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Fita Cassete

Fita Cassete

Textos por Giancarlo Rufatto

Coletânea.

01 mayonaise, The Smashing Pumpkins.

02 i see a darkness, Johnny Cash.

03 if you see her say hello, Bob Dylan.

04 dancing in the dark, Pete Yorn.

05 so real, Jeff Buckley.

06 god only knows, Beach Boys.

07 come pick me up, Ryan Adams.

08 love will tear us apart, Joy Division.

09 crazy about you, Whiskeytown.

10 twilight, Elliott Smith.

11 highlands, Bob Dylan

12 life in a glass house, Radiohead.

13 sour times, Portishead.

14 Howl, BRMC

15 you and me song, Wannadies.

16 when you come back home? Ryan Adams.

17 hey, Pixies.

18 a day in life, Beatles.

19 The darkness on the edge of town, Bruce Springsteen.

20 love is a losing game, Amy Winehouse.

21 last goodbye, Jeff Buckley.

22 clementine, Elliott Smith.

24 Með Blóðnasir, Sigur’ros.

25 highway 61 revisited, Bob Dylan.

26 racing in the streets, Bruce Springsteen.

27 don’t take my sunshine away, sparklehorse

28 dancing in the dark – Bruce springsteen

29 The ballad of thin man – Bob Dylan

Mayonaise.

Tinha 13, talvez 14 anos, nunca me lembro exatamente de datas, passei boa parte da minha vida pensando em datas, por isso a razão de não querer lembrá-las mais. Havia uma garota. Sempre há uma que é sucedida por outra e outra, mas essa não era comum, ela era uma menina legal de 13 anos. Tinha laços engraçados nos cabelos pretos e lisinhos, uma saia que a fazia se parecer com a Vandinha. Suas mãos eram pequenas e delicadas, mas tinha um anel grande, provavelmente um presente de família fazendo o contrapeso ao seu pequeno corpo. Definitivamente era uma garota legal de uma família legal, sua mãe era amiga da minha e seu irmão tinha discos legais. Eu fantasio sempre que lembro dos detalhes desta historia que entre os discos havia um do the cure, Head on the door, aquele de "closed to me", porque eu me lembro de ter ouvido "a night like this" pela primeira vez com ela. Eu tambem bem me lembro de Mayonaise, a nona canção de Siamese dream do Smashing pumpkins.

Eu me lembro que era mais envergonhado do que hoje, para ser mais exato, eu era m-u-i-t-o tímido, nem sei por que ela gostou de mim, acho que eu dizia coisas bonitinhas e enquanto os outros garotos só pensavam em futebol eu já havia lido livros - uns dois, eu acho. Quatro anos depois quando reencontrei essa menina, agora uma moça linda, bem vestida, sorriso e dedos bonitos, ela tratou de lembrar de duas das historias que mais me envergonharam nestes anos. Primeiro, ela riu e disse o que não esquece, contando a maneira como eu disse que gostava dela, mais ou menos assim: eu falei bem baixinho e ela não ouviu. Então ela pediu pra eu falar direito, e falei alto, todo mundo ouviu, me senti azul, falei (correndo) e disse que precisava ir ao banheiro e bem, é deste banheiro que vos escrevo. Mas a garota continuou lá me esperando.

Suas amigas pareciam um time de handebol, grandes, ela era uma bailarina, fazia jazz, a dança, que pelo nome só poderia ser algo bom. Saímos de mãos dadas, nunca havia sentido uma sensação tão esquisita, quando eu ameaçava soltar, ela apertava mais forte. Ainda não haviam beijos, ainda não, a época era outra, o inicio dos anos 90 nas cidades do interior é igual ao inicio dos anos 60 nas cidades do interior, só mudam-se os brinquedos. Não haviam tantas coisas assim por aqui como hoje nós imaginamos e fantasiamos quando falamos do fim dos anos 80 e do inicio "alternativo" do anos 90, eu pessoalmente só lembro de bicicletas, videogames e GI-JOE. Combinamos irmos todos ao parque de diversões que estava a uma quadra do prédio onde eu morava, onde hoje é um supermercado. Eu contava os segundos, estava ansioso e essa ansiedade não me deixava doente como hoje em dia, saímos em direção ao parque, de mãos dadas, sorriso estampado, esse parque estava me dando sorte, dois dias antes havia ganhado um bom dinheiro num joguinho.

O parque não era grande coisa, mas ficamos por lá, com os seus, os meus amigos e a minha timidez, ali não existia a menor chance de acontecer alguma coisa que dirás um beijo, sou tímido. Ai então que ela teve a brilhante idéia de andar de roda gigante. Como? Roda gigante? Ah não, eu tenho medo de altura, ah vamos, vamos. Assim podíamos ficar sozinho e seria um clichê romântico. Meu Deus, acho que demorei uma hora pra sucumbir aos pedidos fofinhos um disco do "belle and sebastian", um tigermilk em forma de pedidos e conseguir sentar no banquinho daquela roda aterrorizante. Ela pegou a minha mão colocou entre as suas e me carregou até lá, e falou baixinho, "agora sim". Eu estático, sem conseguir reagir enquanto aquela roda começava a se mexer, ela apertou a minha mão e se acomodou embaixo do meu braço, tentando tocar no meu rosto, e eu tão preocupado em não morrer, nem percebi que talvez ela quisesse me beijar, mas porque droga, ela fez um movimento brusco pra isso e que pôs tudo a perder, desestabilizando o banco no qual estávamos, meu Deus, não pensei em mais nada, comecei a ficar tonto, nem ouvia o que ela tava tentando dizer, e aquilo balançando mais que o meu estomago, ela ali do meu lado vendo eu passar mal, humpf, droga. Mas não morri não. A roda parou e nós descemos, eu quase morrendo vendo a menina legal do meu lado bem sem jeito, alguns dos amigos dela rindo, todos os meus amigos rindo muito mais. Sentamos num murinho, ela continuava sem jeito, me deixou um pouco com meus amigos e foi com as suas amigas pra outro lugar do parque, pelo menos minha tonteira tava passando, mas tava vendo nosso encontro indo para o espaço, já não tinha esperanças de que algo legal acontecesse entre a garota que era legal com vestido da Vandinha e o idiota que passou mal na roda gigante, mas eis que a garota que era mesmo legal (não diria que era legal se realmente não fosse legal) voltou, sentou do meu lado, me ofereceu algodão doce. E quanto mais o algodão rosa era consumido mais nossos dedos lambuzados se encontravam e nossas bocas se cumprimentavam até finalmente chegar ao fim do palitinho, ela olhou para nossas mãos, tirou um pouquinho do algodão que tinha lambuzado seu rosto, enquanto eu tentava limpar meus dedos ela se curvou e me beijou...sim um beijo lambuzado de algodão doce, muito melhor que qualquer um que tivesse acontecido naquela roda aterrorizante, e outro beijinho, mais um, e mais um, beijos delicados como suas mãos e seus cabelos pretos e lisinhos (tenho certeza de que hoje essa menina legal deve adorar ouvir coisas bonitinhas, wannadies, belle and sebastian, pumpkins safra siamese dream, além de colecionar óculos de armações diferenciadas). Nos abraçamos forte, era gostoso, mesmo, parecia um daqueles abraços sinceros, tipo um "upa" infantil, mas foi bem melhor, b-e-m m-e-l-h-o-r, levantamos do murinho, nos olhamos, esqueci de todos que ainda riam e tratavam de contar a minha tragédia para todos que surgiam, só queria estar ali do lado dela. Ela olhou para os nossos tênis, pra nossas mãos lambuzadas que agora também estavam dadas, olhou de novo pra mim, deu uma risadinha daquelas de cantinho e disse: "-mais um algodão doce???"


I see a darkness.

A porta do elevador se fechou, eu desabei com o prédio. Mentira, o prédio continuou no seu lugar, com seu pé direito alto, eu não, há dias meu pé favorito é o esquerdo. Arrastei-me até o quarto, o peso da minha cabeça afunda meu corpo ali. Não quis ver a decepção no meu rosto, não quis ver o meu amor morto. Lacunas sobre quem você era, o que disse desde o inicio, sobre querer saber mais. Nada, sou um mentiroso e só enxergo meus próprios deleites. Ok, isso não é verdade, mas adoraria que fosse pois ai então nossas discussões acabariam. Enxuguei as lagrimas e ainda haviam varias, mas eu não queria nenhuma delas, eu só deveria dormir, é o que faço, dormir. Só para constar, passei a nossa ultima noite tendo ciúmes dos outros casais que ali estavam, que se abraçavam e sentiam necessidade da pele do outro. Enquanto penso, vou fazendo de conta que isso não me dói, troco o disco, aquele sobre o fim do relacionamento entre polly e nick. Eu diria contemplador. Mal saberia este moço que menos de vinte quatro horas depois, estaria realmente no mesmo barco do amor, nome do disco, solidário a toda injustiça que possa haver num fim, inevitável. Há pouco mais de três meses escrevi uma canção sobre quando tudo da errado, era sua canção preferida, ironia, nos encontrarmos neste mesmo passo, nessa mesma valsa. Bem, é isso. Não sou nem um pouco altruísta, não sei seu poema preferido de cor e não te pediria mais que um beijo, um sim, um não. Da próxima, arrancarei minha língua e guardarei um recibo para cada passo que eu/você der.

if you see her, say hello.

Como será o dia que nos encontrarmos? Estará chovendo? Será uma manhã ou estaremos vendo quase o fim da tarde? Em qual musica estarei pensando? E o que ela estará usando? Será proposital? Será que veremos nossas diferentes direções com ironia, a ironia que não nos permitimos usar quando ainda éramos crianças?

Antigamente ficava imaginando encontra-la num sábado à tarde, enquanto ela passeava com sua filha (uma menina de quase dois anos de idade, que teria nascido ano passado, isso claro na minha imaginação), seu marido havia ficado em casa para consertar algumas coisas, depois iria a uma pelada ou algo que valha a mesma coisa para homens.

Imaginava nosso sem jeito, eu ainda seria o mesmo e manteria um certo distanciamento irônico, ou ela seria a mesma e só eu teria mudado? Sem grandes exaltações, talvez pra que ela não pensasse “ele ainda me ama após todo esse tempo?” Talvez assim eu conseguisse disfarçar, talvez.

Neste dia, toda a nossa historia, trágica ou cômica acabaria ali, sua filhinha estranharia a barba do meu rosto e ficaria encabulada, sabe, como aquelas menininhas que se escondem atrás da mamãe quando encontram alguém desconhecido, seria assim.

Não, nunca imaginava encontra-la assim, cruzando a esquina ou simplesmente fazendo compras no mercado, não mesmo. Tinha de ser sempre de maneira antológica, como aquela cena em “lost in translation” eu seria Bill Murray avistando a menina na multidão (se bem que uma multidão de japoneses sempre ajuda a distinguir um ocidental) e andaria para dar o ultimo beijo. Acho que na minha imaginação, seria assim que eu a encontraria, talvez com a exceção do beijo, ainda não decidi o que faria, mas sei que não consigo fazer arroubos assim. Mas que seria lindo, ah isso seria.

Acho que ficaríamos em silêncio nos analisando ou abraçados por alguns segundos/minutos/horas/dias, pelo menos se eu a abraçasse, não a largaria por algum tempo. Não seria só um reencontro, seria um encontro com toda uma historia, com toda a sua inocência, a criança que um dia você foi ali naquela pessoa. O clássico “caso mal resolvido”.

Teria muito medo. Nos meus planos eu arquitetaria varias maneiras de tocar no nosso assunto, mas nenhum deles seria óbvio, acho que caminharíamos a um café ou um bar qualquer, e ficaríamos inutilmente perguntando de pessoas que não vemos a algum tempo, e falaríamos de trabalho, de musica, de namorados, de qualquer coisa que nos levasse pra longe da nossa relação, afinal não é fácil chegar assim e falar sobre algo que por anos me perturbou, não pra pessoa que iniciou o distúrbio, não mesmo. Se até por cartas no período que ainda nos correspondíamos, já existia algum sacrifício em dizer as coisas que sentia a essa menina e agora ela não era apenas aquela menina, agora ela era uma mulher e com esse rotulo muitas coisas além de meninos pra pensar.

Não importa, no meu inconsciente queria que ela lamentasse por algo/alguém que perdeu. Por isso caprichava nas frases de impacto, havia desenvolvido um sistema de criar boas frases sobre relacionamentos, e agora poderia usa-las.

Quando a gente é “criança” não tem a mínima noção do que ainda irá acontecer, talvez fosse apenas circunstancial que nos encontrássemos lá atrás e não acontecesse nada, deve haver todo um plano arquitetado pra cada um de nós, um plano que começou lá na historia problemáticas de nossos pais, passando por aquela fase e culminando agora com a nossa vida contemporânea.

