça passar uma
década inteira nisso. Aos 20, eu morria de medo de me tornar um pai de família
preso numa calça apertada, segurando uma guitarra e cantando sobre como prefiro
dormir e esperar um dia que nunca vem à acordar cedo e tomar um bom café da
manhã e aproveitar o dia sob o sol. O que eu vejo ao meu redor, o que eu
aprendo olhando as outras pessoas é que a vida consiste em uma luta para não se
tornar o Axl Rose do bairro – ou seja: aquele que envelheceu pior entre aqueles
que envelheceram mal.
Colocar sua fé na música pop é desprezar as bóias e acreditar
no poder de único barco salva-vida disponível para um Titanic inteiro de
esperanças afundando lentamente, dia após dia.
Existem dois exercícios mentais que faço toda vez que
escrevo uma canção: o primeiro consiste em um teste de nivelamento da vergonha
na cara que é preciso ter para continuar cantando certas coisas. O exercício
dois é tentar imaginar em que situação eu ouviria a tal canção e a reconstruo a
partir desta situação, tentando ao máximo criar ícones que possam fazer qualquer
se identificar. Odiaria pensar que há um disco tocando por ai e é sobre a minha
vida, não é, nunca é, mas pode ser sobre a sua, por mim, ok.
Música boa é música sobre a vida dos seus amigos, sobre a
cidade que você mora, sobre a menina que dança enquanto você bebe olhando para
ela e é, essencialmente, sobre a vida que continua enquanto os outros desistem
ou morrem.