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Existe um abismo na musica autoral brasileira maior que o Grand Cânion que separa um artista profissional do resto. O resto somos nós, eu, você, todo mundo que não sobrevive da sua arte, não tem uma produção trabalhando fulltime para que você só tenha o trabalho de criar. Claro que estou generalizando, dentro do resto há gente “profissional”, sim, mas que foi incapaz de cruzar esse abismo, gente como o Cidadão Instigado, por exemplo.

É interessante presenciar o exato momento em que um artista atravessa esse abismo. Esta semana, o Paço, unidade do SESC que eu trabalho, trouxe a Curitiba o show de Marcelo Jeneci um dia antes de sua primeira apresentação no Programa do Jô. No dia seguinte já estávamos no teatro com sua pequena equipe e com a banda dele, uma gente simples, atenciosa. Até ontem, 2009, Jeneci era musico de apoio de gente famosa, arnaldos, chicos, entre outros e agora ficava no centro do palco e pela primeira vez, num programa formador de platéia que acha que tem opinião. Tímido, ainda deslumbrado com o tratamento de estrela que vem recebendo, o cara é um bom moço, como disse alguém após o show. Na verdade, ele era um dos vários anônimos da musica pop brasileira até terça a noite. Assim como a banda de apoio do homem, formada por vários anônimos famosos, gente do quilate de Curumin e do vocalista da banda Los Piratas, Paco Garcia - anônimos para o publico novo rico do Jô. Mas no teatro, em Curitiba, com 200 e poucos lugares preenchidos, eles eram aplaudidos igualmente por boa parte do público que é indie de pai e mãe. Pelo que lembro, agora, o Los Hermanos tinha sido o ultimo a cruzar o abismo. Este ano, Jeneci e (parece que) Tulipa Ruiz fizeram a proeza.

Gosto muito da musica do Jeneci, gosto porque identifico algo de mim ali, sei lá, uma vontade enorme de usar o indiês para tocar temas populares para pessoas incapazes de diferenciar a musica pop brasileira de 1º escalão (U2, Legião e Marisa Monte) do 2º escalão (Radiohead, Los Hermanos, Vanessa da Mata), gente como minha mãe ou como o Jeneci disse por ai, musica para agradar as sogras. Mesmo que no fim, seja apenas um monte de canções tradicionais sendo revisitadas com mais punch e ironia. Mesmo que o uso da sanfona possa se tornar insuportável em breve, acho bonito ver que ele achou a saída dentro dele mesmo, como deve ser, sempre.
Algumas pessoas conseguem e outras não.

Volto sempre naquele papo de quem vai pra frente é quem erra menos, quem tem uma visão diferente a apresentar da mesma historia. A musica que não sobrevive dela mesma é cheia de ranços do qual parece impossível se livrar. Tocamos mal, repetimos as mesmas idéias e os mesmos refrões, quando não ficamos naquela de “minha vida é uma merda, lalala”. Quando foi a ultima vez que voce aprendeu uma coisa nova? Dizer que seu estilo “é assim mesmo” ou bater o pé e falar que o indie/underground/lo-fi é sua opção, serve apenas para maquiar o obvio: não somos bons o suficiente.