O personagem Rob Fleming do livro alta fidelidade (nick hornby) tem uma frase interessante que se encaixa bem aqui: “algumas pessoas nunca superaram a vida nos anos 60, ou a guerra ou o dia que a sua banda abriu para o nirvana e desde então só andaram pra trás, eu nunca superei esta garota...” não é pra tanto, mas eu penso que boa parte do que conheço de mim esta contida nessa historia e teoricamente, não vejo problemas em lembrar, mas é claro, se você pensar de mais acaba enlouquecendo.

So real.

Sempre houve algo de estranho no olhar da menina que estava ao seu lado. O menino não se importava, queria mesmo era segurar a sua mão quase sempre fria. Ainda era tão bom sentir seu pulso mudando o compasso, cem direções em único caminho. Ele a deixava tonta, algumas vezes embasbacava seus pensamentos com planos, queria filhos, uma casa com um grande quintal. Ela ria timidamente e beijava sua testa com tanto simbolismo, talvez porque soubesse o quanto tudo aquilo que estavam vivendo significava pra ele. Tudo era tão perfeito que provavelmente quebraria a um tilintar do telefone ou um pisar mais forte no assoalho da casa. Por outro lado, queria tanto que o que sentia fosse sólido e forte como o que nada tivera em sua curta vida. Quando se é criança tudo importa, tudo é rico em detalhe e opções, tudo é como uma partida de futebol de botão, todas as partes importam e agora todas elas pareciam se encaixar, se fosse pleno como amor de mãe por umas 5 horas, já teria sido uma experiência única. E foi.

Dancing in the dark.

Foram dias esquisitos aqueles que, se passavam duramente pela alma, deixavam marcas profundas no peito. Sem devaneios agora não desejava mais que um cobertor, um cachecol, um verso, um refrão sussurrado, era assim que pensava nela, era assim que lembrava de coisas boas.
Sempre saia de casa com intuito de se divertir, mas muito raramente não se entediava com pessoas forçadas, as mesmas de sempre, rezava por feriados onde todas as pessoas voltavam para casa. Assim passava os dias. Assim entendia ou imaginava que a vida lhe devia algo. E esse pensar sem substancia "ora, tenho e sou direito" o fazia repetir a mesma prece toda manha, era "católico" demais pra acreditar nas palavras que vinham não mais da mente, mas do peito agora tão mais sincero que os olhos nunca foram. "Naquele momento, teria a amado como nunca" pensava toda vez bebia, muito, porque isso a trazia de volta, porque isso disfarçava, só para ele, o que todo mundo via em seus olhos. Mas a espera por sinais completos era tão mais perigosa, ele só conseguia pensar nisso, em todos esses sinais, que dividia a sua vida em pedaços, precisava de coisas perfeitas pra sentir-se bem, tanto que prometeu acabar com tudo enquanto as coisas boas ainda fossem maiores que as coisas ruins. Precisava de amor, mas não suportaria ter de se sujeitar há algo pela metade. Era por isso que nunca se apaixonava, era por isso que sempre ironizava suas relações e a paixão em romances alheios, porque se divertir com algo que não fosse perfeito o tempo inteiro, o atormentava mais que qualquer desilusão prevista, não, nunca, não acreditava em finais felizes.

God only knows.

Meu bom Deus, voce sabe por onde andará a chuva? Eu costumava ter certeza enquanto a chuva nos brindava, caminhávamos juntos, nos esquivando dos pingos, sabia que você me amava quando estava chovendo, fora assim da primeira vez. Mas meu amor, espero que esse verão acabe. Espero que o frio e a chuva voltem, talvez então você volte a precisar do meu abraço, talvez eu volte a te amar como quando só precisava te olhar pra ter certeza do que queria, bem, hoje eu já não sei, eu cruzo os dedos e espero que a chuva venha nos brindar.

Quero colo porque esta dor não torna a passar, preciso ocupar os olhos, a mente, esgotar o corpo, morrer por um ano ou dois só pra ver se quando acordar, serei um estranho pra você. Meu Deus os dias de chuva se foram. Era assim que eu sabia se poderia ou não dizer que você era tudo, de uma maneira infantil, tão infantil quanto a maneira que me refiro ao seu modo de pensar. Deus, eu pensei em casa, quintais, quartos e mobílias, “a home”, pensei que te daria respostas perfeitas, lembranças e crianças felizes correndo ao redor do balanço. Volto a ter treze anos e morrer de amor? Tenho de tatuar minha certeza pra você entender o quanto estou certo disso? Deus eu só peço a chuva.

Come pick me up.

Odiava começar uma canção pelo titulo, mas sempre lhe avisavam que um titulo é um terço da canção. Veja por exemplo “babe, its you” ou “sweet Virginia” mesmo que não fosse o bordão, você saberia ali na contra-capa que essas você deveria ouvir com atenção. Era assim que ele olhava para as mulheres, procurando aquela que passaria discreta entre as hits do bar, da faculdade, da rua. E Amy era assim. Pelo menos nos três minutos e quarenta e seis segundos de nostalgia que tinha toda vez que ouvia a canção que compôs para ela. Amy era o tipo de garota que faria um garoto se esforçar para virar um bom homem e realmente no tempo que passaram juntos ele quis ser um homem melhor, quis. Agora ela estava por ai dormindo com outros caras, outros caras que não eram como ele e ele nunca seria como esses outros caras. Pensava nisso todo o tempo, desde que voltara sair com cantoras, varias, Beths, Carolinas, Maries, Gracies, Winonnas, todas elas tinham seus méritos e estavam ali nos agradecimentos, mas Amy, Amy se não tivesse lhe deixado, estaria numa canção, no primeiro disco, na faixa quatro ou cinco.

Amy fora sua segunda paixão, a primeira era Viva Hate, primeiro disco de morrissey, já que bona drag era um disco de singles do cantor ingles. Viva Hate era o disco em que Moz canta que todo dia era como domingo e definitivamente seus dias não poderiam ser melhores que manhãs solitárias de domingo, nunca acontecia nada nos sábados que pudesse melhorar sua vida e bem, se tivesse ouvido Moz, teria aderido ao celibato e muitos dos problemas haveriam simplesmente desaparecido. Ela, Amy havia ido embora há pouco mais de três meses, com seus amigos, seus discos e suas esperanças. Como todo homem idiota que faz canções neste mundo ele também cavou sua própria merda e agora estava por ai, de bar em bar, cinco ou seis notas amassadas no bolso e se perguntando “amor, porque você me deixou?”. É pieguice pensar que toda música pop fora feita sobre os alicerces de pessoas assim, pessoas que são trocadas por outras, pessoas e seus corações partidos por toda essa terra devastada, mas é parte de uma verdade maior, a de que a maioria das pessoas age como crianças mimadas quando são chutadas.

Acontece que de tempos em tempos a música fornecia respostas à altura do que os homens precisavam nesta hora. Johnson, Presley, Springsteen, Petty, Buckley, cada geração tinha o bardo que merecia e no seu coração, talvez fosse realmente a vez de ele dizer como o jovem “moderno” se sentia após tanta merda. Sua banda havia acabado há pouco mais de um ano sem nenhum sucesso, os egos haviam detonado tudo e como sempre acontece no tal rock’n roll o vocalista se lançaria com um disco solo. Primeiro Amy, depois a banda com nome de bebida, seguido dos amigos, o mundo estava partindo e ele nada poderia fazer a não ser cantar sobre isso. Pelo menos assim já teria o titulo do disco “solo”, como um sucesso de elvis, como a banda que acompanhava Petty, “coração partido” seria sua resposta a todos esses rompimentos, toda essa falta.

Love will tear us apart.
Conteve-se e procurou um abrigo, havia sido um dia difícil, daqueles que faz o coração sucumbir, e bem, já não tinha mais 18 anos, não era fácil levantar e sentir-se velho tão cedo, sem filhos, sem um amor perfeito, sem piadas internas, só um cabelo ruim. Havia feito uma promessa, a de que seria mais forte do que foi o velho padeiro José, que ao ver sua mulher o deixar, pulou da janela do apartamento e não conseguiu nem morrer com dignidade, agora tem de trabalhar deformado e como diz uma amiga da minha mãe, "nunca mais acertou o pão”. Sempre cito o padeiro porque é o exemplo "loser" feito por uma mulher, adoráveis malditas, destruíram o amor próprio de tantos homens, agora meninos inconsoláveis, mais um deles havia se despedaçado na festa de fim de ano. Eu lembro de seus planos para com aquela menina, eram bonitos como os meus, e assim como os meus, o do padeiro e de todo o brit pop foram destruídos pela costela de adão besuntada em seus lábios, pele e sorrisos amigos, tão confiáveis quanto, quanto, é difícil, eu não sei. O que mais doía dizia ele era ter de ver sua coleção de discos do belle and sebastian incompleta, havia à presenteada com seu exemplar importado (todos eram nesta época) de tiger milk, como prova de seu amor, assim como uma aliança que pudesse cantar e lembra-la sempre dele. Padeiro José, eu sempre estava ali para lembra-lo, cuidado, você se apaixona facilmente e aposto que o padeiro também chorou pelo Leandro e Leonardo que lembrava sua amada. Toda vez que ele abraçava algum amigo destilado, eu lembrava do padeiro que fornece o fermento pro diabo amassar, mas ele nunca me deu ouvidos, se fosse morrer já tinha tudo planejado, talvez cortasse os pulsos, não pularia da janela do seu quarto porque tinha medo de altura, provavelmente morreria de medo antes de tocar o chão, overdose? Não, tinha nojo, atropelado, isso era doloroso de mais, e poderia acabar como o padeiro, não, não, não. E falamos tanto em tantas formas de acabar consigo mesmo, que ninguém morreu para gente desde então. Morrer de amor tornou-se uma piada, hoje quase 10 anos depois ainda continuamos a procurar novas formas de morrer de uma forma "cool". Ele casou-se com a primeira garota de preto e franjas que encontrou, passeou pelo tumulo do pai de todos os garotos tristonhos na sua primeira viagem a Europa, Mr Ian Curtis, o primeiro garoto de franjas sobre os olhos a sofrer pelo abandono de uma mulher. Alias, se enforcar é uma maneira glam de morrer, pense em você lá no banheiro pendurado, nenhum sangue sujando o banheiro só pra dar mais trabalho pra tia que for limpar o banheiro, seria legal em um hotel, depois que removessem o corpo, a camareira vem limpa tudo, ai uma hora depois um casal vem e faz amor, maldito amor, sobre a lembrança/piada do o garoto que morreu no quarto do hotel. O meu teria de ser emblemático, não como aqueles que sonham e se matar no chelsea, teria de ser motivado pela paixão, tipo aqueles "matou a ex e se enforcou" ou "ela disse que não devolveria os discos do my bloody valentine", "adeus mundo cruel", "love will tear us apart", eu só escreveria "love will tear us apart" seria tão bonito e irônico, teria meus pulsos limpos, e ficaria bonitinho na cremação, coitado do padeiro José, se pelo menos ele tivesse ouvido Mr curtis talvez tivesse logrado maior sorte no seu trampolim para a calçada. Mas uma coisa todos os mortos e vivos tem em comum, a certeza de que o amor vai nos separar.

Crazy about you.

Deixei ela perceber. Meu confuso satélite reed saía de órbita a cada 15 segundos, precisamos de sorrisos meu caro amigo. Será que ela queria mesmo que eu estivesse ali? Quando pôs seus olhos em mim, escorado ao lado da porta, rapidamente deu um "ciao" com aquele sorriso que faria qualquer homem querer acordar para o próximo dia, para uma próxima vez. “Oi”, um abraço, um beijo, nosso sem jeito, aqueles cinco segundos intermináveis que antecedem alguma pergunta obvia e non sense que um de nós dois acabaria por fazer logo a seguir. Ensaiei uma explicação, pedimos álcool, ela disse que só queria dormir, mas que não veria sua cama tão cedo. Estendi as mãos até meus esforços solitários guardados no fundo dos meus bolsos cheios de tristeza. A vi sorrindo tão forte que me deixou com vontade estar ali dentro, entre seus dentes, talvez ouvir como numa câmara de eco, seus pensamentos.
Fiquei ali deixando o álcool entrar e fazer de mim um cara feliz, ela voltava falar comigo, mesmo quando não pedíamos nada, ela só estava ali entre meus amigos, conhecidos, onde nunca havia estado, queria poder beber mais rápido, queria secar copos e mais copos, só pra que ela ficasse ao meu redor, me sentia como Ryan Adams, eu queria ser Ryan pra poder usar sua cantada, algo assim não lembro direito:
"-escuta, precisamos conversar, eu estou com dois problemas e só você pode me ajudar: primeiro, eu não tenho dinheiro pra vir aqui (a cena é num bar) todas as noites, só pra te ver. Segundo, eu estou com medo de virar alcoólatra...então vamos mudar algumas coisas por aqui..." seria clássico.
O show acaba, o dinheiro acaba, o satélite reed está completamente embriagado. Digo que tenho de ir, eu sei que ela ainda ficara por algumas horas, limpando mesas, guardando copos, e eu estarei em casa tentando desligar. Queria ficar e me colocar ali entre os estranhos, entre os bêbados, queria mesmo, mas tinha de ir, outro beijo, esqueço do seu telefone, esqueço de dizer algo engraçado, esqueço, simplesmente não faço a menor idéia de quem sou, espero que talvez ela saiba me dizer.

