Um pouco de historia pra vocês.
Eu nunca tive uma “moradia” estável nesta cidade. A conta era basicamente assim: ou eu tinha casa e não tinha emprego nem amor; ou tinha amor e não tinha casa e emprego ou tinha emprego, mas nada das outras duas pontas. Desde que cheguei em Curitiba, minha vida sempre esteve nos extremos, quase quebrando mesmo. Da fase de morar na sala dos outros, eu passei a dividir apartamentos e sofrer com impossibilidade de fazer música e pagar um aluguel ao mesmo tempo. Uma hora eu desisti e voltei pra casa dos meus pais, em 2008 e fiquei indo, vindo, de acordo com a grana dos freelas. Passei 2008 inteiro dormindo na sala da Letícia ou andando por ai madrugada a dentro. Em 2009, as outras partes se acertaram, e foi mais ou menos como uma aposta/promessa: em julho haveria o Rock de Inverno e a Hotel Avenida tocaria. Então, do sofá-cama da Lê, fomos para um Ap gigante duas quadras acima na mesma semana em que a Hotel lançou o single de “eu não sou um bom lugar”. Eu ainda dormia num colchão emprestado, mas num quarto só para mim. Fiz a entrevista no SESC no mesmo dia que toquei no Rock de Inverno - cheguei em casa as cinco e a entrevista era as nove, não lembro, mas possivelmente fui com a mesma roupa que está na capa do Bootleg. Nessa época tambem conheci a garota que viria a ser minha namorada. Não sei se acontece com vocês, mas comigo, a tangente sempre se dá em maio-junho-julho, é sempre nestes meses que a vida muda, bem ou mal, muda. A santa tríade Amor-casa-trabalho durou 3 uns dois meses no máximo, logo nosso ap grande e idoso entrou em sítio: as reformas no apartamento de cima revelaram que o prédio poderia cair por causa da caixa d’agua. E foram varias piadas atrás da outra: da reforma veio a noticia que havia um pombo morto na caixa e teriam de trocar a coisa toda. Ok, o pombo não matou, mas cortou nossa água por quase um mês. Estavamos enlouquecendo, três pessoas morando em condições absurdas, eu tomando banho nos amigos e a meninas nos namorados. Fora o dia em que alguem "cagou" nos dois banheiros do Apartamento e quase matou todo mundo. Enfim, sobrevivemos por um triz ou dois. A mazela durou até dezembro quando nos mudamos – cada um para um lado, eu para um quarto/flat no centro cívico de um amigo onde morei até o ultimo domingo. Hoje, depois de 5 anos pulando de galho em galho (quatro galhos só neste ultimo ano), tenho meu primeiro AP cheio de coisas minhas, só minhas. Tudo bem que é alugado, mas está alugado só no meu nome, tem cortinas azuis e discos do Bruce Springsteen pendurados na parede da sala. O sofá-cama que ganhei de herança quando meu avô morreu está aqui, o primeiro telefone que aprendi a discar tambem, 32-1220, sempre foi o número da casa dos meus avós pelo menos desde quando eu nasci, ele é lindo e vermelho. Ainda falta resolver a equação de onde colocar a maquina de lavar roupa que, por enquanto, inviabiliza a cozinha, mas fora isso, tudo nos trinques. Me sinto adulto pela primeira vez, acho, mesmo que ainda tenha vários brinquedos na estante.