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A metáfora dos brinquedos.

Até os treze anos me apaixonar por tudo era fácil. Porque esse tudo era Platão agindo sobre mim e bem distante do mundo que viria a conhecer em breve. Muito antes de haver mulheres e dor de cabeça, havia brinquedos e tudo que uma loja de brinquedos poderia ter para nos iludir. Apaixonava-me pela loja Suissa toda vez que olhava para sua vitrine - e nem era uma bonita vitrine. No natal, o desespero aumentava, com a solidão que a data traz aos filhos únicos que são preenchidos de brinquedos, todos aqueles brinquedos que nunca tive e que ando comprando agora para mobiliar a casa.

Embora olhasse para eles com algum carinho e alguma expectativa, não despertavam namoros duradouros como por ex, os Comandos em Ação despertaram. Acho que todo mundo tem o seu brinquedo, aquele certo, aquele que o completará e que será sempre referência para tudo. Quando parei de comprar Comandos - seja soldados ou veículos, a Brinquedos Estrela - já em declínio - parava de fabricá-los, de modo que segui toda a coleção da primeira à ultima série lançada no Brasil, do inicio ao fim da minha infância. Quer dizer que, até hoje, foi o único relacionamento que levei até o fim, até as ultimas conseqüências.

Há tempos, fiz uma pesquisa sobre os brinquedos e descobri que boa parte da série só existia no Brasil. Estrela modificava as pinturas e as montagens, criando outros heróis e vilões - o que finalmente explicava porque haviam dois bonecos com o mesmo rosto (embora em séries especiais lançadas com um ano de diferença) na minha coleção. A inocência de piá do interior me fazia crer que eles eram irmãos gêmeos, um sempre vingava a morte do outro.
Quando ganhei uma guitarra e coincidentemente a estrela parou de fabricar Comandos, a brincadeira acabou, restaram as garotas e as lojas de produtos pirateados do Paraguai.

Acho que querer uma garota é como querer um brinquedo da vitrine: inconscientemente você sempre quer o maior, o que tem mais botões, mais cor, mais mísseis, mais coisas pra olhar, mais coisas para apertar. E sim, o barulho que o brinquedo faz também importa.
Depois do flerte, vem a parte difícil: convencer seus pais a comprar. E logo a gente descobre que convence-los da compra era moleza perto de convencer uma menina de que ela precisa de você para viver. Tarefa difícil, porque por mais que os pais sempre jogassem pesado, argumentassem que você já tinha um brinquedo igual ou era muito caro para eles, acabavam sucumbindo a chantagem. Já as mulheres, a gente nunca sabe se a chantagem funcionou.

São situações como essas que levam você a se perguntar porque sempre se apaixona pelo mesmo tipo de pessoa ou por alguém que está alem do seu alcance. E assim como você desejava o melhor brinquedo, elas também desejavam o melhor brinquedo. E eu sempre estive longe de ser o brinquedo ideal para alguém. E se mesmo assim, alguém, num ataque de loucura, decidisse que eu era um bom brinquedo com selo de qualidade, não raro acabaria sendo uma decepção em um mês ou dois, mais ou menos como um brinquedo quebrado que você sabia que estava quebrado e quis mesmo assim porque estava barato, porque estava na vitrine, porque estava em promoção.
Ou era isso ou era como aquela vez que você comprou um helicóptero de combate super legal e descobriu que no dia seguinte a sua compra, chegou à loja um outro muito mais legal, mais arrojado e ainda vinha com camuflagem de rosto.

outros episódios aqui.