Twilight – elliott smith.

Um rapaz inundando a praça com bolhas de sabão.

Uma garota de vestido longo e florido olhando para o céu.

Um carro de som anunciando “sonhos a setenta e cinco centavos”.

Um menino carregando um violão pela cidade.

Uma senhora pedindo por caridade.

Etiquetas, Flores e arvores de natal.

Bolhas de sabão rumando ao céu.

Duas pessoas agora olham para o céu.

Cinco sonhos por três reais.

O menino canta uma canção para a senhora.

Ela não entende bem o que acontece.

Mas é natal e cada um de nós dá o que tem.

As flores de natal custam mais que os sonhos.

As arvores de natal custam mais que os presentes de natal.

Definitivamente há algo errado nesta conta.

O plástico está em alta.

Bolhas de sabão continuam subindo e agora somos seis.

Quando ela se move todo mundo esquece que aquilo é um vestido.

Talvez seja a estação, mas há uma garota realmente bonita por trás daquelas flores e olhar para ela não custa nada.

Talvez eu devesse me aproximar e dizer:

“por caridade por favor...” mas é natal

E talvez ela não entendesse a conotação.

Três talvez depois e agora somos oito, a senhora juntou-se ao coro.

Aposto como alguém aqui deve estar pensando “para o que estamos olhando?” e não sou eu.

Era natal e as coisas não precisariam de explicação.

O vendedor de sonhos se atrapalha e nos dá um sonho de graça

Ele só tinha planejado as contas até cinco e haviam oito bocas.

Enfim, já era natal e todo lucro vira caridade para com estranhos.

Havia um vestido realmente bonito dançando entre as bolhas de sabão.

Inventei um nome para ela.

A partir de agora você se chama Stella em homenagem a uma amiga que era muito parecida com você.

Era até um belo dia em que algum engraçadinho acordou com a brilhante idéia de aumentar a quantidade de oxigênio na água para ver o que acontecia.

Depois deste dia a Suécia e as gafieiras nunca mais foram as mesmas.

Bem é isso.

Dê-me cinco minutos enquanto desenho todo seu universo.

Acabei de inventar uma mulher e posso dizer que talvez ela estivesse entre nós desde sempre.

E esse sempre seria tanto tempo que a garota havia se tornado parte da praça e da vida das outras pessoas, não poderia ser vendida separadamente.

Os ambulantes, os pedintes, os floristas todo mundo sorriam quando ela passava e diziam “ola senhorita Stella...” como que estivessem cortejando uma donzela.

O que você acha? Bem eu acho que...

Ela flutuava mesmo com as bolhas de sabão?

Pelo menos era no que pensava, sabe como quem diz “as crianças sempre tem razão”?

Mas Stella já era bem grandinha, ou não, depende de quanto grande o numero vinte e dois significa na idade de alguém.

Ela tinha vinte e dois e um sonho lambuzando as mãos.

Está bem. Mas era no açúcar que ela pensava.

E o açúcar mal fazia efeito.

Pelo menos hoje ela não estaria pensando em outras pessoas.

Hoje ela estaria pensando nas imagens da infância que as bolhas de sabão trouxeram a tona.

Stella de vestido florido olhando o céu enquanto os sonhos vão sendo mastigados entre as bolhas de sabão que custavam menos que as arvores de natal.

Isso.

E onde se encaixa a senhora, o menino do violão, vendedor de sonhos e o vendedor de bolhas de sabão?

Em lugar algum, eles devem existir, devem ter nomes e sobrenomes e alguém em casa esperando por eles. A gente cria pessoas e depois não sabe o que fazer com elas, eu, por exemplo, nunca matei ninguém, nem nos textos.

Acho que foi aquele escritor argentino fã de boxe que disse: “você só existe quando é um personagem escrito na historia de alguém”.

Se existe tanta gente triste andando por ai, digamos três de seis bilhões, é porque todo mundo quer ser escritor e ninguém quer ser leitor, bem é o que diz um amigo meu. Isso explica a quantidade de gente sozinha no mundo. É e também o fato de existir mais mulheres do que homens, só eu criei umas cem e esse número já inclui uma ou duas triagens.

Uma vez vi uma menina chorando na igreja e fiquei o tempo todo tentando imaginar o universo que a levou a estar aos prantos na igreja. Descobri que a menina é minha vizinha, mora a uma quadra daqui, encontrei por acaso há três semanas atrás.

E o que voce fará com Stella?

Não sei, nunca mais a vi, espero que ela esteja bem.

Fim.

Highlands.

Ligo o foda-se e saio pela cidade com cinco centavos no bolso. Sim cinco centavos, vou ao único lugar que me aceitam sem ter de abrir a carteira e mostrar o cartão de credito. Bibliotecas costumam ser muito barulhentas, afinal, boa parte dos encontros acontecem e são marcados nelas, fico pensando nas pessoas que namoram entre as prateleiras, bem, eu já vi isso um filme e imagino que se acontece em filmes, acontece na vida. Lá estou eu procurando algum livro que seja possível começar a lê-lo e termina-lo em duas ou três horas. Dois livros de woody allen, que já deveria ter lido, estão ali, ok, vou ler o da capa mais feia. Sempre me acusam de gostar de livros pela capa, e bem não é culpa minha, são anos de pesquisa aprofundada para chegar a essa conclusão, gosto de livros pela capa. Ontem eu havia terminado de ler uma coleção de textos de Bukowsky, fora interessante e didático porque em duas horas eu tirei três lições pra toda vida:

1) Todas as mulheres que me apaixono são loucas.

2) Todo mundo que eu admiro neste mundo sofreu pacas pra conseguir o que queria e se as pessoas de que quem voce gosta não sofreram, lamento você não está pronto.

3) Todas as mulheres que me apaixono são definitivamente loucas.

Sentada a minha direita esta uma senhora, três meninos e uma menina linda, cabelos curtos e casaco verde. Esta entretida com seu caderno. Juro que ela faz contas no celular. Não me importo, começo a ler e assim vou até chegar ao “pergaminhos”, uma seleção de textos sobre religião. O melhor é sobre a aparição de Deus a Abraão, caso voce resolva ler o livro de capa amarela feia, esse é o melhor texto.

A senhora ao lado começa a falar alto “EU NÃO POSSO FALAR ALTO, EU ESTOU NA BIBLIOTECA…bla, bla bla.” e eu tenho de olhar, quando levanto os olhos, vejo que a menina também esta rindo da situação, a mulher não se importa e continua falando alto e nós rimos disso. A menina, para de escrever e fica rindo na minha direção, vejo que ela muda a direção dos olhos na direção da capa e seu sorriso muda, fica terno, como se, sim, ela se apaixonasse por mim, graças à feiúra de woody allen e sua capa. Eu não deveria ter prestado atenção, mas prestei e vi que ela estava olhando muito na minha direção, uns dois ou três metros ali. Ela esta gripada, seu nariz vermelho e as vezes que espirrou enquanto estive ali denunciou isso, ela sai em direção ao banheiro, eu fico ali, mas não consigo terminar o livro. Vou até a sessão de literatura americana e procuro um Bukowsky que já havia lido, aquele que começa com uma historia sobre a garota mais linda da cidade, Cass, alias é este o titulo do livrinho não? Cheguei a conclusão que não é muito legal ler Bukowsky na biblioteca, as pessoas te olham atravessado. Inclusive a menina que antes me olhava com olhos de amor à primeira vista, agora parece pensar “droga, apenas mais um bebedor de cerveja que acha simpsons genial...” e acho mesmo, embora esteja diminuindo drasticamente o nível de álcool que ando ingerindo.

Está na hora de ir embora, caminho em direção a porta e cruzo pela ultima vez os olhos com os da menina bonita de cabelos curtos e casaco verde, é bem provável que nunca a mais a veja, simplesmente porque não lembro o suficiente dela para recordar caso a encontre novamente em algum lugar. Acho que vou comprar algum livro do woody allen pra fazer o que faço com Sylvia Plath, pode ser útil para conhecer, impressionar mulheres, esta lá numa das canções de dylan, tenha sempre a mão algum livro tipicamente feminino pra jogar na cara caso alguém te acuse de machista, isso vale pra Clarisse Lispector é claro.



Life in a glass house

"Quero fugir, desaparecer" era esta a frase que surgia todas as manhas, ainda na cama, lutando contra a vontade de dormir uma década inteira ou um pouco mais que isso. Rezava pra que uma bomba caísse toda vez que seu rosto ficasse vermelho, e isso acontecia o tempo todo, não tinha tido aulas de persuasão na infância, nem feito o pré, essas coisas que dizem, moldam a pessoa para sempre, ao mesmo tempo em que não conseguia ser casual, também era sincero de mais, dizia o que achava e isso o atormentava mais que decepções, as vezes chegava e fazia algo sem pensar, mas que dificilmente sairia da cabeça por um longo tempo, seu caderno era cheio de palavras bonitas, odiava palavrões e quando pensava em um escrevia algo bonito pra compensar, amava todas as meninas que sorriam para ele, no inicio era assim, mas com o passar da idade, se apaixonar passou a ser a coisa mais torturante, nunca mais se abriu com as pessoas como na infância, sentia medo porque toda vez que dizia aquelas palavras para alguém, automaticamente seu estar parecia descartável, foi assim com todas, passou a não acreditar em coisas boas, por que simplesmente elas nunca aconteciam, e isso, isso era o mais triste, porque tinha esperança, bem lá no fundo cultivava um amor que ninguém jamais saberia, mas todas as noites enquanto ouvia canções como "how desappear completely" e "in this hole" pensava que não deveria ser daquele jeito, sempre fazia de conta que a qualquer momento alguém ligaria ou lembraria dele, as vezes, nos piores dias, ficava feliz até se sua orelha ficasse vermelha de repente porque num surto de crendices imaginaria quem estava falando dele, mas nada, nunca, nenhum sonho se realizou a tempo de ver um nascer do sol de mãos dadas com alguém que realmente amasse, tinha mania de fazer listas de canções para todas as ocasiões, até para o que tocaria em seu enterro, veja só, iniciaria com "release" do pearl jam, seguida de alguma do sigur ros alias, se tivesse dinheiro seu enterro seria como os do povo celta, regado a musica e bebida, sonhos, sonhos, sonhos, sonhar passaria a ser o ponto auge do dia, da semana, do mês, do ano... da vida, ele sempre dizia que odiava dormir, perder tempo, mas isso agora o aliviava, odiava qualquer tipo de droga ou gente que fizesse uso disso, mas não abria mão do consumo em doses cavalares de café preto, dizia que precisava escrever o tempo inteiro porque não queria dormir, no inicio era assim mas agora dormia o dia inteiro e se concentrava a noite, a noite, só a noite ele conseguia pensar, odiava calor, verões, pessoas que idolatravam corpos suados, só a noite ele sonhava, mas já não conseguia dormir, ficava horas pensando em ligar pra longe, tudo era tão longe, sonhar com encontros as vezes ajudava, só assim sentia que poderia mesmo estar vivo, só assim, mas nunca, nunca conseguiu dizer nada a quem realmente importava, nunca, e isso sim, muito mais que qualquer droga ou efeito doentio, era o que roubava todo o seu ar, todo o seu esforço, mas nunca o matava, acordava todas as manhãs tocando o peito e pensando novamente ao começo, as vezes com mais força, as vezes com mais medo, era sempre assim, sempre o mesmo refrão, sempre o mesmo.



Sour times.

Eu quero ser um jazz, como esses de Luis Armstrong que ouço agora, livre no sentido da palavra e parecer cinicamente ingênuo, isso, viver deve ser um estilo musical, não há quem viva o rock'n'roll? Eu quero ser jazz. O antônimo do pulsar doente da musica eletrônica, repetitivo, escravocrata. Eu quero parecer triste um blues tocado por quem sabe o que sente e eu aceito tambem uma garota que se pareça como uma canção na voz de Billie Holiday, sinceramente? Contentaria-me se ela soubesse de quem eu falo, alias isso deve ser necessário, alguém pra dividir os discos e piadinhas sarcásticas sobre gostos musicais. Eu caso com você se você me mostrar algo que eu não sei. Eu quero ser um jazz, um blues, uma canção sobre nunca ganhar o que se deve. Quero isso, mas sei que iremos no maximo até um pub londrino após um show de uma banda tipo um placebo e reclamando da vida que sempre sonhamos em ter. Pronto, estamos em casa antes da meia noite. Ainda me lembro que no inicio você usava pijamas para dormir eu achava uma graça, mas essa camiseta com o morrissey "viva hate" te cai tão bem. Agora eu quero ou pelo menos gostaria que você sussurrasse a nossa canção preferida, isso é se tivéssemos uma. Ai então, tomaremos um vinho barato, comemoramos algo? Ela diz. Eu digo "o dia em que eu te conheci" pior impossível eu sei, mas era pra te irritar, continuando a enumerar clichês? Esse é um segredo ou uma piada interna que os outros nunca vão entender, por isso digo, eu sei a cara que você vai fazer, e eu conto com isso para continuarmos a nossa noite ok? Digo que guardei algo na manga para um desses momentos, mas não contarei. Ela se insinua e canta meio desafinada, morde os lábios creio eu sem perceber, eu acho isso o maximo, eu a quero pra mim. A ironia esta preenchendo nossos espaços, vejo isso quando você murmura a sua rejeição sabendo que isso é tão, tão inglês? Tão ontem, Ah esqueci, é isso o que sempre sonhamos, mas eu seria um escocês, não suportaria saber que talvez você estivesse mentido. Há tantos discos que eu ainda não ouvi, prometi comprar uma vitrola assim que algum dinheiro entrar, uns vinis do smiths é claro, sim agora eu ouço os singles e penso em você e no quanto todas essas historias que ainda irão nos divertir, há tantas noites por vir, há tanta música, tanto vinho que eu mal posso esperar.
Eu quero ser um jazz feito para a minha billie holiday.

