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Racing in the streets/thunder road

Resolvi republicar um texto de 2007 sobre uma canção de Bruce Springsteen porque simplesmente encontrei no youtube a seqüência musical dos meus sonhos, Racing in the streets e thunder road seguidas como imaginava que elas deveriam vir, juntas. Pra mim é como Rocky I e Rocky II. Enfim, quando a vida estiver uma merda, recorra ao chefe.


Quase ninguém consegue falar sobre o objetivo de uma harmonia, de um arranjo ser X ou então ser Y. Todo mundo recorre a leitura da letra para compreender do que se trata, mas as coisas nem sempre são assim. As melhores canções que existem por ai sugerem dois tipos de leitura, uma escrita e dita palavra por palavra. A outra na escolha do arranjo para cada segundo da canção. Sem entender uma palavra de inglês, alguém sensível o bastante para gostar de musica boa conseguiria entender o porquê de um sax ou um piano em determinada parte da canção, pelo menos eu espero do fundo do coração que existam pessoas capazes disso.
X: Dois desconhecidos se encontram e passam a flertar, insinuam algo, talvez diversão pós noitada, mas acabam indo para a cama sozinhos. Geralmente essas canções têm ataques de guitarra, baixo e bateria, melodia rápida. Solos de guitarra são guardados para quando a historia X envolve sexo. Quase sempre depois de uma canção explosiva (ou duas), sempre vem uma balada para colocar a cabeça no lugar.
Y: Duas pessoas que estavam juntas se separam e uma delas conta a historia com ajuda de violões, pianos e possivelmente um solo de sax quando quem conta a historia quer que a personagem volte para seus braços para pelo menos um ultimo adeus e algum sexo. Basicamente noventa por cento da musica pop se compõe assim.
Racing in the streets de Bruce Springsteen é um bom exemplo. Se passa ao amanhecer, quando as pessoas acordadas são trabalhadoras ou então são aquelas que viram a noite virar dia e agora estão ali, depois tantas promessas, restam sempre as mesmas bocas amargas e um cabelo bagunçado. Nada disso é dito por Bruce Springsteen, não está na letra, está naquele piano que tecla por tecla vai mostrando a noite ficando para trás pelo retrovisor, quando Bruce começa cantar, já estamos na cama olhando o sol enquanto fechamos a cortina do quarto, enquanto pesamos as ações, o que de fato aconteceu e o que deveria ter acontecido se tivéssemos sido sinceros para com nós mesmos. A maioria das coisas que ficam na memória quando a gente para pra pensar nas noites que se foram, muito raramente não são como racing in the streets. Se você quer se arrepender de algo basta tocar um piano como aquele as seis da amanha e todo mundo entenderá que a noite acabou e pelo menos para você, deu tudo errado. Quando você já está na merda e conformado com a possibilidade de que nunca conseguirá ter algo melhor do que apostar sua vida na mão de outras pessoas todas as noites, eis que entra uma harmonia de teclado pra te dizer que todo mundo tem algo no bolso, seja um telefone, um endereço, as chaves do carro, uma outra saída. Infelizmente para pessoas como nós, é disso que é feito a vida.
Racing in the streets
thunder road