Planeta Terra, uma grande casa de apostas girando sobre seu próprio eixo.
A gente aposta o tempo todo. Aposta no passado, aposta no futuro, mas principalmente, aposta no presente. Aposta em coisas nas quais você sabe que não há futuro, mas que podem te dar algum presente, alguns trocados, algum tempo pra respirar enquanto o final não vem. Sim, todo viciado em apostas sabe que o final virá, mas continua apostando porque é assim que se consegue a redenção, é o que diz a bíblia. Você aposta que seria bom mudar, deixar a vida ver suas cartas, afinal, apostar não é a pior coisa a te acontecer. O problema é que a cada rodada tudo parece tão mais familiar, você não lembra, mas sabe que isso já aconteceu e irá acontecer outras vezes.
Atualmente, é função do álcool “romancear” as coisas que você esquece, os erros que você repete e as coisas que ficam pelo caminho, mas se você preferir pode dar esta função ao tempo - codinome cansaço. Ganhar, perder, vencer, vencer pelo cansaço ou ser derrotado através dele. A vida nem sempre tem de ser uma “leaving Las Vegas”, mas infelizmente, para alguém, sempre será e se não for a sua, será a de alguém cuja dor é, de alguma forma, culpa sua.
Adoraria pensar que preencher o vazio dentro de mim é mais fácil que preencher o vazio do vizinho, pena que já vi o apartamento do vizinho e acho que estamos competindo em níveis diferentes de vazio. Ainda não tenho know-how pra discutir o vazio existêncial-sentimental e a ironia que existe em pendurar roupas para secar nas paredes da sua sala. A gente sempre quer fazer de conta que nossas mazelas têm mais glamour, mas tirando o cheiro, merda é só merda. Toda vez que não me sinto bem, compro algo que seja capaz de emular a felicidade. Assim, aos poucos, a casa vai se enchendo de brinquedos, de discos, de livros.
Algumas pessoas pintam quadros, fazem canções, escrevem livros. Outras apenas fumam e assistem o tempo passar – e isso é uma das coisas que eu mais invejo no mundo das artes: a arte de deixar o tempo passar. Mas não, você sai por ai tentando preencher um buraco dentro de você que não pode ser preenchido com algo que não quer ser estanque de buraco algum. Ai quando se dá conta que esponja nenhuma no mundo será capaz de secar o chão da sua casa, te resta esperar que o sol apareça e seque tudo pra você. Então você levanta, lava a cara, se arruma e começa tudo de novo. Novo dia, nova aposta.