HOWL.

Ele estava apático e mal respirava por esses últimos dias. Procurou beber e talvez rir um pouco, não haviam muitas coisas além do que sempre se acostumou a rejeitar, sem sorrisos amigos, dormir passou a ser o melhor e mais seguro abrigo. Costumava culpar a todos pelos problemas, pelo sem jeito com que ele tateava a vida, não entendia porque deveria se sujeitar aos planos malignos que o dinheiro havia lhe imposto, não sorria há tanto tempo, que as vezes chegava a temer que nunca mais conseguisse mover os músculos do rosto. As suas canções perdiam o brilho a cada audição solitária no quarto acompanhado de um copo agora d'água, ele queria desistir, mas era covarde demais pra aceitar com a cabeça erguida que chegara a hora de esquecer, nunca, ainda poderia haver alguma chance pensava ele a cada segundo a mais naquele lugar. Sempre fazia planos pra se mudar pra longe e realmente queria mudar, ver coisas novas e coisas que sempre dizia gostar de ver. Precisava ver o mar mais uma vez, só pra ter certeza de que não precisaria olhar mais nem senti-lo novamente, guardava o oceano na memória da infância feliz que seu avô tratou muito bem de construir para todos os netos. Mas agora continuar na direção destes passos parecia desnecessário, guardou o diploma, a guitarra agora enferrujada e sem cordas num canto, desligou o som, ouviu as ultimas palavras que ecoavam dele "the go and go for it", não havia sensação pior de se descrever do que a do zíper fechando o case para sempre e a sua alma se dispersando com aquele ruído. O silêncio fez da casa um deserto para os sentidos, sem tesão, sem nada que pudesse lembrar uma respiração, mas de agora em diante o caminho seria outro.
Tomou um bom banho, voltou ao quarto colocou a calça a camisa branca, a gravata, o sapato, caminhou até o espelho e arrumou o cabelo de maneira apresentável, pegou algo sobre a mesa, olhou mais uma vez para seus discos, olhou apenas uma ultima vez para suas roupas pretas, fechou a porta e nunca mais voltou.

You and me song.

Não importavam mais todas as jogadas, palavrinhas engraçadas, nada. Comecei a me sentir bem assim em silencio e realmente estava, afinal não precisava mais improvisar frases de efeito pra conquista-la, nem me esforçar pra faze-la sentir-se bem ao meu lado, isso pode soar cômodo, como saber e conhecer sua menina o suficiente pra não continuar o jogo em forma de romance, mas eu não queria o fim.

Ela ensaiou uma conversa sobre o novo disco daquela banda inglesa (um tanto sem graça em relação ao anterior) que incrivelmente perdemos o show e que havia sido tão importante quando nos conhecemos, me desconcentrando do jornal que leio diariamente todas as manhãs. Houve uma época que estaríamos lá na cama, como você diz, trepando, mas agora parecemos um casal de velhos chatos que nem chegaram aos trinta. Meu Deus, nós lemos tantas coisas, vimos tantos filmes e tínhamos uma trilha sonora de fazer inveja a todos os outros casais da turma, não havia como dar errado. Sabíamos exatamente como nos excitar e como nos fazer bem. Mas como bem disse Caio Fernando Abreu, cultura demais deve fazer a gente broxar. Enquanto ela levava sua xícara pra lavar, levantei meus olhos por um instante e não havia percebido, veja você como estávamos, que ela estava com a minha camiseta do wannadies. Havíamos combinado que só usaríamos aquela camiseta, com uma garota deitada sobre um sofá verde, no dia em que um de nós quisesse acabar.

E hoje ela resolveu usar. Era um sinal?
Lembro-me de que no começo nunca esquecíamos de nada, muito menos das nossas piadinhas internas. Tentei lembrar do que fiz no resto da semana, mas não me lembrei de tantas coisas. Ela disse que precisava ver sua amiga, eu a levei. Após tanto tempo, finalmente aprendi a dirigir, mas só porque adorava a sensação de dirigir ouvindo radiohead e smashing pumpkins. Ela ficou lembrando de quando só ela sabia dirigir e eu ficava brincando no banco do carona, cantando "blame on the black star, blame on the falling sky" bem alto, tentando arrancar a sua calcinha entre outras coisas só pra vê-la se desconcentrar, ficava séria ao volante, já havíamos batido o carro pelo menos três ou quatro vezes, nada sério. Era legal falar o porquê e o que estávamos tentando fazer na hora, (haha, piadas internas são a melhor parte de se ter uma "vida de casal") mas desta vez eu não abri a boca, não conseguia entender porque afinal de contas, ela resolver saiu com a camiseta do wannadies. Chegamos na amiga dela. Fiquei no carro ouvindo o tal de Mew que realmente tinha umas canções boas, mas nada que se compare aos meus pumpkins e radioheads ou aos seus placebos e portisheads. Espera devo ter "you and me song" aqui nos meus discos. Sim eu não a tirava da cabeça. Comecei a lembrar das coisas que fizemos nesta semana, que fizemos neste mês, neste ano. Eu queria entender, será que isso queria dizer que era o fim? Será que ela esqueceu do que combinamos? Ela é mulher e logo, nunca esquece de nada. Ela estava querendo acabar e só encontrou essa resposta, deve ser isso, mas por quê? Sou eu, eu sei, comecei a roer as poucas unhas que ainda tenho, não roia com tanta intensidade desde os 15 anos de idade, talvez, talvez na primeira mulher nua que vi na minha frente essas unhas tenham passado por isso, mas agora era bem diferente. Poxa, ela estava preste a me deixar e como seria dali em diante? E a minha vida como ficaria? As pessoas nunca chegam a pesar as decisões, só depois de um tempo quando já estão com outras pessoas. E os discos? Lembro-me agora que eu a vi separando alguns discos ontem à noite. Ah separar os nossos discos nem pensar, eles são compras casadas, não podem ser vendidos separadamente, não, não, não. Aquela caixa de trip hop com portishead, moloko, massive atack e tricky eu não te dou. Ela ta começando a demorar, deve de estar chorando ou separando um lugar no armário, ah já sei ela vai se mudar pra cá. Espera, será que ela esta me traindo? Como todo homem, não pude evitar pensar que sim, tínhamos vidas separadas, íamos a pubs com amigos, a shows, mas não, não, essa garota não era assim. Nunca esqueci do show do New Order que tanto planejamos ir juntos, mas fiquei doente, muito doente, ela levou uma câmera e gravou o show todo pra mim, grande menina. Mas agora ela vai me deixar, eu sei que vai.
Ela voltou pro carro, um sorrisinho, camisa wannadies,"-vamos?" Eu sem jeito e quase indignado("sua vaca falsa"), me sentindo o próprio Black Francis em "debaser" e ela soando adorável como "lala love you" ou melhor "jagui antick(ma big big love)!!!". Voltamos pra casa. Eu jurei que iria perguntar, mas ela, falsa, não fez mais nada que acusasse uma separação. Fui para a sala de discos separei os meus preferidos. Quer dizer, separei os meus mais dos mais preferidos. Humpf, droga, não vou dar nenhum pra você, são meus, até os seus do portishead eu não dou. Fique aqui se quiser ouvir, eu deveria ter dito. Vai! Quer o siamese dream também???? E que tal a minha alma?? Toma, leva vai??? Droga estava mesmo irritado com tudo isso. Sentei no sofá, ela arrumou um café pra mim do jeito que eu sempre tomo, pouco açúcar, sentou do meu lado, aquela camiseta me olhando, aquela saia pouco acima do tornozelo, meu Deus é agora, ela vai dizer que é o fim. Não, eu vou dizer antes pra não ficar chato pra ela:
"_moça... hfffh... acho que devemos terminar".
"-eu amo você"
-COMO??" ambos dizemos .
-você quer terminar?

_Você me ama?

-Mas o que isso significa, mais uma piada interna?

Adorava brincar quando ela dizia algo sobre mim que não gostava ou quando brigava comigo, sempre dizia "eu também te amo".
_Eu quis evitar que você sofresse pra me dizer que queria o fim...
-mas quem disse que eu quero o fim???
_sua camiseta...
-minha camiseta?
_é...
-???
_lembra que uma vez a gente combinou que quando fosse a hora de acabar um de nós usaria a camiseta da menina do wannadies???
-que?
_você esqueceu???
-Do que?
_Do lance da camiseta, de que quando fosse o fim seria com a camiseta que nos uniu.
Nos encontramos pela primeira vez numa loja disputando uma camiseta do wannadies.
-ah é, você levou a sério??
_Levei sim, você nunca usou a camiseta, eu também não, logo, sempre achei que fosse sério.
-ah então ok. Não era. Eu só disse isso pra gente ter uma piadinha interna.
_Mas, mas eu pensei?.pensei....pensei, eu te vi separando uns discos ontem a noite!!!
-bobo, eu tava a fim de ouvir algo especial, o que tu achas que ouvimos pela manhã?
_sei-la, tava tão preocupado em descobrir o que você queria dizer com a camiseta do wannadies que nem notei a musica que ouvimos de manhã. O que era???
-luna do siamese dream.
Oh!!!Como eu sou idiota, luna era a canção do meu coração, havia jurado amar a garota que amasse esta canção.
-bobo.
_Droga. Droga.

When you come back home?

Estava tentando lembrar da ultima vez em que realmente me senti bem, não sei, realmente eu devia ser bem pequeno, acho que tinha 10 anos, talvez menos, talvez . Me lembro que adorava ficar doente porque minha mãe não ia trabalhar e a casa enchia de gente. As tias faziam puxa-puxas e como era divertido não pensar em mais nada, nada mesmo. Tinha tanta gente ao meu redor, meninas tão bonitas, garotos legais. Lembro-me de brincar com um pneu velho, dirigir um trator no colo de meu pai, de rezar pra não chover, coisa que realmente sinto falta, de crenças, de quando conseguiríamos tudo com o pensamento positivo. Ai então você se vê crescido e corrompido, sem amor e sem vida. Minha mãe esta certa, eu deveria encontrar a curva onde me perdi, voltar e contar estrelas, dizer aos meus amigos que eu preciso vê-los por aqui. Mas não. Descarto possibilidades por um prazer que aos poucos carrega minha alma para o escuro, eu sinto isso enquanto durmo, enquanto penso em você, me sinto doente, mas ninguém percebe e não me interessa demonstrar também. Ouço musicas tristes que falam de pessoas mais infelizes do que eu, acho que isso é o que nos faz gostar mais. Eu não soube responder e isso me fez duvidar, mas agora vejo o quanto sou e somos infelizes. Poderia viver aqui pra sempre, me casar com uma garota qualquer, há tantas que podemos nos divertir, ter casa, carros, filhos, contas, idade, velhice, família, encontrar a comodidade que não encontro nos teus olhos, ouvir musica idiota, beijos em silencio, dormir torcendo pra não acordar, mais beijos em silêncio, só ter carne no meu peito, dizer “eu te amo” para todas que eu vejo, trepar, trepar, trepar, beber e bater em alguém, se sentir mal e vomitar, cuspir no chão, dizer palavrões, usar roupas coloridas e gel no cabelo, dizer feliz ano novo a todos que odeio, rezar, rezar, rezar, seria tudo perfeito e sem graça.

A day in life.

