Morro de medo de conhecer meus possíveis irmãos. Minha mãe me assusta com isto, com o dia em que o telefone tocará e do outro lado será um outro filho de meu pai de sangue e segundo ela, não serão poucos. Eu sou filho único de mãe solteira, cheio de cuidados e mimos, de repente alguém aparece e diz: oi, meu nome é fulano de tal, seu irmão. Deus do céu e agora? E se for uma mulher, o que eu faço? Se for bonita e eu não posso ficar afim de minha irmã? Vocês sabem o quanto as cidades andam pequenas, mesmo as metrópoles estão divididas em guetos cada vez menores onde todo mundo se conhece, vá à São Paulo, ao Rio, à Tóquio, à Curitiba: os lugares e as pessoas são sempre as mesmas. É o tipo de coisa que se percebe depois de algum tempo andando por ai. Por isso se meus irmãos tiverem bom gosto (ou bom senso), provavelmente eu já os conheça, mesmo se eles morarem em Porto Alegre ou em Chopinzinho, devem ter um pouco da minha “classe” de modo que até será mais fácil uma aproximação.
Alguns dias atrás falei com duas garotas, uma delas era uma menina que conheci há quase dez anos atrás, Carol era seu nome e ela namorou um amigo de infância ( já não éramos tão crianças por assim dizer). Não a via há pelo menos uns oito anos penso eu e nunca teria lembrado dela, não fosse o fato de estarmos lá num bar falando sobre nossas minúsculas cidades e a falta de perspectiva. Então ela diz que vem de Clevelandia, cidade próxima à cidade que meus pais moram e descubro que ela era a menina que namorava um dos caras da minha antiga banda, Julian Trip. Agora ela é colega/amiga de uma menina linda que eu conheci num bar e que me confundiu com outro cara naquele mesmo dia. Enfim esse é um exemplo pratico de que definitivamente o mundo anda muito, muito pequeno.
Você sai por Curitiba e os rostos se repetem. Os vestidos, as tatuagens, as musicas, os cabelos. Quando eu era criança o máximo de semelhança que havia eram os meus amigos e os seus amigos, eram os brinquedos comprados na mesma loja, depois a brincadeira começou envolver discos e lá se foram as semelhanças. Ah sim, a vizinhança. Quando você sai de um planetinha que desde que você nasceu não ultrapassou os vinte mil habitantes para um espectro de mais de um milhão, espera-se do fundo do coração que as possibilidades aumentem, mas sempre acabamos esbarrando nos clubinhos fechados, os roqueiros (e sua divergências), os pagodeiros e os manos, os clubers (que quase sempre englobam um pouco de tudo), os freqüentadores de bibocas como o James e o bar do sapo, todos eles se reconhecem nas ruas sem suas respectivas indumentárias e se ignoram. Quando você vier a Curitiba, acabarão te levando para o shopping Muller ou para o largo (ou para o baixo largo). Não se espante, as pessoas são sempre as mesmas em Curitiba, o que muda são as roupas, mais ou menos bem vestidas dependendo de onde te levarem.
A única desvantagem de uma cidade pequena para uma cidade grande é que se você nasceu nesta cidade pequena, sua arvore genealógica provavelmente é conhecida por todos os habitantes. E nisso você perde metade do charme e do mistério, pois não há necessidade de contar historias ou de fazer perguntas e eu vos digo: fazer perguntas é o que há. Todo mundo na minha cidade ainda me vê como o menino gordinho jogador de videogame que eu era há mais de dez anos atrás, ou o “violeiro” de sete anos atrás ou o esquisito de cinco anos atrás. Enfim, eles não mudaram em nada alem do corte ralo de cabelo e das roupas com números maiores enquanto eu tento escrever um verbete sobre mim. Não importa o que a gente faça, numa cidade menor estaremos condenados a uma vida sendo filho dos nossos pais. As vezes fico pensando que é preciso de um milhão de pessoas para que apareçam cem pessoas com algo relevante a dizer. Isso significa que para cada cem mil, dez pessoas, para cada dez mil, uma pessoa. é o mesmo calculo sobre romances, precisa-se de um milhão de pessoas para que exista cem possibilidades de romances devidamente catalogadas. É claro, o fato de ter na minha quadra umas cinco possibilidades significa que em outra parte da cidade, eu andaria quilômetros até achar uma menina no mínimo palatável. É o que acontece na minha cidadezinha, as pessoas legais simplesmente não existem mais. Elas existiam, mas ai acabaram sendo corrompidas pela falta de possibilidade. Faça um teste, pergunte a pessoa mais legal que mora em sua cidadezinha qual fora o ultimo livro que era leu na vida. Se perguntar sobre filmes, não raro citar o filme da Amelie Polain lá de uns cinco anos atrás, porque aquele é francês, jogo ganho. Se você fizer esta mesma pergunta tendo discos como alvo, possivelmente essa pergunta ficara sem resposta. E ainda me perguntam por que eu nunca namorei ninguém em coronel vivida.