Uma noite pela capital do estado.
1
- Que diabos de homem eu sou? Encaro o inferno e lhe decoro com palavras bonitas? Sou incapaz de desejar mal para o meu inimigo? Vamos, tente. Tente. Estou lhe dizendo, tente isso, você consegue. Uma noite toda de olhos, bocas e linguas se cruzando
– alguém ferido? – alguém ferido?
– o #12&35 foi atingido!
– que belo estrago fizeram neste homem aqui!
– alguém o socorra antes que seu coração pare.
– Está tudo bem, está tudo bem, vou levar alguém comigo antes de me deitar.
É o que tento provar mostrando que um estilhaço vindo da trincheira vizinha fez bem aqui e que, incrivelmente não dói mais. Os olhos mudam, os desenhos feitos pela artilharia continuam fortes.
2
Olhar para uma garota num bar e imaginar que talvez ela tenha uma vida emocionante vem se tornando difícil a cada dia. Não que elas não tenham milhões de planos escondidos sob a pele – é bem provavel que tenha dias incriveis até, mas com o tempo a procura se tornou um ato repetitivo e você sabe que é inútil porque não é o que elas querem. Elas não querem que você escave e descubra seus segredos. Entenda de uma vez por todas:
- rapaz, elas não querem ser salvas.
Mulheres gostam tanto de jogos quanto homens. A gente sempre começa um dizendo não querer chegar a lugar algum, mas ninguém, ninguém sai de casa sem ter o destino desenhado na cabeça. O flerte é a única competição em que perder significa ganhar na maioria das vezes. Você não imagina
3
Até chegar aos vinte anos, morando numa cidadezinha estúpida, achava que sexo era
Outro fato interessante sobre pessoas perdidas por ai na noite é o incrível numero de relacionamentos que começaram sem que as partes envolvidas tenham dito uma frase interessante sequer, apenas estavam ali e de repente foi. Foi tanto que não conseguiram voltar e acabaram ficando pra sempre.
4
Fulano de tal, um cantorzinho mulherengo (que aos vinte e seis anos de idade não consegue ao menos pagar o aluguel sem ajuda dos pais, mas essa parte ninguém precisa saber) que se orgulha de ter uma canção para cada dia do ano e para cada mulher de sua vida. Eis um cara daqueles que se diverte deixando mulheres apaixonadas por ai ou alimentando paixões impossíveis só para ter sobre o que cantar e reclamar da vida. Vive lendo um monte de escritores que mal consegue pronunciar os nomes direito e diz que isso não importa porque quem cita nomes são enciclopédias e não pessoas. Odeia hippies, adora hypes, embora goste de Caio Fernando Abreu, um escritor incrível morando dentro de um hippie sujo. Ele também escreve sobre quase tudo que existe de supérfluo e irrelevante. É claro, deve ter uns três livros guardados em seu computador, textos ruins e tão obsoletos quanto o uso da palavra obsoleto num texto. Acha que as pessoas se importam com o que ele produz, se acha relevante e tal, mas tudo se passa ali em sua cabeça e dentro dela é fácil acreditar que estamos falando de um homem incrível. Usa seu nome composto, mas quase nunca o chamam assim. Sua mãe foi esperta quando separou seu nome em duas palavras, três com o sobrenome, e sem querer criou uma manha para que o filho possa parecer mais interessante, quando na verdade é só um cara com um nome legal fazendo pose com um copo meio cheio nas mãos. Todo mundo o vê, mas ninguém arrisca contato imediato. É claro, como todo homem de Deus, se encarrega de alimentar suas próprias lendas pessoais, uma para cada ano de sua vida pelo menos, todas incrivelmente confirmada por sua maior fã, a mãe. Enfim, você passaria uma noite incrível com ele, talvez um mês, mas duvido que consiga agüentar um ano.
5
- Ela é só mais uma garota com grandes tatuagens e um vestido fácil de tirar. Se eu quiser, realmente quiser ela cai, um minuto olhando para suas coxas e já sei por onde começar. Tudo isso fica aqui, na memória, enquanto olho estas mãos vazias e covardes. Quando estou bebendo, fazendo meu melhor sorriso para a trincheira vizinha a vida parece ser de plástico, um comercial de TV cuja o plástico foi derretendo e aos poucos o que fica é um esqueleto com veias verdes. Ainda bem que ninguém aqui quer nada, nessa altura da vida, nem eu, nem você suportaríamos rejeições, mas estamos todos ali com todos os dentes
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Agora estou aqui, dia seguinte sem conseguir dormir e me recuperar, culpando-me por deixar as chances de lado. Obviamente as possibilidades geram outras historias e a gente cai nessa de teorizar sobre amores possíveis
A maior parte da diversão intelectual consiste em flertar com o desconhecido