A arte perdida de ficar na sua.
Historicamente eu nunca fui um cara na minha, sempre fui um intrometido. O problema é que as pessoas passaram a esperar que eu me intrometesse e ai eu não pude mais parar de querer que precisassem de mim. Acho que tinha uns 15 anos quando me chamaram de polivalente, antes só me chamavam de hiper-ativo e de metido, mas até ai, tudo bem, pra mim, parecia que todas as crianças eram. A adolescência, veio, maltratou, foi embora, veio a lira dos 20 anos, um monte de indefinições e eu sabia que , tirando a minha mãe e minha vó, ninguém tornaria minha vida mais fácil. E entre se definir pelas coisas ou esperar elas se definirem, preferi fazer de tudo um pouco, quase tudo por conta própria e transformando isso em minha válvula de escape. Na música é o que chamamos de one man band, na vida chamamos de individualistas, mesmo que, no fundo, somos todos um bando de decepcionados. Quanto mais o tempo passa, mais me deprimo com as pessoas ao meu redor. Pessoas que não aprendem, que não se reciclam, que não se interessam pela vida. Fazem aquela nota sete básica que aprenderam a fazer na escola e hoje seguem pintando o mesmo quadro, andando pela mesma quadra todo santo dia. Entendo, ter uma vida de verdade deve ocupar um tempo enorme, tempo que faz de você um ser incapaz se por no lugar do outro. O ser humano médio, aquele que vive dentro de mim e dentro de você, está sempre em função e ocupado demais para notar a vida ao seu redor. Ai está você, navegando por ai nos mares em busca de coisas que oscilam entre encontrar comida, encontrar um amor e encontrar um lugar no mundo. Dizem que antigamente era mais fácil acertar na loteria, antes da gente precisar gastar tanta energia tentando ser alguém com coisas. As vezes você acerta, as vezes você erra. Meu avô morreu jogando toda semana na loteria e emprestando dinheiro a parentes, acho que herdei dele essa mania de ter esperança, de apostar no cavalo errado todo dia.
Ontem uma menina me disse que minhas musicas eram tristes, que eu deveria fazer canções alegres. Minha resposta foi: “você sempre me vê rindo, né? Sempre de bom humor, não é?” “é por isso que minhas canções são tristes, são melancólicas, são assim, porque toda vez que alguém me trata mal, eu faço uma canção” É isso ou acabar como o caixa do mercado que ouvia reclamações de todos os tipos, todos os dias. Um dia ele veio armado em matou todo mundo.
