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Geração Sapatênis

Eu moro na frente do cefet em Curitiba e todo dia cruzo com uma quantidade enorme de adolescentes e jovenzinhos. Eu olho para eles e penso “nossa, como a adolescência é patética”. Chego em casa correndo para almoçar e voltar para o trabalho e me olho por uns segundos no espelho: estou com o cabelo cada dia mais branco (grisalho) e ainda não cheguei aos 30 anos, nem aos 29 anos. Preciso fazer minha identidade nova agora, porque meu tempo é agora, depois dos 30 começa o processo de downsizing da vida social e –
queira você ou não – você terá de aceitar que não é mais da turma dos jovens, voce é da geração sapatênis. Ainda ganho Allstar da minha mãe, como há 15 anos atrás. O primeiro custou 10 reais em 1996, o ultimo custou quase 100 reais. Passei meses sem colocar um tênis no pé, mas estão ali, um ja virou até souvenir na estante. Minhas camisetas de bandas são camisetas de bandas de amigos. Outro dia atendi uma menina com um moleton escrito “Bullet for my valentine” e não sabia do que se tratava. “- é uma banda isso ai?” “- é uma banda de metal gótico” “- sei, tipo um evanescence” “- não!” “-o nome é meio emo” enfim, eu não conhecia uma banda aparentemente famosa. Ela perguntou o que eu gostava e eu não soube responder. Se eu dissesse que eu ouço de verdade, me sentiria velho de vez, me sentiria como quando eu perguntava para o meu tio o que ele gostava e ele respondia “creedence e direstraits” e eu zoava. Então resumi tudo a “folk, blues, soul” e as bandas dos meus amigos e ela olhou desconfiada.

Há dez anos atrás eu saberia até a cidade natal dos integrantes, mesmo sem gostar da banda, mas hoje eu não sou da turma das novidades, eu estou quase na turma dos ressentidos para com a juventude que não dá lugar no ônibus para os mais velhos como, se na nossa época de colegial, fossemos os mais educados do mundo. Odeio pegar o ônibus perto do Colégio estadual e ver aquele monte de adolescente se beijando, matando aula. As vezes ouço um “meu amor” dito por essa garotoda e tenho vontade de repreender, mas apenas faço um “tsc tsc tsc” com a cabeça ou com a boca.

Li outro dia que a moda para calçados masculinos deve continuar com a ascensão do sapatênis. Os fabricantes deveriam alerta-lo de que o uso
constante deste calçado te denuncia como homem sem estilo, você é apenas um homem médio silenciosamente tentando se agarrar de qualquer maneira a juventude. É difícil aceitar que te colocaram em uma categoria que não te identifica, você fazia isso com os outros quando era novo e agora fazem com você, é o que chamam de ciclo. Com a franca dominação do universo pelos gays ou pelos mais jovens que você, ser homem, heterossexual, estar entre os 27 e os 32 anos e ter algum (bom) gosto pessoal em 2010 é como estar em uma espécie de limbo cultural-existencial. Logo não existirá nada para a gente e ficaremos refens do sapatênis caramelo e da camiseta pólo.

*update: "sua juventude acabará quando você passar a usar roupas de domingo sem que ninguem te obrigue."