Acordo cedo, não preciso, é só culpa. Procurar empregos que não quero exige alguma dedicação. Corte a barba, banho, dentes, café da manha. Um copo de café, um pão com queijo e cenoura ralada, uma banana, Fim. Calças, duas meias em cada pé. Uma pra proteger os calos que estão em estado de cratera. Camiseta branca, casaco para os 6° que o radio acusa. Cachecol e cabelos vistos e revistos. Estes são meus últimos dias como alguém ligado à comunicação. Semana que vem tento um emprego braçal, destes que não precise pensar, se comunicar, etc. a partir de agora só vou exigir de mim o básico. Respirar, andar, comer, levantar pedras. Na lista de exigências trabalhistas deveria estar escrito “sem necessidade de fazer a barba”, marcaria um x com um sorriso feliz. Camisetas brancas, bonés de posto de gasolina, vida real. Voce conhece algum homem de verdade? Algum com menos de 30 anos eu digo? A vida moderna transformou todo mundo numa coisa só, como na Grécia, eu acho, onde só existiam homens e exercícios mentais, o que me faz pensar que foram mulheres que levantaram aquelas colunas. Caminho alguns quilômetros, é legal me vangloriar de que estou indo de uma ponta da cidade a outra em pouco mais de duas horas de caminhada. É engraçado que quando eu procurava por empregos na área de comunicação, sempre estava encharcado de nervosismo, afinal, essas pessoas são naturalmente esnobes, mesmo que não sejam na verdade, voce sempre pensa que eles vão rir de voce assim que a porta se fechar. Quando você procura por empregos físicos, as pessoas olham pra você e dizem “tem certeza que quer isso?” ou “não podemos pagar muito, você entende?”, qual o problema em receber passes e marmitas ao invés de convites pra peças, shows e exposições? Juro que semana que vem, vou numa garfiera, garfieira, gafiera, eu ainda não sei escrever, mas decidi que vou lá naquela que todo mundo fala, a que tocou pedro luis e a parede, man or astroman, que nenhum dos meus colegas sabem quem são, mas vão todo fim de semana naquele lugar caro e cheio de mulheres. Mais algumas horas, pastel do lado da catedral, recomendo, é o melhor pastel da cidade por cinqüenta centavos. Gosto de enfatizar o fato de o pastel ser feito por legitimas brasileiras. Praticamente as ultimas lutando contra o império da máfia das pastelarias chinesas, são 4 só ao redor da tia do pastel. Recomendo, quando voce vier aqui, coma os pasteis de cinqüenta centavos do lado da catedral. Meia hora e estou em casa. Vejo a novela das sete. Na verdade vejo porque divido apartamento com um menino que estuda cinema e por isso a casa vive cheia de futuros cineastas ricos, alias como todos que fizeram cinema neste planeta terra. O que me irrita é fato, não a minha pobreza, mas sim a riqueza deles. Não disse, mas faço trilha para os filmes deles, depois que um tal de Werner alguma coisa me elogiou, todos passaram a pedir trilhas minhas. Mas o estúdio andou mal das pernas, troquei minha guitarra por um violão, uma harmônica e o dinheiro do aluguel, larguei mão de bandas de rock, só servem pra fazer inimigos, lembre-se disso, nada de bandas. No momento em que escrevo, todos os cineastas usam a sala da casa como cenário pra mais um filme de muito sucesso. Ainda bem que existe internet.




Hey.
Deixei de brincadeira e fui buscar frases em alguma canção que o meu outro eu costumava gostar de ouvir, sabia que ela cairia como a mulherzinha sentimentalmente frágil que é. Tinha deixado a estupidez do meu zíper aberta, preparada pra hoje, nem me masturbei o dia todo, queria guardar tudo dentro da calça, um sentimento quase estuprador que eu não saberia te explicar.
Então, cortei e encurtei detalhes pra deixar minha intenção mais clara, não sou burro, não admitiria isso em publico, apenas minto o tempo todo e ninguém percebe, eu te digo pra sempre desconfiar daqueles que sabem de tudo.
Esta bem, simplesmente a enrolei como o canalha que essa versão de mim adora ser. Ela esperava rosas, elas sempre esperam, mesmo as que dizem que odeiam, adoram, lembre-se disso quando quiser comer alguém. Parecia querer lamber minhas palavras ali mesmo, como uma menina qualquer. Rastejo na sua cama como um rato, um homem feito aos moldes de Jesus, que assim como este, nos dias de hoje não saberia diferenciar uma menina adoravelmente ingênua de uma puta esperta. Não, Mickey Mouse de Jesus é estúpido, pornográfico, um "latin lover", sou capaz de apostar com você que esta versão absurda de mim, nunca leu um livro na vida e quando feita esta pergunta, diria algo como "eu gosto de Mr. Habbit".
"Eu te amo", sim, esta versão de mim diria isso como quem diria "como vai sua buc...? Deixe-a bem cheirosa pra mim....", entre um "eu te amo babe..." e outro. Uma vez ouvi Francis dizendo que o segredo era cantar "oh sua puta" como se estivesse dizendo "oh querida" lembra, aquela mesma dos Beatles, aqueles adoráveis cafajestes, até hoje não entendo como John foi se casar com a mulher mais feia em que conseguiu por pinto.
Continuando, trepo com ela olhando para o relógio, é divertido, tentar acertar o compasso do ponteiro dos segundos, mas brincar disso as vezes machuca, dói, mulheres muito magras não são tão boas de comer, quanto as gordas que querem ser magras pensam, muito osso pouca carne. Minha melhor trepada até agora, foi com uma menina de 24 anos quando eu ainda tinha 21, ela era muito boa mesma, sabia controlar suas contrações como ninguém, se bem que ela não era nem um pouco gorda, era gostosa, o que traz abaixo a teoria acima. Puts, to perdendo o tempo das contrações, é a idade ou a hora, preciso ir.
Ela goza, eu visto a roupa, o jogo acaba.
Essa é a nossa vida.

The darkness on the edge of town.

Meu coração esta tão longe, longe, fui dar uma volta e você desapareceu. Gosto de pensar que você levou minha alma também bem como todo o meu respeito por amor e humanidade. Gosto de imaginar você me odiando e inventando mentiras sobre o meu jeito, eu gosto de frisar que não havia nada em você além do que todos já viram. Eu simplesmente penso que no final das somas é difícil separar quem é vampiro e quem é seu amigo, ou quem realmente te quer bem. São dias estranhos estes não? O que se passa pelos meus olhos, eu sei que você deve imaginar que tudo isso é sobre os efeitos de você sobre mim, mas num ponto você sempre esteve certa, há muito mais coisas num pedaço de mim do que nunca vai haver em você e isso foi que te fez desistir. Volto a minha caminhada pelas ruas desta cidade maldita, eu odiaria tudo esta manhã a começar por mim, pela minha voz rouca, lembranças que dançam e dizem que eu sou um otário nostálgico que não consegue se desligar de ninguém, eu rezo, isto é um segredo, eu rezo todas as noites, mas parece que nunca haverá respostas, e já nem as quero também, gosto de pensar que fiz tudo isso por mim, que sou o maldito único Deus e senhor do meu domínio. Desde que me lembro de sonhar lembro do sonho em que sou atropelado numa rua como esta, triste, vazia, limpa, eu espero por meu fim desde o inicio, meu coração esta longe, isso garante a você a melhor parte de mim? Continuo a me arrastar manhã adentro, fiquei amargo como Dylan e sentimental como buckley, ouvindo um mantra repetido nas minhas entranhas, respostas que o álcool demorou a me dizer, sim eu voltei a beber como quando era criança, e agora brinco de acender cigarros porque eles me ajudam a ir de vez. Queria ser bom, queria e você sabe que eu fiz o possível pra ser alguém melhor, agora me vejo querendo ir realmente para o inferno. Corto palavras e colo no meu peito, digo a Deus que não importam migalhas católicas, estou com tanto ódio que nem respeito os sinais que insistem em piscar na minha frente, não irei muito longe, quero ver quanto tempo leva pra alguém me acertar. Essa tempestade me faz sorrir, falso como todos os meus passos, cínico como o seu adeus, meu ódio (agora é a ele a quem devoto minha clemência) porque isso não acaba? Até quando vou ter de mentir? Meu coração esta longe, longe, talvez você nem saiba o quanto me faz pensar em desistir, rezo para tempestade arrasar tudo. Meu egoísmo pede e não, não consegue andar sozinho no escuro, ele sabe que não é o único e não merece pagar por tudo, mas não agüento mais pensar, não suporto essas vozes aqui dentro, meu ódio, eu sou holden, eu odeio este coração, eu odeio a minha alma, eu queria apodrecer comum e ressuscitar estúpido, por que só assim eu posso ser tudo, porque só assim Deus irá gostar de mim.

Love is a losing game.

Parecia fácil amar uma pessoa linda, com ombros gostosos, lábios grossos e um monte de manias maluca. Há é claro, uma porção de livros e um corpo de dar inveja a todas as outras namoradas que já havia tido. Estou me prendendo a detalhes que você ou qualquer um que olhe para ela veja sem muito esforço. Mas, enfim aprendi que relações independem do quanto amor existe na sua casa. Os estágios evolutivos sociais são assustadores para um menino cuja palavra “amor” era significado de tudo que ele queria, amor. E era tão simples amar pessoas há dez anos atrás, elas não tinham problemas pessoais, pelo menos não as que me atraiam, a maioria das meninas que conhecia gastavam mais energia falando de como era infeliz por coisas que hoje dificilmente a roubaria um ou dois suspiros do seu peito, mas em 1997, nossa, era tudo tão triste.

Quando morava numa cidadezinha no interior, com menos de quinze mil habitantes sonhava com o tipo de relacionamento que vivo hoje. Lá onde nasci e vivi por vinte e poucos longos anos, provavelmente um terço dessas quinze mil pessoas me conhecera deste a infância e as chances de encontrar uma paixão no mínimo palatável eram de uma pessoa a cada cinco mil, ou seja, três ou quatro habitantes. Pense nisso em 10 anos, mais ou menos o tempo que a gente desenvolve o amor pelo sexo (hoje em dia dizer sexo oposto é meio brega, então ficaremos apenas com sexo), primeiro amor aos treze, primeira vez aos dezesseis, primeiro relacionamento “sério” aos dezoito. Não restam muitas opções após isso, o que explica, muitos “conhecidos” que se casaram com namoradinhas de infância.

Acontece que o amor sempre foi minha massa de modelar as coisas que eu queria. De vez em quando encontro historias no meu caderno de poemas toscos que hoje parecem meus sentimentos mais fortes. E como uma criança pode saber o que esta escrevendo? Ou melhor, “o que esta sentindo”? Eu me acostumei desde muito cedo a interligar as coisas, cultura pop a cada pessoa que me instigava. Deve ser esta a razão pela qual nunca desisto de ninguém, porque desistir delas significa negar uma parte de mim.

Last goodbye.

Quatro e dezoito, acordo, ligo o radio e descubro que consegui matar apenas uma hora da noite. Não importa o quanto durma, sempre estou cansado, tem sido assim desde que ela me deixou. Desde que separamos nossos corpos tento mudar meu rosto, minhas roupas, meu cabelo, tal como em dançando no escuro. Sempre que estou na merda coloco Grace para tocar. Mais ou menos como aquelas pessoas que queimam incenso pra disfarçar o cheiro de maconha, eu simplesmente preciso de algo solidário, algo que disfarce minha vida inútil. Desde que ouvi cada canção deste disco pela primeira vez há dez anos atrás, minha vida tornou-se um fardo de merda cada vez mais pesado e molhado, tem sido como andar de bicicleta na grama molhada, o inferno e uma tremenda idiotice. Meus olhos não fecham até a luz entrar pela janela, sempre é assim, as coisas externas não mudam, eu apenas me sinto mais velho do que deveria, mais fraco do que realmente sou, mais triste do que qualquer coisa, mais conformado também, enfim, mais um monte de coisas superestimadas aqui dentro deste quarto cheirando a suor do meu corpo.

Lembro-me de quando era criança e as pessoas se referiam a mim como um menino promissor e bem, uma criança nunca sabe o peso que colocaram sobre ela até que ela esteja aqui, quase trinta anos, afogado na auto-indulgência tentando transformar um monte de palavras em sensibilidade. É engraçado como as vezes você consegue nitidamente perceber onde está o erro do exercício lógico que tornou sua vida. Mas, ai está você divido entre voltar e consertar o que está errado, aceitar que está errado e que vai morrer assim, ou fingir que nada disso é com você. Nesse momento estou divido entre voltar e começar do zero e seguir queimando o que me resta. Entre essas duas opções? É claro que a segunda tentadora. Bem, é interessante pensar que eu já não tenho um amor pra não me sentir mal quanto a minha possível vida eterna, e se tivesse um amor, não iria desejar me afogar num rio qualquer. Jeff meu chapa, ninguém nada de botas, nem eu, nem você, muito menos Virginia Wolf. Todos nós, homens mulheres, crianças, sabemos que não há um mundo melhor aqui ou lá longe onde ficou tudo. É tudo uma grande coisa chata e como dizem, cada homem com seu fantasma de estimação e o meu, o meu faz mal a um monte de gente. Não consigo saber quando me tornei mau, se eu sempre fora assim, está lá numa canção de Bruce Springsteen. Pelo que consigo lembrar eu amava muito todo mundo, tanto que sempre penso que devemos morrer antes de quem amamos, “eu morreria se você morresse...ok, então chegamos a um impasse.” bla bla bla.

