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carnê da casa própria.

No carnê da casa própria desta vida que insistimos em levar para frente, acho que finalmente estou no “azul”, conseguindo pagar em dia minhas contas com deus. Eu costumo ser sincero aqui, ali, mas ainda há coisas que me envergonham, coisas mal resolvidas com amigos, com mulheres, com inimigos e com a minha cidade principalmente.

Minha cidade tornou-se referencia nos últimos anos, mas não a cidade de hoje, a cidade que eu conheci na minha infância, aquela com meio-fios e ruas de calçamento, casas de madeira e pessoas simples. Mentira, as pessoas nunca foram simples, em 1980, minha mãe já tinha um amigo gay, que todo mundo sabia que era, mas ninguém sabia o que era. Já havia drogados em 1980, diz ela que meu pai (o de sangue) não usava drogas, apenas enrolava “paiero” (cigarro da roça) de vez em quando. Ai que eu te pergunto: meu pai era todo modernozo, tinha banda e tal, fumando cigarro de palha? Abre o olho, mãe. E já havia o método aproach e o stalkerismo - que celebramos no primeiro Lovecast. Em varias fotos da mãe, meu pai (o de criação) aparece no fundo com outra garota, mas muito próximo da mãe. Quando não havia internet, o que eles faziam? Iam no trabalho da fulana(o) para pescar informações. Minha mãe, esperta, fazia o mesmo e e enfim, deu no que deu.
Quando eu fecho os olhos, volto a morar na casa dos meus avós. Toda de madeira e com vários cômodos, ela me lembrava uma destas casas de filmes sobre o sul dos EUA. Não foi meu avo quem construiu, acho que ele apenas tratou de fazer o puxadinho de alvenaria nos fundos, mas na minha memória ele sempre esteve lá. Foi ali que eu morei enquanto minha mãe estava aqui em Curitiba. Ela me conta que decidiu largar os estudos e voltar a cidade porque eu chorava no telefone pedindo que ela voltasse. Faltou uma terapia pra esse garoto de 1985 e alguém que fizesse ele garoto sossegar e deixar sua mãe em paz. Ironia do destino, hoje o telefone vermelho da casa dos meus avós mora em Curitiba e fez dueto comigo em uma musica.
Lembro de quando os tios se reuniam no sábado de chuva e ficavam ali fazendo doces com minha vó. Quando lembro disso, lembro do gosto do puxa-puxa. A criançada ficava na frente da casa ou na parte de trás, na frente havia a garagem que servia pra brincar com a “fubica” e com um trator que eu tinha. A fubica era um cadilac de fibra sem capota que se movia via pedais. O trator era um triciclo que era um trator de plástico. Todo mundo ganhou triciclos decentes, um primo tinha um do batman com businas e farol com o símbolo do batman, eu tinha um trator. Um primo mais velho e muito magrinho pediu uma fantasia e ganhou a do robin. Quando chegou minha vez, ganhei uma roupa do batman com acessórios que cabiam no gordinho. Então, ficavam a dupla batman gordinho e franzino robin de triciclo pela casa dos meus avós.
Num destes finais de semana minha prima atirou um vidro de conserva na minha cabeça e fui parar no hospital para fazer pontos. Num outro, enfiei uma pinça na tomada e fui eletrocutado. Na sequencia tive uma convulsão que diziam ter acontecido pela ingestão de melancia, melancia. Fiquei durante anos sem comer a coisa por achar que me fazia mal e foi preciso um médico dizer que o problema era outro, bem pior. Fora que passei uns cinco anos da minha vida dentro de uma piscina de 2500 litros. Eu respirava de baixo de água, só isso explica nunca ter me afogado.
Lembro do meu aniversario de 4 anos, logo que a mãe começou a namorar meu pai (o de criação) e eu ter gostado logo de cara dele (eu não gostava de muita gente). Hoje vendo as fotos, é fácil entender porque - ele parecia um Menudo! Todas as minhas lembranças passam por coisas idiotas como arrancar erva doce, moranguinhos e “funcho” e comer sem lavar (que me renderam marcas nos lábios para toda a vida) e o medo que eu tinha do porão da casa. Havia um sapo seco pendurado e isso servia para me fazer não querer entrar lá de jeito nenhum.
Há dois dias sonhei com essa casa e lembrei da vez que tentaram assalta-la. Eles viajaram para a casa da praia e os ladrões tentaram invadir – creio eu achando que não havia ninguém em casa, casa de caminhoneiros, saca? Vivem viajando, etc. Mas o tio mais novo estava em casa (acho que ele tinha a idade que tenho hoje) ouviu o barulho, pegou a arma que a família tinha e ligou para um outro tio – que mora até hoje na esquina da rua – e ele veio "acudir" também armado. Tentaram render os bandidos, que acabaram fugindo pela vizinhança – um deles havia sido baleado e foi legal ver o sangue na cerca.

Há tantas historias nesta casa que se um dia tiver dinheiro para reformar uma casa só para meu deleite, farei com essa, que é uma espécie de museu mental da minha família. Pena que os Rufattos nunca deram muita bola para o passado.