No momento do solo ela emula uma frase torta, um sax drogado com as coxas. Meu corpo se mistura à chuva e os pêlos ganham contornos lânguidos e é, é só a correnteza de um dia, nada disso é sobre eu e você. Você acorda e está outra vez cansado, fez café porque ela quis e para você ele sempre parece tão fraco. Conversas fluem com a TV, porque as vezes é bom ver alguém disposto a falar, falar. Prefira o silêncio é o que o comercial diz. Então liga o radio e não há nada para ouvir, nada para comer que te sacie, nada que você realmente precise. Some daqui mulher, ninguém te ama, ninguém te quer. Decorei alguns rostos pelas ruas e me apaixonei outra vez. Morri de amor pela mesma pessoa umas três vezes e ainda era dia dezesseis. É o suficiente? Dividi a calçada com as putas da Saldanha, com os ladrões que roubam fotografias, há uma senhora que dorme bem ali na frente e que fala num dialeto estranho, deve ser o que acontece com pessoas sozinhas demais, tão à margem que são capazes de criar um dialeto próprio. Levaram meu coração, mas não o meu amor próprio, então ralei meus punhos e cheirei a vida para ver o que acontecia. Era mais divertido morrer de bar em bar em bar e continuar fugindo aqui e ali ou sei lá fingindo ser uma pessoa boa, bêbada, mas boa. É triste porque não estamos mais em 1920 ou em 1930 e você não viu, mas as bolsas quebraram ontem enquanto tentávamos morrer com alguma classe. Ok, babe, eu sou aquele ali com as mãos sobre os olhos, aquele ali tentando se divertir. Morrer de amor agora é esporte, mas não há vitórias, só lugares garantidos para uma próxima sessão, enfim, perdedores e ganhadores, peguem seus tickets aqui. Minha melhor canção é sobre o dia em que você foi embora. Ou sobre o dia que eu fui embora. Ou sobre o dia em que eu voltei. Gasto tanto tempo pensando sobre mim mesmo que é bem provável que em breve não sobre tempo para mais nada. Tudo bem, guarda um pouco de você para quando eu chegar, alias, quem sabe um dia ainda descubro algo que você fez que seja sobre mim, mas hoje não. Reparei que todos os meus casacos sempre sobram nesta parte do peito, nos bolsos são apertados, acho que são tantas perguntas, eu acho, eu compro os seus cigarros e as suas respostas e o seu amor, mas nada, nada disso é sobre mim ou sobre você. Talvez porque estou sóbrio, Agora.
Os últimos dias na terra.
No momento do solo ela emula uma frase torta, um sax drogado com as coxas. Meu corpo se mistura à chuva e os pêlos ganham contornos lânguidos e é, é só a correnteza de um dia, nada disso é sobre eu e você. Você acorda e está outra vez cansado, fez café porque ela quis e para você ele sempre parece tão fraco. Conversas fluem com a TV, porque as vezes é bom ver alguém disposto a falar, falar. Prefira o silêncio é o que o comercial diz. Então liga o radio e não há nada para ouvir, nada para comer que te sacie, nada que você realmente precise. Some daqui mulher, ninguém te ama, ninguém te quer. Decorei alguns rostos pelas ruas e me apaixonei outra vez. Morri de amor pela mesma pessoa umas três vezes e ainda era dia dezesseis. É o suficiente? Dividi a calçada com as putas da Saldanha, com os ladrões que roubam fotografias, há uma senhora que dorme bem ali na frente e que fala num dialeto estranho, deve ser o que acontece com pessoas sozinhas demais, tão à margem que são capazes de criar um dialeto próprio. Levaram meu coração, mas não o meu amor próprio, então ralei meus punhos e cheirei a vida para ver o que acontecia. Era mais divertido morrer de bar em bar em bar e continuar fugindo aqui e ali ou sei lá fingindo ser uma pessoa boa, bêbada, mas boa. É triste porque não estamos mais em 1920 ou em 1930 e você não viu, mas as bolsas quebraram ontem enquanto tentávamos morrer com alguma classe. Ok, babe, eu sou aquele ali com as mãos sobre os olhos, aquele ali tentando se divertir. Morrer de amor agora é esporte, mas não há vitórias, só lugares garantidos para uma próxima sessão, enfim, perdedores e ganhadores, peguem seus tickets aqui. Minha melhor canção é sobre o dia em que você foi embora. Ou sobre o dia que eu fui embora. Ou sobre o dia em que eu voltei. Gasto tanto tempo pensando sobre mim mesmo que é bem provável que em breve não sobre tempo para mais nada. Tudo bem, guarda um pouco de você para quando eu chegar, alias, quem sabe um dia ainda descubro algo que você fez que seja sobre mim, mas hoje não. Reparei que todos os meus casacos sempre sobram nesta parte do peito, nos bolsos são apertados, acho que são tantas perguntas, eu acho, eu compro os seus cigarros e as suas respostas e o seu amor, mas nada, nada disso é sobre mim ou sobre você. Talvez porque estou sóbrio, Agora.