Quando ela foi embora não houve beijo de consolação. Não houve consolo nem conversas seguintes, ninguém desejou boa sorte a ninguém, apenas adeus. Nunca houve amor, é o que você se pergunta numa hora dessas, porque de repente você acorda tendo um dia ruim, uma semana ruim e não consegue raciocinar direito. E quando a fase passa e elas sempre passam, você perdeu seu emprego, sua mulher, sua vida, seu ego, aquela coisa gorda sentada na poltrona ao lado está derretendo, e o que fica se parece muito com a água suja do ralo. E como homem pequeno de Deus que é, fica mal, não consegue suportar sua propria casa, bebe, escreve, deseja do fundo do coração que ela se foda por uns dois ou três dias, mas logo isso passa e seis dias depois há uma outra morena na sua cama. Mulheres para pessoas como eu e Jeff são como cocaina, quando é dá boa te faz parecer brilhante, tudo fica nítido e perfeito, mas quando é ruim te deixa parecendo um retardado de nariz entupido e não viciado. E o problema na maioria das vezes é o fato de que tanto a presença da mulher quanto da cocaina dependem dos acompanhamentos, é por isso que raramente me apaixono por duas mulheres num breve período de tempo, quer dizer, entenda esse breve por seis meses no mínimo. As vezes elas são lindas e são burras, ou são lindas e prepotentes, ou as vezes são feias. Qual o problema das mulheres nas nossas canções Jeff?

Clementine.

Trocamos sorrisos, recortei minha boca, estendi a mão pelo seu cabelo e deixei cair. Ela guardou no bolso, sem esquecer de lamber minhas ultimas palavras, olhou pra prateleira, pediu em qual igreja iríamos casar, respondi “Jesus e Maria corrente”, ela riu, obsessão você diria? Eu digo “la ya la ya”.
Tive tantas certezas nos meus últimos 15 segundos do seu lado. Fugi pra perto do seu umbigo e encontrei sementes de laranja, um casaco de militar e um disco do elliott Smith. O telefone tocou, cuspi minha pornografia e você engoliu, sem saber que eu estava ali só para a ver. As coisas mudam, eu diria "babe" se fosse bukowsky, então eu digo moça e você me beija, no rosto, no corpo, tudo bem, minhas lembranças se espalharam pela rua, tenho mais espaço agora, fiz tudo errado e deixei ela perceber, sementes não crescem por aqui? Um metro e sessenta e pouco, sorriso de metal com gosto de menta, odeio frases assim, mas apostaria minhas fichas só pra você ganhar. Sapato rosa com as pontas gasta, doce de cereja, cantoras de voz doce? Oh eu deixei minha janela metafórica aberta e foi por ali que você entrou é? Estava quente como a nuca pensante de Skinner, o cérebro âmago que pintou minha capela de vermelho. Eu disse, la ya? Você me deixa tocar isso no seu velório? Eu tenho esperança, tenho e o pior é ter certeza que todo mundo sabe, não era pra ser assim, eu deveria sofrer e você deveria dizer: "oh coitadinho, um ratinho pelado" "ya babe, me leve pra sua cama", estou rindo, mas não conte pra ninguém, preciso mesmo fazer de conta que não me interesso por coisas bonitinhas? Ah, já tenho 15 segundos gravados. Menino errado, coração partido, sorriso descascado, será que é mesmo disso que estamos falando? Você me deixa ficar aqui? Eu me comporto e só te beijo se você precisar de saliva. Ela guardou seu rifle, eu disse que haviam uvas na geladeira. Cuspi meu ultimo dente de leite, "agora temos o que beber", eu disse, "ah la ya la ya", acho que fiz uma canção divertida, que merda aprendi um palavrão. Afiei a faca e arranquei uma fatia da sua pele, parecia quente e resolvi tentar uma velha abordagem, mas da próxima vez comprarei o aquecedor e incendiaremos nossas roupas.

Með Blóðnasir

Tenho um suspiro após o outro, tenho surgido de emoções. Um existir de dedos. Uma criança pra sempre. Um falar solitário, palavras que nunca querem dizer nada. A primeira palavra. Rasgar o papel de um presente pela primeira vez, ou melhor, ver chegando um pacote suspeito com um laço vermelho, aquele suspense, que explodira com o rasgar do pacote. Infância. Ingenuidade. Sinceridade. A sua mãe, o seu pai. A vontade de abraçar alguém, aquele “upa” que só a pessoa certa pode lhe fornecer. O primeiro cair, o primeiro choro, o primeiro levantar e sacudir a poeira. É o primeiro olhar pra uma menina, é o primeiro sorriso amigo, o primeiro andar de mãos dadas, o primeiro beijo. É o primeiro amor. É a primeira vez. É a ultima. É como ter certeza que tudo aquilo que sentiu nos últimos quinze minutos nunca mais se repetirá, mesmo que a canção se repita. Mesmo que você volte atrás. É o coração, é a respiração. São todas aquelas lendas sobre acordar e descobrir que dormiu por 20 anos e a partir deste momento, todas as coisas serão novas, serão como um bom dia, uma boa noite. É como chegar cansado e ouvir a voz da pessoa que você escolheu pra estar sempre ali dizendo “querido, como foi o seu dia?”. É o sorrir, se descobrindo um otário apaixonado, é roer as unhas de ansiedade. É o sim, o não também. É querer bem quem se quer e quem não quis entrar no seu mundo. É o primeiro fim e o próximo começo de tudo. É a ultima palavra. É ser o primeiro a voltar atrás. É desejar o calor do sol, mas não abrir mão do frio. É um cobertor, um cachecol, um guarda chuva. Me faz gostar, me faz querer tudo de novo. Outra vez.

Highway 61 revisited

Como você se esta se sentindo?”

Muito tempo havia se passado desde a ultima vez em que alguém lhe perguntou como estava se sentindo com alguma intenção sincera de saber. Enquanto ainda tentava secar o corpo encharcado da chuva em frente ao único espelho da casa se perguntava com ar de desilusão. E como chovia nesta altura da vida, tanto que já tinha se acostumado a eterna sensação de andar com os pés molhados. Seu terno já nem se dava ao trabalho de secar, visto que logo retornaria ao varal umedecido, esperando pelo dia que também fosse forçado a visitar o brechó da esquina como seu antigo colega “rainy days” e quase tudo que um dia já figurara pela casa.

Quase que precisamente às 23 horas abriu a porta do apartamento #12e35, não havia ninguém em casa, entrou e foi logo procurando pelo pó de café, vicio que nos últimos tempos o consumia vorazmente, bastavam duas ou três horas sem café para que começasse a agir como um junkie maluco por um pico. Enquanto o café passava, estendeu o terno velho no varal, arrancou as botas, jogou a calça no cesto e vestiu as roupas limpas que estavam no lugar onde estendeu seu terno. Os dias se repetiam e acordar cedo todos os dias estava mais próximo de uma doença do que propriamente disposição. Levantava, andava pela casa, fazia seu café, comia seu doce, depois sentava e “batia” o milhar diário de seu romance. Não raro se entediava com a estupidez e inutilidade de seus textos e saia procurar um emprego de homem, no caminho visitava seus amigos na biblioteca. Todos aqueles livros, aqueles poetas, eram melhor companhia do que toda essa gente que se acumulavam pelas ruas, igrejas, praças, bares. Desde que renunciara a essa gente pequena de olhos tristes e problemas miseravelmente pequenos sua vida tornara se simples. Mas quando ele se olhava de fora, aquele cara ali, molhado, sujo, duro, aquele clichê do que falta a um homem tenha ele tudo ou nada, sempre é a pomposa “falta de amor” que acaba perturbando, amor que nem precisava ser como aquele que pensava na adolescência e que concluiu, nunca ter existido. “Entrar em casa, cansado, sujo da rua e ouvir da sua companheira “querido, como foi seu dia?” apenas isso seguido de café, algum carinho e palavras verdadeiras...” Quando dizia isso usava como argumento o fato que até Dylan preferiu o sossego do lar depois de 1966 quando o resto do mundo estava enlouquecendo. Porem hoje, como uma garota num filme dos anos noventa, se contentaria com alguém que lhe dissesse “saúde...” para quando espirasse.

A xícara de café finalmente entre as mãos, pôs-se a ler Morangos Mofados e pensar numa maneira de abreviar o nome do escritor. Não importava, era apenas um bom livro que ficava melhor quando ganhava cores pessoais. Com passagens extremamente familiares a ele, frases como “havia uma biblioteca de Alexandria entre nós...” resumiam boa parte de seus relacionamentos. Queen jane Approximately ecoava pelo apartamento como em uma de suas historias preferidas, Bob Dylan era o tipo de resposta ressentida que toda mulher deveria ouvir. Assim como todo mundo sabe o que as mulheres querem quando estão a fim de ver filmes melosos, Bob Dylan era guardado para aqueles dias em que desejava que alguém em algum lugar estivesse se fodendo, ou pelo menos pior que do que ele. Se enganar às vezes o fazia melhor por algum tempo, porque sim, ele bem sabia que se há uma verdade sobre homens e mulheres, é que elas nunca estão piores que eles, mas pensar que sim nos faz tomar um bom café e sair para ver outras mulheres.

Queen jane obviamente tinha um significado pessoal que em nada tinha a ver com a letra. Não gostava quando alguém dizia que todas as suas conversas eram pontuadas por musicas, talvez fossem, mas no ponto de vista dele as canções são derivações de uma vida, varias vidas e era sobre isso que falava sempre, sobre vida ou o que restava dela. Highway 61 revisited era como um vinho guardado para aquele momento de profunda reflexão, aquele momento que nenhuma dúzia de palavras fará uma resposta melhor que a embriagues. Assim como o vinho as doses de highway haviam diminuído ao status que normalmente as pessoas dão a aqueles álbuns de fotos de uma época que não gostamos de lembrar. Isso fazia do ato de colocar o vinil para tocar totalmente compreensível, recentemente havia visto uma fotografia atual de uma garota por quem já estivera realmente louco até um tempo atrás.

O tempo havia andado para ambos e aquela historia que o relógio é amigo do homem e inimigo da mulher era uma tremenda mentira. O relógio dele ao menos fazia amigos e conquistava pessoas, mas não o deixava mais novo, cada vez mais velho, cada vez mais ranzinza, cada vez mais próximo do fim ou de Bob Dylan nos anos oitenta. bla, bla, bla. Ela, após todos esses três anos ainda aparentava se esforçar para manter o ar “sou uma mulher européia”, mas que esteve sempre pra “mulher de europeu” que qualquer outra coisa. A maquiagem não havia mudado apenas mais carregada perto dos olhos, o cabelo ainda estava penteado a força para o mesmo lado, três dedos mais compridos o que deveria significar pelo menos duas horas de trabalho árduo. Para ele, era engraçado que ela nunca sorrisse como uma pessoa normal, porque suas bochechas formavam uma bolsa perto da boca como se fosse um queixo duplo logo abaixo da boca e isso o tempo realmente havia piorado, mas era o único sinal de que outras pessoas alem dele haviam envelhecido.

O que o incomodava era o fato de que entre as pessoas que o rodeavam nunca conseguia encontrar alguém que fornecesse aquele tesão visual que sentia para com a mulher da foto. Mulheres mais lindas, mais lindas e mais gostosas, mais lindas, mais gostosas e mais talentosas e bem, haviam todas as outras por ali e nenhuma delas o completava, não da maneira como Highway 61 Revisited o fazia se sentir completo. Era mais um belo exemplar do clichê masculino em carne, osso e jeans. É claro, houve outras possibilidades antes e depois de Highway. Bringing It All Back Home, Tupelo Honey, Born to Run, nebraska uma recaída por Blood on Tracks e recentemente uma tímida paixão por Summerteeth, todos esses momentos tiveram suas áreas erógenas diferentes, maiores e menores estâncias. A humanidade sempre lida com alguma dificuldade quando se trata de momentos únicos, e aquele foi seu momento, mais ou menos como a sensação de ver e ouvir Live 1966, uma vida inteira captada pela lente fotográfica da eternidade. Ele tinha o seu e ela fazia parte deste momento, às vezes se imaginava como Dylan e Susan Rotolo na capa de Freeweelin’ Bob Dylan. Imagine se Dylan encontrasse Susan anos depois e lembrasse de que a capa que eternizaram na verdade era a Polaroid que captou o fim do romance, todo mundo sabe que Susan posou a contragosto para a capa do disco que equivocadamente virou sinônimo de romance perfeito num filme moderninho da virada do século.

Ele sabia de tudo isso quando encarou aquela fotografia de sua antiga amante. Sabia que Dylan não aprovaria tanta reflexão e tanto tempo gasto sobre uma pessoa do passado, ao contrario de Bruce Springsteen que em suas canções, sempre acaba voltando para encontrar alguma garota de sua adolescência e descobre que ela foi embora, então passa uma canção inteira lamentando e se desculpando para com ela. Dylan diria que Bruce sempre foi muito coração mole e seus personagens são uns frouxos que nunca conseguem ficar com as garotas no final. Quando perguntado sobre o que fazer com as fotografias, Dylan provavelmente diria “de à sua mãe e diga pra se contentar com isso...” resposta polida de um cara que mentiu ser órfão e criado por ciganos num circo, enquanto Bruce diria “calma, tome seu café, ligue para ela, pergunte como está sendo sua vida...”.

