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Amor de biblioteca.


Ligo o foda-se e saio pela cidade com cinco centavos no bolso. Sim cinco centavos, vou ao único lugar que me aceitam sem ter de abrir a carteira e mostrar o cartão de credito, a biblioteca. Bibliotecas costumam ser muito barulhentas, afinal, boa parte dos encontros acontecem e são marcados nelas, fico pensando nas pessoas que namoram entre as prateleiras, bem, eu já vi isso um filme e imagino que se acontece em filmes, acontece na vida. Lá estou eu procurando algum livro que seja possível começar a lê-lo e termina-lo em duas ou três horas. Dois livros de woody allen, que já deveria ter lido, estão ali, ok, vou ler o da capa mais feia. Sempre me acusam de gostar de livros pela capa, e bem não é culpa minha, são anos de pesquisa aprofundada para chegar a essa conclusão, gosto de livros pela capa. Ontem eu havia terminado de ler uma coleção de textos de Bukowsky, fora interessante e didático porque em duas horas eu tirei três lições pra toda vida:

1) Todas as mulheres que me apaixono são loucas.

2) Todo mundo que eu admiro neste mundo sofreu pacas pra conseguir o que queria e se você acha que eles não sofreram, lamento você não está pronto.

3) Todas as mulheres que me apaixono são definitivamente loucas.

Sentada a minha direita esta uma senhora, três meninos e uma menina linda, cabelos curtos e casaco verde. Esta entretida com seu caderno. Juro que ela faz contas no celular. Não me importo, começo a ler e assim vou até chegar ao “pergaminhos”, uma seleção de textos sobre religião. O melhor é sobre a aparição de Deus a Abraão, caso voce resolva ler o livro de capa amarela feia, esse é o melhor texto.

A senhora ao lado começa a falar alto “EU NÃO POSSO FALAR ALTO, EU ESTOU NA BIBLIOTECA” e eu tenho de olhar, quando levanto os olhos, vejo que a menina também esta rindo da situação, a tia não se importa e continua falando alto e nós rimos disso. A menina, para de escrever e fica rindo na minha direção, vejo que ela muda a direção dos olhos na direção da capa e seu sorriso muda, fica terno, como se, sim, ela se apaixona por mim, graças à feiúra de woody allen e sua capa. Eu não deveria ter prestado atenção, mas prestei e vi que ela estava olhando muito na minha direção, uns dois ou três metros ali. Ela esta gripada, seu nariz vermelho e as vezes que espirrou enquanto estive ali denunciou isso, ela sai em direção ao banheiro, eu fico ali, mas não consigo terminar o livro. Vou até a sessão de literatura americana e procuro um bukowsky que já havia lido, aquele que começa com uma historia sobre a garota mais linda da cidade, Cass, alias é este o titulo do livrinho não? Cheguei a conclusão que não é muito legal ler bukowsky na biblioteca, as pessoas te olham atravessado. Inclusive a menina que antes me olhava com olhos de amor à primeira vista, agora parece pensar “droga, apenas mais um bebedor de cerveja que acha simpsons genial...” e acho mesmo, embora esteja diminuindo drasticamente o nível de álcool que ando ingerindo.

Está na hora de ir embora, caminho em direção a porta e cruzo pela ultima vez os olhos com os da menina bonita de cabelos curtos e casaco verde, é bem provável que nunca a mais a veja, simplesmente porque não me lembro o suficiente dela para recordar caso a encontre novamente em algum lugar. Acho que vou comprar algum livro do woody allen pra fazer o que faço com sylvia plath, pode ser útil para conhecer, impressionar mulheres, esta lá numa das canções de dylan, tenha sempre a mão algum livro tipicamente feminino pra jogar na cara caso alguém te acuse de machista, isso vale pra Clarisse Lispector é claro.