Dylan e Springsteen não eram referencias, um ficou casado durante anos com a mesma mulher e quando o casamento acabou fez um disco de muito sucesso sobre o divorcio, o outro casou num ano e se separou no outro e fez um de seus piores discos sobre o divorcio. Alias, ele bem sabia que Bruce e Bob não fizeram um disco bom do momento em que ele nascera até completar 15 anos, então perguntar o que fazer para eles, equivaleria a perguntar para sua mãe ou para a mãe da mulher na fotografia, pessoas cuja fortaleza dos relacionamentos ficou lá atrás em mil novecentos e oitenta e pouco.

Não, ele não pensava há muito tempo naquela mulher, há pelo menos dois anos e desde que mudara de cidade, de amigos e quase casou. Pouco soube dela, quando encontrava alguém idiota o bastante para cair no assunto como se não houvesse dois anos se passado e as informações eram no máximo depreciativas como “continua trocando de namorado a cada quinze dias” “ainda pensa que tem dezoito anos” e sobre o fato dela continuar a mesma crente e fumante de merda que sempre foi. Tão católica quanto um crucifixo, a piada que ele inventara para com aquele pedaço de pau que carregava no pescoço, mais ou menos como naquele filme adolescente em que a vilã carregava um cheio de coca. O que lembrava dela agora era isso, “sua-pseudo-pati-drogadinha-de-merda-filhinha-do-papai-com-crucifixo-no-pescoço”.

A noite seguia e a estrada sendo revisitada, duas horas depois de ter entrado em casa com os pés encharcados e aquela maldita fotografia de jornal na cabeça. Eram três pessoas, ela, e dois homens, um aparentando ter mais de cinqüenta anos e outro com cara de estudante. Certa vez soube que quase todos os amigos que ela possuía haviam se distanciado e depois disso não soube mais nada até a fotografia do jornal. O choque de reconhecer aquele rosto fez com que acabasse não lendo o texto, nem se quer a legenda da fotografia. Uns dois minutos gastos sobre a imagem e não quis saber de mais nada neste dia, ou melhor, tentou dormir, mas não dava pra fazer isso com Bob gritando para Jane que venha vê-lo. Encarando o terceiro copo de café da noite, inconscientemente trilhou uma teoria sobre aquelas três pessoas. Um, conhecia o pai dela e não era seu pai aquele senhor de mais de cinqüenta anos. Dois, ela agora pegava garotinhos? Deus, o que houve com essa mulher para que agora ela estivesse pegando caras com cara de estudante de engenharia. Três, seriam colegas? Aqueles rostos não diziam nada, pessoas que definitivamente nunca havia visto. Enquanto especulava o que teria acontecido de importante nesses três anos que viesse a culminar com ela numa fotografia de jornal, virou o disco para o lado A novamente encontrando o épico “like a rolling stone” e uma latente possibilidade de passar a manhã seguinte procurando o jornal de ontem nas bancas da cidade.

A maioria das pessoas tende a pensar que quase tudo que se escreve e se canta por ai é direcionado a alguém, mas quase sempre é o que o autor quer que pensem. Afinal quantos Jones deveriam existir no mundo quando Dylan compôs “the ballad of thin man”? Um milhão? Dez milhões? Enfim, talvez em algum lugar deste mundo Jones e Jane, suas canções preferidas, respectivamente lado A e B, estivessem abraçados enquanto ele estava ai andando com os pés molhados e a calça nas mãos. Seu consolo, depois de todo esse tempo ouvindo Dylan, chegara à conclusão que essas canções só faziam sentido na voz do velho Bob e que por mais que Jane estivesse por ai em fotos de jornal, no quarto e na cama de seus amantes, enfim no inconsciente de toda uma nação melancólica, era pela versão original que sentia alguma coisa.

Aos poucos a memória foi sendo regurgitada, desencavando coisas que só um bom exercício de regressão faria uma pessoa lembrar. Quando aquela mulher foi embora, a primeira edição de blonde on blonde foi junto e ele não comprou outra copia por dois motivos:

Motivo um: se um dia aquela mulher voltasse e com ela o disco, haveriam dois discos pela casa e com eles decepção em saber que a versão remasterizada acabou com o impacto das canções. Seria equivalente a descobrir que aquela garota, agora mulher, se tornara uma versão super-produzida e/ou recauchutada do que era e, o mais importante: não compatível com o nosso tempo.

Motivo dois: nunca mais quis ouvir blonde on blonde. Nem voltou a usar seu terno “rainy days” que um ano depois dela ter ido embora foi parar no brechó da esquina. E neste motivo, haveria dois sub-motivos: um, era o disco que ela mais gostava de Dylan, logo que terminaram o relacionamento, nos primeiros dias acabou achando uma versão em mono do disco, raridade e pensou em dar a ela em memória ao tempo que passaram juntos, mas seriam 160 contos de investimentos inútil. Dois, quando ela decidiu ir embora, disse ironicamente que levaria só uma única fotografia dele, a capa de blonde on blonde, porque era assim que ela o conhecera e gostava de lembrar. E ele, após algum tempo concluiu que não conseguiria conviver diariamente com o fantasma do que ele era, ou do que aquela mulher achava que ele era. Bem, ela, a esta altura da idade, estava como naquela canção, achando que virou uma mulher, mas na verdade ainda era só uma garotinha.

Racing in the streets.

Quase ninguém consegue falar sobre o objetivo de uma harmonia, de um arranjo ser X ou então ser Y. todo mundo recorre a leitura da letra para compreender do que se trata, mas as coisas nem sempre são assim. As melhores canções que existem por ai sugerem dois tipos de leitura, uma escrita e dita palavra por palavra. A outra na escolha do arranjo para cada segundo da canção. Sem entender uma palavra de inglês, alguém sensível o bastante para gostar de musica boa conseguiria entender o porquê de um sax ou um piano em determinada parte da canção, pelo menos eu espero do fundo do coração que existam pessoas capazes disso.

X: dois desconhecidos se encontram e passam a flertar, insinuam algo, talvez diversão pós noitada, mas acabam indo para a cama sozinhos. Geralmente essas canções têm ataques de guitarra, baixo e bateria, melodia rápida. Solos de guitarra são guardados para quando a historia X envolve sexo. Quase sempre depois de uma canção explosiva (ou duas), sempre vem uma balada para colocar a cabeça no lugar. Y: duas pessoas que estavam juntas se separam e uma delas conta a historia com ajuda de violões, pianos e um solo de sax quando quem conta a historia quer que a personagem volte para seus braços para pelo menos um ultimo adeus e algum sexo. Basicamente noventa por cento da musica pop se compõe assim.

Racing in the streets se passa ao amanhecer, quando as pessoas acordadas são trabalhadores ou então são aquelas que viram a noite virar dia e agora estão ali, depois tantas promessas, restam sempre as mesmas bocas amargas e um cabelo bagunçado. Nada disso é dito por Bruce Springsteen, não está na letra, está naquele piano que tecla por tecla vai mostrando a noite ficando para trás pelo retrovisor, quando Bruce começa cantar, já estamos na cama olhando o sol enquanto fechamos a cortina do quarto, enquanto pesamos as ações, o que de fato aconteceu e o que deveria ter acontecido se tivéssemos sido sinceros para com nós mesmos.

A maioria das coisas que ficam na memória quando a gente para pra pensar nas noites que se foram, muito raramente não são como racing in the streets. Se você quer se arrepender de algo basta tocar um piano como aquele as seis da amanha e todo mundo entenderá que a noite acabou e pelo menos para você, deu tudo errado. Quando você já está na merda e conformado com a possibilidade de que nunca conseguirá ter algo melhor do que apostar sua vida na mão de outras pessoas todas as noites, eis que entra uma harmonia de teclado pra te dizer que todo mundo tem algo no bolso, seja um telefone, um endereço, as chaves do carro, uma outra saída. Infelizmente para pessoas como nós, é disso que é feito a vida.

“Doce”. Se algum dia ela viesse a publicar um livro, seria com essa palavra que todos os críticos espertos definiriam seus trejeitos literários, trejeitos estes que seriam possíveis de adivinhar pousando os olhos sobre a escritora por um minuto ou dois. Ela é dona de um romantismo que me faz pensar que esta linda garota, sempre rodeada de pretendentes apaixonados, nunca em momento algum, fora correspondida em suas próprias paixões. Nem se quer por seus bichinhos de estimação, talvez por que na minha imaginação todos eles morriam de diabete perto desta menina, pobre menina linda, pobre menina doce. Sentada sobre sua cama, joelhos que se encostam delicadamente formando um X com suas pernas, do fim da saia até as sapatilhas vermelhas, a espera por algo maior do que a vida lhe proporciona a faz ficar acordada, a faz apertar os olhos para que em algum momento seguinte eles possam ser abertos com muita força. Em seus planos, uma vida que deveria ser simples como as lembranças do algodão cor de rosa entre seus dedos finos, um garoto para agarrar pelo braço e puxa-lo rua abaixo, talvez acabar usando-o como defesa, mais ou menos como a Mônica faz com o sansão. Uma vida para ser contada em um desenho preto e branco e sobre fundo musical, uma canção de Edith Piaf. Eis que um escritor fascinado pela escritora, faria anotações sobre todas as paginas do livro e dali sairia uma personagem para ser interpretada por Audrey Tautou ou por alguma atriz de algum filme francês com cheiro de antigo, meio Nouvelle Vague, cheio de pessoas com roupas listradas. Enfim, um papel perfeito cheio de situações que simplesmente não acontecem mais.

Please don’t take my sunshine away

Todo dia encontro a mesma garota na rua. É sem querer eu juro, eu simplesmente saio de casa quase sempre dez horas e pronto: ela cruza por mim na esquina de casa. Ela é pequena e bonita, tem cabelos castanhos, pele rosada e uma pinta no rosto. Seguimos na mesma direção por duas quadras e mudamos de caminho. Toda vez sigo atrás dela, não me atrevo a ultrapassá-la, não ouso qualquer contato, não é essa a intenção muito embora tenha quase certeza de que ela sabe quem eu sou, assim como sei quem ela é. Não importa, gosto da sensação infantil que tenho todas as manhãs quando a vejo, gosto tanto que já escrevi algumas historias sobre ela sem nunca ter dito “ola, que tal” para ela, afinal, tudo por aqui é mais impressão que expressão ou qualquer outra coisa que se passe por isto.

É assim: Sabe quando você tem treze anos e faz todo dia o mesmo trajeto até a escola, caminho este que você faz por anos, conhece todas as casas, todas as pessoas que passam por você, etc-etc-etc. Mas eis que um belo dia alguém estranho aparece e começa fazer o mesmo trajeto toda manhã e logo você descobre que esse alguém é uma aluna nova na sua classe? Então é mais ou menos a mesma coisa. Na verdade não é porque não existe mais escola, nem se quer faculdade na minha vida, apenas bares e pessoas indo e vindo trabalhar. Quer dizer do meu ponto de vista é uma mistura doida entre essa historia do caminho com aquela historia do menino apaixonado pela balconista, aquela do menino tímido que morre sem se declarar para a garota e todo mundo sabe o resto da historia, bla-bla-bla. Enfim, minha vida, sua vida, etc, tudo meio confuso, mas se resume assim.

Voltando a historia da menina, não sei onde a vi primeiro, se foi na rua, num bar ou em qualquer outro universo, mas estou sempre trombando com ela. É como se, abre aspas: uma força maior estivesse querendo que a gente se encontrasse. Fecha aspas. Ta eu sei, frase brega, é só a minha adolescência que aflora quando vê uma garota bonita na rua e me faz pensar em coisas assim e bem, do alto dos meus vinte e seis anos, não posso agir feito criança e deixar que os outros saibam. Ok, ninguém aqui viu nada e para todos os efeitos daqui um mês, no máximo, estarei morando em outro lugar de modo que das duas, uma: assumo que sou homem feito e consequentemente guardo esta garota na galeria das paixões platônicas de Giancarlo Rufatto e a partir disso ficará existindo apenas aqui nas minhas historias ou volto à sétima série, época em que aumentei meu percurso para escola em quase quinhentos metros para continuar encontrando a menina dos meus sonhos no caminho para a escola. Tudo isso para acabar como em todas as historias tristes envolvendo o menino gordinho, perdendo a garota para alguém próximo a mim, alguém que se fosse hoje, não seria páreo para este cara aqui (sério isso aconteceu, ela acabou namorando um dos meus primos, logo aquele que nunca leu um livro na vida e nunca sequer soube que por alguns dias da minha vida sai dez minutos antes de casa para poder vê-la antes de todo mundo).

Moral da historia “– Giancarlo Rufatto: se você escolher a segunda opção, juro que nunca mais falo com você.” disse a sã consciência.

Dancing in the dark

Ganhadores e perdedores, peguem seus ingressos aqui.

1. - Sua vida se repete? Sabe como se realmente houvesse um circulo vital e você nunca saísse daquela roda, apesar de outras pessoas entrarem e saírem do seu diâmetro, sua vida é uma repetição?

2. As horas se tornaram insuportáveis. Não consigo olhar para o relógio, não sei se ele logra melhor condição que eu, bem pelo menos ele faz amigos e conquistas pessoas, quanto a mim... nada. Enfim, ele não muda, eu não mudo, por mim tudo bem, estamos quites.

3. Quando me sento para escrever diante de você penso em dancin’in the dark, penso no quanto medíocre todos os esforços tendem a ser. Tento mudar meus cabelos, minha roupas, meu rosto... É o que eu tento fazer quando volto para casa e viro este cara escrevendo. Bem, há uma piada em algum lugar e é sobre mim. Você não é humano se nunca se sentiu feliz por fazer alguém rir, mesmo que seja de você.

4. Queria um dia diferente. Um dia que nada nos chateasse. Que fosse pleno como carinho de mãe. Um dia como aqueles que passamos o ano todo lembrando, trezentos e sessenta e quatro dias lembrando. Eu queria um. Não estou em condição de reclamar, há muita coisa boa por ai, mas muito poucas tem alguma ligação com este rapaz.

5. Sai ontem. Fui a um lugar que nunca havia estado, um bar novo que abriu e havia uma festa promovida pela dona de um outro bar, aquele onde eu sempre vou. Estava pensando como Fernando pessoa se sentiria se chegasse à tabacaria e soubesse que teria de ir a outro lugar, sem possibilidade de escolha, ou isso ou casa. Desenvolvi uma espécie de compulsão que me obriga fazer varias coisas mais ou menos no horário certo, um desses horários é chegar as dez e meia ao bar. Feito isso tudo bem. Por mais que todos os freqüentadores, donos, etc estivessem no outro bar, eu, eu estava completamente perdido. Não conhecia os garçons, o dono do bar passa e não te cumprimenta, não existia aquela sensação que todos somos amigos da mesma pessoa numa festa em casa. Enfim, tudo isso passou pela minha cabeça enquanto lutava por uma dose de whisky. O termo lutar não é o mais adequado e sim a alusão feita por um amigo, isso aqui é a áfrica. É a Somália meu caro. A única diferença é que a maioria aqui não precisaria armar um rifle para conseguir uma dose de álcool.

6.

Sou apaixonado por uma mulher que não existe. Ou por uma mulher que não sabe que eu existo. Não estou apaixonado, desculpe se te decepcionei, foi só uma reação momentânea sobre alguém que passou por mim enquanto olhava todas as pessoas e não havia ninguém que eu pudesse dizer “que legal” com três pontos de exclamação. Bem, deveria haver alguém lá que me faria muito bem, a moça que me fez escrever este tópico por ex, ok ela não é bonita, nem se encaixa em padrão algum que me imponho para com as mulheres e como para cada três semanas boas – uma é ruim, é bom ficar na minha e não arriscar. As pessoas desapareceram. É por isso que eu saio noite após noite, pra ver se encontro alguém pelo qual consiga me apaixonar. E não só se apaixonar, mas virar minha cabeça, me fazer ter treze anos e uma incrível sensação de que vou morrer se não tiver a pessoa x ao redor do meu braço.

7.

Nunca consigo nada. Quer dizer consigo o suficiente para continuar vivo. E nesta altura da vida esse continuísmo não me atrai a ponto de me causar alguma felicidade. Deve haver algo mais que pessoas sorridentes e suas contas bancarias fofinhas, mas não sei, não deve ser perto daqui.

8.

Quando digo que não existem pessoas legais por perto, me refiro ao fato de que não há ninguém capaz de me ensinar algo. Algo que ninguém tenha pensado também seria útil. Mentira! Eu só queria um coração. Outra mentira! Toda vez que tenho um coração, não sei o que fazer com ele. Queria colo. Isso, não quero amor quero colo. Estou aqui de pé, olhe para mim mulher, quero colo. Acho que preciso ter um filho para ver se tomo jeito.

The ballad of thin man.

Nas profundezas do coração e do copo Uma noite pela capital do estado.

1

- Que diabos de homem eu sou? Encaro o inferno e lhe decoro com palavras bonitas? Sou incapaz de desejar mal para o meu inimigo? Vamos, tente. Tente. Estou lhe dizendo, tente isso, você consegue. Uma noite toda de olhos, bocas e linguas se cruzando como morteiros. Pessoas caindo em todos os cantos, por amor, por fadiga, nós, eles, aqueles, todo mundo em sua própria guerra pessoal, uma guerra psicológica onde estamos envolvidos por tesão acumulado em nossas armas. Você espera por ação e morre sentado em sua poltrona, agora transformada em trincheira. Em outra hora, outro lugar, seriamos todos um bando de crianças, mas aqui cada um de nós é um demônio faminto.

– alguém ferido? – alguém ferido?

– o #12&35 foi atingido!

– que belo estrago fizeram neste homem aqui!

– alguém o socorra antes que seu coração pare.

– Está tudo bem, esta tudo bem, vou levar alguém comigo antes de me deitar.

É o que tento provar mostrando que um estilhaço vindo da trincheira vizinha fez bem aqui e que, incrivelmente não dói mais. Os olhos mudam, os desenhos feitos pela artilharia continuam fortes. Para o inferno, meu riso denunciou minha posição e agora sou alvo de olhos que não conheço, cruzo as pernas no meu mais sem jeito, eu, o que de fato gosto e penso: “mas porque diabos não levanto esta bunda daqui e minto que sou um cara legal?”

2

Olhar para uma garota num bar e imaginar que talvez ela tenha uma vida alucinante vem se tornando difícil a cada dia. Não que elas não tenham milhões de planos escondidos sob a pele, mas com o tempo a procura se tornou um ato repetitivo e você sabe que é inútil porque não é o que elas querem. Elas não querem que você escave e descubra seus segredos. Entenda de uma vez por todas:

- rapaz, elas não querem ser salvas.

Mulheres gostam tanto de jogos quanto homens. A gente sempre começa um dizendo não querer chegar a lugar algum, mas ninguém, ninguém sai de casa sem ter o destino desenhado na cabeça. O flerte é a única competição em que perder significa ganhar na maioria das vezes. Você não imagina como é fácil fazer uma mulher tirar sua calcinha, o problema é o que vem depois. Para a maioria delas, você pode ser oco como um ovo de páscoa de cinco contos que elas não estão preocupadas, pelo menos não agora, contanto que você pareça bonitinho ou charmoso o suficiente para que dê a entender que ali atrás da pose mora um homem complexo cheio de perguntas e respostas. Mas pensar nestas coisas, só nos ocorre no dia seguinte quando o álcool já desapareceu e estamos ali numa cama que não é a sua.

3

Até chegar aos vinte anos, morando numa cidadezinha estúpida, achava que sexo era como ir à igreja, existiam os que faziam o tempo todo (e se encarregavam de contar seus feitos) e os que nunca faziam. E nessa dos que faziam o tempo todo, a historia nunca era contada na perspectiva de uma mulher. Mesmo que eu tenha visto muito do que é um relacionamento pela ótica feminina da minha mãe, o desejo sexual ainda parecia um ato masculino. Palavras como tesão, masturbação e gozo, a existência de um falo ereto dentro das calças, situação que nos denunciavam como doutores da reprodução da espécie, era condição para que se as mulheres quisessem ter filhos, teriam de lidar com essas coisas ai em cima. Uma frase como “hoje eu tenho de comer alguém” tipicamente atribuída ao homem e seu falo esconde na verdade um garotinho inocente e mal instruído sobre o que as mulheres querem em cada espaço aberto entre essas palavras. O fato é: Não passa pela cabeça da maioria dos homens “médio” que mulheres também tenham vontade de trepar “só por estar afim de trepar” com alguém que acabaram de conhecer. De onde eu venho, uma mulher que se mostra explicitamente a fim de trepar com você pode significar que ela espera flores no dia seguinte. E café na cama. Quantas vezes meu amigo você não ouviu alguém dizendo “mulheres não fazem sexo, fazem amor...”. A jogada é tão baixa e está tão cravada no inconsciente popular que até outro dia caia nessa de falar “amor” para trepar quando estava trepando com alguém que eu queria mais que uma ou duas noites de sexo. E dizia inconsciente da vergonha que sinto hoje. Comeu? Virou namorada. Deu? Sua Vagabunda. E claro, quanto menor a cidade, maior a probabilidade que ela ganhe um alfabeto de “palavras estúpidas” sobre o fato de ter ido para cama com alguém só por vontade.

Outro fato interessante sobre pessoas perdidas por ai na noite é o incrível numero de relacionamentos que começaram sem que as partes envolvidas tenham dito uma frase interessante sequer, apenas estavam ali e de repente foi. Foi tanto que não conseguiram voltar e acabaram ficando pra sempre. Como isso funciona, não sei, assim como não sei por que passo tanto tempo cultivando uma aura ao meu redor quando ninguém consegue ver e se conseguem ver não estão interessados. Bem, tudo é sempre sexo ou sobre sexo com pessoas solitárias com uma auto-estima do tamanho de um dedal.

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Fulano de tal, um cantorzinho mulherengo (que aos vinte e seis anos de idade não consegue ao menos pagar o aluguel sem ajuda dos pais, mas essa parte ninguém precisa saber) que se orgulha de ter uma canção para cada dia do ano e para cada mulher de sua vida. Eis um cara daqueles que se diverte deixando mulheres apaixonadas por ai ou alimentando paixões impossíveis só para ter sobre o que cantar e reclamar da vida. Vive lendo um monte de escritores que mal consegue pronunciar os nomes direito e diz que isso não importa porque quem cita nomes são enciclopédias e não pessoas. Odeia hippies, adora hypes, embora goste de Caio Fernando Abreu, um escritor incrível morando dentro de um hippie sujo. Ele também escreve sobre quase tudo que existe de supérfluo e irrelevante. É claro, deve ter uns três livros guardados em seu computador, textos ruins e tão obsoletos quanto o uso da palavra obsoleto num texto. Acha que as pessoas se importam com o que ele produz, se acha relevante e tal, mas tudo se passa ali em sua cabeça e dentro dela é fácil acreditar que estamos falando de um homem incrível. Usa seu nome composto, mas quase nunca o chamam assim. Sua mãe foi esperta quando separou seu nome em duas palavras, três com o sobrenome, e sem querer criou uma manha para que o filho possa parecer mais interessante, quando na verdade é só um cara com um nome legal fazendo pose com um copo meio cheio nas mãos. Todo mundo o vê, mas ninguém arrisca contato imediato. É claro, como todo homem de Deus, se encarrega de alimentar suas próprias lendas pessoais, uma para cada ano de sua vida pelo menos, todas incrivelmente confirmada por sua maior fã, a mãe. Enfim, você passaria uma noite incrível com ele, talvez um mês, mas duvido que consiga agüentar um ano.

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- Ela é só mais uma garota com grandes tatuagens e um vestido fácil de tirar. Se eu quiser, realmente quiser ela cai, um minuto olhando para suas coxas e já sei por onde começar. Tudo isso fica aqui, na memória, enquanto olho estas mãos vazias e covardes. Quando estou bebendo, fazendo meu melhor sorriso para a trincheira vizinha a vida parece ser de plástico, um comercial de TV cuja o plástico foi derretendo e aos poucos o que fica é um esqueleto com veias verdes. Ainda bem que ninguém aqui quer nada, nessa altura da vida, nem eu, nem você suportaríamos rejeições, mas estamos todos ali com todos os dentes em dia. Se eu realmente quisesse, aquele vestido não teria me detido. Todos os nossos fantasmas estão se divertindo em algum lugar, brindando a uma vida que não nos pertence. Nós estamos todos aqui na guerra, com as baionetas em riste, dando o melhor para que o exército vizinho caia de quatro pela beleza das nossas cores, estrelas, listras, etc.etc.etc. Eu queria um pouco de ação, uma metralhadora foi feita para atirar e hoje eu deveria atirar em alguém. Mas se realmente quisesse, já teria feito.

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Agora estou aqui, dia seguinte sem conseguir dormir e me recuperar, culpando-me por deixar as chances de lado. Obviamente as possibilidades geram outras historias e a gente cai nessa de teorizar sobre amores possíveis como tias velhas cultas que estamos virando sem notar. Seios e pintos murchos, cabelos brancos, manchas feias pelo corpo, essa ferida que não quer fechar. Cada dia é com razão um dia a menos. – O que aconteceria se eu tivesse encontrado você enquanto estes olhos aqui disparavam contra os olhos por trás do vestido inimigo?

A maior parte da diversão intelectual consiste em flertar com o desconhecido como nos filmes de ficção cientifica. Você vê algo que o instiga, talvez até queira tocar, saber como é estar ali dentro, forçar uma abdução, mas no final volta pra casa e guarda tudo dentro de si porque no fundo você sabe que se resolver contar a alguém, provavelmente passará por charlatão.